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Tarifas são o mais recente teste para os já sobrecarregados consumidores dos EUA

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A guerra comercial em escalada entre os Estados Unidos e mais de 180 outros países, que tiveram suas tarifas reduzidas recentemente, pode estar levando os consumidores americanos ao limite da paciência.

“Já estão ocorrendo mudanças dinâmicas no consumo entre diferentes grupos de consumidores e segmentos do varejo”, afirmou Marshal Cohen, principal conselheiro da indústria de varejo da Circana, em comunicado. “O consumidor está em estado de confusão, tentando entender como priorizar suas compras em um ambiente de mudanças significativas.”

Diversos países retaliaram a uma série de novas tarifas impostas pela administração Trump com tarifas próprias, o que ameaça aumentar os preços de uma ampla gama de produtos, incluindo roupas e calçados, eletrônicos, móveis e alimentos. No entanto, segundo um relatório divulgado na segunda-feira pela Circana, não são apenas as tarifas que estão alimentando a incerteza que atormenta os consumidores dos EUA. Preços altos, aumento do endividamento, preocupações entre consumidores hispânicos com a repressão à imigração, eventos climáticos extremos e desastres naturais também estão desorganizando os padrões de consumo.

A inflação, que já pressionava os orçamentos das famílias, deve sofrer uma nova alta, já que o objetivo das tarifas é, justamente, elevar os preços e tornar certos bens menos acessíveis, afirmaram economistas do Wells Fargo liderados por Tim Quinlan em nota divulgada na sexta-feira. Segundo os modelos do banco, o aumento de 20 pontos percentuais nas tarifas anunciado em 2 de abril elevará a taxa de inflação do consumo pessoal em 1,8 ponto percentual além da previsão base — e o impacto será ainda maior sobre a inflação subjacente.

“No cerne das tarifas está o esforço de aumentar preços para alcançar diversos objetivos políticos (por exemplo, maior produção doméstica, vantagem em negociações, arrecadação tributária)”, afirmou Quinlan. “As tarifas anunciadas em 2 de abril estão prontas para fazer exatamente isso — e em grande escala.”

Segundo os economistas, isso pode reduzir ainda mais o poder de compra do consumidor e/ou os lucros das empresas, além de minar investimentos e contratações.

“Assumindo que as tarifas aumentem conforme o proposto e permaneçam em vigor até 2026, o crescimento real do PIB estagnaria no segundo trimestre e se tornaria negativo no terceiro, evidenciando o risco elevado de recessão”, disse Quinlan.

Na semana passada, a NRF alertou para um crescimento mais fraco do PIB e “uma trajetória mais lenta para os gastos do consumidor”, em grande parte devido à incerteza em torno das tarifas e seus efeitos. A entidade prevê que as vendas no varejo cresçam este ano entre 2,7% e 3,7%, atingindo de US$ 5,4 trilhões a US$ 5,5 trilhões. Algumas das forças mencionadas, como eventos climáticos, afetam regiões específicas, enquanto, no caso dos consumidores hispânicos, os efeitos são direcionados a determinados grupos. Pela primeira vez em dois anos, a demanda entre consumidores hispânicos está abaixo da dos não hispânicos, segundo a Circana — um fenômeno já notado por varejistas do segmento off-price.

De forma geral, desde 2020, com o aumento dos preços de itens essenciais superando o crescimento dos salários, o impacto sobre a demanda por bens não essenciais tem sido “notável”, informou a Circana. Em 2023, por exemplo, os preços médios de mercadorias gerais atingiram um pico 25% acima dos níveis de 2019, o que reduziu a demanda em até 9%. No quarto trimestre, o aumento médio de preços foi de 17%, enquanto a demanda por unidades caiu 7%. Essa mudança também levou os consumidores a buscar opções mais acessíveis, como marcas próprias e varejo off-price.

As previsões de lucros para o ano não consideraram amplamente o enfraquecimento da economia dos EUA devido à redução do tamanho do governo federal promovida pela administração Trump e à repressão à imigração, segundo nota do UBS Global Research liderada por Bhanu Baweja, que considera a imigração e os estímulos fiscais como “dois grandes pilares de sustentação do crescimento” nos últimos três a quatro anos.

As tarifas, portanto, chegam “em um momento em que a economia já dá sinais de desaceleração: o consumidor americano já mostrava claros sinais de esgotamento”, afirmou o UBS.

Imagem: Reprodução/Retail Dive
Informações: Daphne Howland para Retail Dive
Tradução livre: Central do Varejo

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