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Economia circular em bens de consumo: o caminho para reduzir custos e gerar inovação

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indústria da moda; consumo

O mercado global de economia circular foi avaliado em US$ 554,5 bilhões em 2023 e deve alcançar US$ 1,9 trilhão até 2033, avançando a uma taxa composta de 13,1% ao ano, segundo estudo da Spherical Insights. No Brasil, porém, a circularidade ainda engatinha: apenas 4% dos resíduos sólidos são efetivamente reciclados, de acordo com levantamento da Abrelpe com dados do SNIS, índice que sobe para 8,3% quando se considera a coleta informal e o envio direto de materiais a recicladoras. Essa disparidade não apenas evidencia uma lacuna de infraestrutura e gestão de resíduos, mas também revela uma oportunidade para empresas de bens de consumo transformarem passivos ambientais em ativos estratégicos.

Ao projetar produtos com durabilidade estendida e utilizar insumos reciclados, as companhias reduzem sua exposição à volatilidade dos preços de commodities e minimizam a dependência de matéria-prima virgem. Dados do Sindiplast mostram que, apesar de 25,6% dos resíduos plásticos pós-consumo já serem reciclados no Brasil, esse resultado concentra-se em nichos restritos. De modo semelhante, pesquisa da PwC aponta que 80% dos consumidores estão dispostos a pagar até 9,7% a mais por produtos considerados sustentáveis. Esses números reforçam que, além de ganhos operacionais, uma estratégia de circularidade bem comunicada agrega valor de marca e atrai públicos que priorizam escolhas alinhadas a princípios socioambientais.

O arcabouço regulatório brasileiro avança com o Plano Nacional de Economia Circular e a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que instituíram a responsabilidade estendida do produtor e estabeleceram metas para a próxima década. Para que esses instrumentos transcendam o papel de normativos, é indispensável fortalecer a coleta seletiva e a infraestrutura de triagem municipal. Paralelamente, ajustes nos incentivos tributários — como isenções ou créditos fiscais para materiais recicláveis — podem equilibrar a competitividade frente às matérias-primas convencionais.

No plano das ações concretas, a experiência da Elgin ilustra como as empresas podem dar o primeiro passo sem cair em autopromoção. Por meio do programa “Green Recicla Pilha”, a empresa ampliou sua rede de coleta para mais de 10 mil pontos distribuídos em todo o país, o que elevou em cerca de 5% ao ano o volume de pilhas e baterias destinadas à reciclagem. Essa iniciativa, conduzida em parceria com a Green Eletron, demonstra que métricas simples — número de pontos de coleta e crescimento anual da massa coletada — podem orientar planos de expansão e engajar consumidores.

Ainda que existam casos de sucesso, três desafios se mostram cruciais: superar gargalos logísticos na cadeia reversa, consolidar métricas padronizadas de circularidade (percentual de material reciclado, toneladas de resíduos desviadas de aterros e redução de emissões de CO₂) e consolidar uma cultura interna e externa de valorização da reparabilidade e do reuso. Evitar a armadilha do “greenwashing” passa pela transparência na divulgação desses indicadores, que devem ser auditáveis e comparáveis.

Se o setor de bens de consumo brasileiro almeja se tornar referência em circularidade, é imperativo que lideranças empresariais arquem com compromissos públicos até 2030, implementem — já em 2025 — projetos-piloto de design modular e ampliem processos de logística reversa, reportando trimestralmente seus resultados. Somente por meio desse rigor e da colaboração entre indústria, governo e sociedade será possível converter o desafio da economia circular em fonte sustentável de eficiência, inovação e vantagem competitiva.


*Por Marcel Serafim, Diretor Executivo de Bens de Consumo da Elgin

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