Operação
Cade aprova compra da Wickbold pela Bimbo com restrições

O Tribunal do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou, com restrições, a compra pela Bimbo do Brasil do negócio de produção e comercialização de produtos de panificação do Grupo Wickbold. A decisão, unânime, obriga a Bimbo a vender a marca Nutrella, de pães de forma, e a Wickbold, a Tá Pronto, de tortilhas, entre outras medidas.
Segundo o Cade, as exigências fazem parte de um acordo em controle de concentração (ACC) firmado entre as empresas e o órgão, após a análise técnica indicar riscos concorrenciais. Além da venda de ativos, foram impostas restrições comportamentais no mercado de bisnagas e bisnaguinhas na região Centro-Oeste. Durante três anos, ficam proibidos contratos de exclusividade, exigência de espaços específicos em gôndolas, cláusulas de vendas mínimas e acordos de capitania de categoria. Também será designado um “trustee” independente para monitorar o processo até a transferência dos ativos.
As duas empresas atuam na panificação industrial, com presença no varejo e no segmento de food service, que inclui restaurantes, redes de fast food, hotéis e hospitais. A Bimbo é proprietária de marcas como Pullman e Ana Maria, enquanto a Wickbold tem presença consolidada no setor. A Pandurata Alimentos, dona da Bauducco, se inscreveu como terceira interessada no processo.
Na primeira análise, a Superintendência-Geral do Cade havia aprovado a operação com recomendação de ajustes, incluindo revisão de cláusulas de não concorrência e possibilidade de desinvestimento em plantas, centros de distribuição, lojas próprias, marcas e contratos. O parecer técnico concluiu que a concentração gerava preocupações especialmente nos segmentos de pães de forma com grãos, bisnaguinhas e tortilhas, em âmbito nacional e regional.
Durante a leitura do voto, a relatora, conselheira Camila Cabral, afirmou que o pão industrializado é “um item essencial no consumo das famílias” e que foi necessário avaliar o grau de substituição entre produtos para medir a rivalidade no setor. Ela destacou que, após a operação, a participação da Bimbo superaria 90% no mercado de tortilhas em todas as regiões, variaria de 50% a 80% em pães de forma com grãos e passaria de 60% em bisnagas e bisnaguinhas no Centro-Oeste.
Segundo a relatora, os consumidores de pães integrais e com grãos tendem a ser mais fiéis às marcas, o que poderia limitar a concorrência. Já no mercado de tortilhas, a ausência de competidores foi considerada preocupante para o risco de aumento de preços. “Os remédios se mostram suficientes para mitigar de formas efetivas as preocupações verificadas no mercado de pães industrializados”, disse Cabral.
Imagem: Reprodução