CEO da Etsy fala do papel da criatividade na batalha contra gigantes do e-commerce

Uma das palestras que mais chamou a atenção dos participantes durante o Web Summit Lisboa ontem, 12, foi a “Breaking through the noise: preserving creativity in a tech-driven world”, com Josh Silverman, CEO da Etsy. A discussão girou em torno de um dilema atual: como preservar a criatividade e a autenticidade em um mundo cada vez mais dominado pela tecnologia e pela produção em massa?

No passado, as lojas precisavam fazer escolhas estratégicas sobre o que ter em estoque. Hoje, plataformas como a Etsy oferecem um “estoque infinito”, graças a uma diversidade de produtos feitos por artesãos de todo o mundo. Segundo Silverman, “agora, com a tecnologia, é possível ter 10 mil resultados relevantes, todos de produtos únicos e originais”.

Esse contraste se torna ainda mais evidente quando comparado a gigantes do fast fashion e do e-commerce, como Temu e Shein. Essas plataformas apostam na rapidez e no baixo custo para atrair consumidores, produzindo mercadorias em massa e a preços acessíveis. Por outro lado, a Etsy se posiciona como uma alternativa para quem busca peças com identidade e história, criadas por pessoas reais, o que é um grande diferencial em um mercado saturado de produtos genéricos. “A Etsy é a alternativa número um para tudo que é Temu”, destacou Silverman.

Para fazer frente a essa concorrência, a Etsy investiu 650 milhões de dólares em um programa de incentivo a criadores, especialmente mulheres que nunca haviam vendido nada online antes. Ao invés de competir em preço e entrega rápida, Silverman acredita que o diferencial está em oferecer algo único, com significado. “Não podemos lutar contra plataformas como Shein e Temu nas mesmas condições, mas podemos investir no nosso diferencial: produtos únicos e artesanais, que carregam um pedaço da personalidade de quem os cria”, afirmou.

Um dos pontos mais interessantes abordados por Silverman foi a motivação por trás da criação da Etsy: ajudar as pessoas a escolherem presentes que realmente façam sentido. De acordo pesquisas feitas pela plataforma, 75% dos homens se sentem inseguros ao comprar presentes para mulheres, e 70% das mulheres não gostam dos presentes que recebem dos homens.”

Criatividade vs Produção em Massa

Silverman também comentou sobre o impacto da produção em massa na experiência do consumidor. “Ninguém quer ter o que todo mundo tem, e é isso que os grandes e-commerces fazem hoje com sua produção em larga escala”, criticou. Ao contrário, a Etsy se orgulha de ser uma plataforma onde os consumidores podem encontrar peças únicas, de designers espalhados pelo mundo, que não são encontradas em qualquer outro lugar.

Embora a Inteligência Artificial (IA) tenha se tornado um tema central nas discussões sobre o futuro do varejo, Silverman acredita que a competição sempre existiu e que é necessário saber usar a IA a favor dos negócios. Antes, a visibilidade dos produtos na Etsy dependia de estratégias de SEO (Search Engine Optimization). Agora, com a ajuda da IA, a experiência do usuário é otimizada com base nas avaliações e no feedback dos clientes, o que melhora as recomendações e aumenta as chances de um produto encontrar o público certo.

Silverman destacou ainda a importância de os vendedores da Etsy usarem vídeos para mostrar seus produtos e o processo de produção. “Mostrar como algo é feito ajuda a criar uma conexão mais forte com o cliente e destaca o valor do trabalho artesanal”, aconselhou.

Em um mundo saturado por produtos genéricos e de rápida produção, o caminho para o sucesso está em apostar na autenticidade e na criatividade. A batalha entre plataformas como Etsy e gigantes do e-commerce é mais do que uma simples competição de preços e logística; é uma disputa por valores, autenticidade e a preservação do toque humano em um mundo hiperconectado e orientado pela tecnologia.

Imagens e informações: Amanda Dechen, Community Manager do Pecege e Hostess do MBA USP/Esalq.