Economia
Alta de importações e redução de oferta ameaçam o setor de leite
Leite importado de países vizinhos tem preço mais competitivo em relação ao nacional, que vem sofrendo com redução da oferta
O setor de leite está enfrentando uma nova crise devido ao aumento das importações de produtos lácteos, segundo informações divulgadas pelo Valor Econômico. A diferença de preços entre a matéria-prima local e a fornecida pela Argentina e Uruguai tem levado ao crescimento das importações, o que deve pressionar as margens do setor a partir do próximo mês.
No primeiro quadrimestre deste ano, o Brasil importou quase 70 mil toneladas de leite e laticínios, mais que o triplo do mesmo período do ano anterior. As importações de manteiga, queijo e coalhada também aumentaram. O CEO da Lactalis para a América Latina, Patrick Sauvageot, alerta que se o consumo não aumentar na mesma proporção, haverá excesso de leite no mercado.
Os consumidores brasileiros estão enfrentando dificuldades para pagar pelo leite nacional devido aos preços atuais, enquanto o leite importado dos vizinhos sul-americanos é significativamente mais barato. A diferença de preço entre o leite nacional e o importado dobrou este ano devido ao aumento dos valores no Brasil. A Argentina e o Uruguai têm vendido leite a preços mais baixos do que o brasileiro. As importações do setor de leite da Argentina aumentaram de 12,6 mil toneladas no quadrimestre de 2022 para 34,6 mil toneladas neste ano, e o Uruguai aumentou os envios de 5,8 mil para 28,7 mil toneladas.
A redução da oferta interna do setor de leite nos últimos dois anos, causada pela estiagem no Brasil e pela alta global dos preços dos grãos, tem contribuído para o aumento das importações de lácteos desde 2015. O setor lácteo brasileiro está enfrentando uma competição acirrada por fornecedores, o que tem afetado os preços. A Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite) estima que existam cerca de 600 mil produtores profissionais no país, e 80 mil deles produzem metade do volume total de leite. A analista Natália Grigol do Cepea destaca que esse cenário atípico tem reflexos nos preços, com uma reversão da tendência usual de queda em janeiro e o risco de queda nos próximos meses.
Diante desse contexto, Patrick Sauvageot, da Lactalis, sugere que o governo intervenha para limitar as importações e evitar uma quebradeira no setor devido a quedas abruptas nos preços. No entanto, Roberto Jank Jr, vice-presidente da Abraleite, e Natália Grigol não acreditam que o governo conseguirá restringir as importações, considerando as implicações comerciais, já que o Brasil também exporta produtos lácteos para a Argentina e Uruguai. O desafio estrutural do setor é aumentar a produtividade do rebanho e a qualidade do leite para competir com outros grandes produtores globais.
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