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Conflito é sinônimo de Judicialização?
No desgaste da relação franqueador e franqueado, é comum ouvirmos a mesma história, mas sob pontos de vista diversos
Cada vez mais assistimos rompimentos de relações de franquia, de uma forma desastrosa e pouco pacífica. Seja por intolerância ou imediatismo, o que ocorre na realidade é uma falta de consciência, na maioria das vezes, de que os conflitos são fenômenos naturais dos seres vivos, e apenas por meio deles seremos capazes de refletir, aprimorar e evoluir como seres humanos, para proporcionar mudanças e resultados positivos nas nossas vidas.
Partindo daí, cientes de que todo relacionamento terá seus momentos de discordâncias e desentendimentos, como podemos adotar hábitos e atitudes que facilitem o desenrolar desse emaranhamento de emoções e sentimentos, para encontrarmos um caminho único e adequado para manter o relacionamento?
Horas de voo ajudam, mas o reconhecimento da dupla existência da verdade atribui um significado importante ao conflito. O poema de Fernando Pessoa, que recomendo muito a leitura, fala exatamente sobre isso: duas visões corretas sobre o mesmo fato, mas sob óticas diferentes. Ou seja, as duas faces da verdade!
E quando procuramos compreender isso pela ótica do Franchising, como um sistema de gestão de pessoas, percebemos que no desgaste da relação franqueador e franqueado, ouvimos a mesma história, mas sob pontos de vista diversos. Humanos que são, possuem diferentes percepções dos fatos, acompanhadas de emoções e sentimentos próprios.
E, ainda, não preparados e cientes de que o diálogo pode ser o melhor caminho, uma vez que as melhores soluções estão sempre dentro de casa e não fora, a situação ainda piora por não existir uma cultura de negociação na rede, que propicie um ambiente favorável à conversas e compreensão da verdade de cada um, reconhecendo que ambas tinham razão em seus pontos – afinal, ninguém está 100% certo em 100% do tempo.
Para isso, é preciso ter paciência, empatia e energia para praticar uma escuta cuidadosa e uma comunicação fluida. Ocorre que, não se optando por este caminho, que provavelmente é mais espinhoso e duro, a decisão de terceirizar o conflito para a Justiça Comum, passa a ser uma postura recorrente da marca, que a incorpora culturalmente ao seu sistema de franquia. E, a partir daí, abrindo mão do seu empoderamento pessoal para decidir o conflito, confia ao Judiciário, onde não existe o reconhecimento da dupla existência da verdade.
Quem perde a ação acha que a decisão foi injusta, quem ganha, também, pois deveria ter ganho ainda mais. E, assim, todo mundo sai perdendo, inclusive a própria imagem institucional do Franchising. Mas, temos uma boa notícia!!! Existem alternativas para mudar esse ciclo vicioso e elas estão ao alcance de todos. É apenas uma questão de mudança de atitude e olhar para o próprio conflito.
Melitha Novoa Prado é sócia-fundadora da Novoa Prado Advogados, consultora jurídica e mediadora nas áreas de varejo e franchising.
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