NRF Paris 2025
Como a IA está redefinindo as cadeias de suprimentos

O painel “How is AI redefining the supply chain?”, realizado na NRF Europe, reuniu executivos de diferentes setores para debater como a inteligência artificial está transformando o planejamento, a eficiência e a resiliência das cadeias de suprimentos. A sessão foi mediada por Renee Hartmann, da ReThink Retail, e contou com a participação de Hélène Chaplain (Pernod Ricard), Maksym Tipukhov (Fozzy Group) e Marcello Pace (Scarpe&Scarpe).

Complexidade e tradição no setor de bebidas
Hélène Chaplain, Global CIO da Pernod Ricard, destacou que o supply chain é uma das áreas mais complexas da companhia, que opera com 240 marcas em mais de 100 mercados. No setor de destilados, a cadeia pode se estender por décadas, já que alguns produtos permanecem em envelhecimento por 10, 15 ou até 20 anos.
Para lidar com essa complexidade, a Pernod Ricard tem utilizado IA em previsões de demanda e planejamento de produção, equilibrando o legado de marcas seculares com a necessidade de eficiência e sustentabilidade. Chaplain ressaltou que a próxima fronteira será o uso de robótica em processos de engarrafamento e manufatura, não para substituir pessoas, mas para apoiar equipes e ampliar a capacidade produtiva.

Resiliência em tempos de guerra
Maksym Tipukhov, diretor de desenvolvimento comercial e logístico da Fozzy Group, relatou a experiência de operar a segunda maior rede de supermercados da Ucrânia em meio à guerra. A companhia conta com cerca de 1.000 lojas e um faturamento de US$ 4 bilhões, e foi pioneira no país na implantação de IA para previsão de demanda e planejamento de suprimentos.
Segundo Tipukhov, a tecnologia trouxe ganhos de eficiência significativos, como a redução pela metade do custo por entrega em e-commerce desde 2021. No entanto, ele alertou para a importância de ter planos de contingência (Plan B e até Plan C), considerando riscos como ciberataques, falhas de sistema e interrupções de infraestrutura. “A IA é poderosa, mas as empresas precisam estar preparadas para cenários em que a tecnologia não esteja disponível”, afirmou.
Do design à eficiência no varejo de calçados
Marcello Pace, CEO da rede italiana Scarpe&Scarpe, explicou que a adoção de IA exigiu uma mudança cultural profunda. Tradicionalmente, os compradores decidiam os volumes de estoque com base em critérios estéticos e de design. Com a introdução de sistemas de previsão e otimização de preços, a empresa passou a gerir as cadeias de suprimentos de forma mais científica.
Pace destacou que a IA trouxe avanços relevantes em gestão de preços, promoções e markdowns, permitindo cruzar dezenas de variáveis ao mesmo tempo. Em alguns casos, os resultados iniciais foram contraintuitivos para os especialistas humanos, mas se mostraram corretos e lucrativos. “No começo, tivemos que impor a mudança. Só depois que os resultados apareceram, a equipe começou a aceitar e até desafiar a IA com novas ideias”, disse.
Lições comuns: tecnologia e pessoas lado a lado
Apesar das diferenças setoriais, os executivos convergiram em alguns pontos:
- A IA é um habilitador estratégico, mas precisa ser aplicada em casos de uso práticos, ligados a ROI claro.
- Mudança cultural é essencial: a adoção exige treinamento e adaptação de equipes.
- Resiliência é prioridade: planos de contingência e mitigação de riscos são indispensáveis.
- Sustentabilidade e eficiência caminham juntas, seja na redução de emissões em transporte ou no uso mais inteligente de insumos.
O painel concluiu que o futuro das cadeias de suprimentos será marcado pela combinação de dados, IA, robótica e capital humano, criando operações mais ágeis e resilientes diante de choques globais.
Imagens: José Fugice