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Efeito Ozempic muda consumo de roupas nos EUA

Jennifer Johnson, fundadora da True Fashionistas, a maior revendedora de roupas da Flórida, começou a notar algo incomum há cerca de um ano. De repente, tamanhos grandes, antes difíceis de encontrar, começaram a aparecer com mais frequência nos lotes de roupas recebidos para revenda. Desde então, o fluxo se transformou em enxurrada.
Johnson disse que, historicamente, sua loja estava sobrecarregada de peças extra pequenas e pequenas.
“Sempre quisemos os tamanhos maiores porque eram populares — no minuto em que chegavam, vendiam imediatamente”, disse Johnson. “Agora isso se inverteu completamente. Hoje nossa área de extra pequeno é menor do que a de extra grande”, acrescentou.
Ela afirma acompanhar de perto seus números de revenda e que a loja, localizada em Naples, Flórida, é reorganizada de acordo com o estoque que chega. Com cada vez mais pessoas deixando de lado os tamanhos maiores, a loja precisou ser reorganizada várias vezes.
Pelo país, empreendedores do setor de revenda também estão observando essa mudança, que eles chamam de “efeito Ozempic”.
Em Kansas City, Janet Curran, dona da loja Do Good Co., que beneficia duas instituições de caridade locais, disse que seu negócio está crescendo justamente por causa do efeito Ozempic. “Notamos uma mudança real nos padrões de doação e nas necessidades dos clientes desde que mais pessoas começaram a usar medicamentos para perda de peso. Houve aumento da demanda por tamanhos menores e maior rotatividade, já que os clientes passam por diferentes estágios”, afirmou Curran.
Uma pesquisa da Rand divulgada no início deste ano mostrou que 11,8% dos adultos nos EUA relataram ter usado medicamentos GLP-1, enquanto outros 14% demonstraram interesse em usá-los. Até agora, no entanto, é difícil encontrar evidências de que varejistas ou fabricantes de roupas estejam reduzindo a produção de tamanhos grandes. Walmart e Levi Strauss, por exemplo, não comentaram o assunto.
Remédios GLP-1 estão deslocando a faixa de tamanhos maiores no varejo
Avneet Singh, fundador da linha de roupas masculinas Regent Row, voltada para homens grandes e altos e vendida online por redes como Nordstrom e Macy’s, afirma que mudanças estão em curso.
“Os varejistas estão colocando menos tamanhos estendidos nas araras. Você vê faixas de tamanhos mais limitadas nas lojas e mais etiquetas de ‘somente online’ a partir do 2XL”, disse Singh.
Ele acrescenta que, embora a popularidade dos GLP-1 esteja provocando uma mudança de tamanho, a maior parte dessa alteração ainda ocorre dentro da faixa dos grandes tamanhos. A Regent Row só fabrica a partir do XL.
“Com os GLP-1, vemos a curva de tamanhos se mover para a esquerda — homens que vestiam 5–6XL estão migrando para 3–4XL”, afirmou, ressaltando que isso não elimina a demanda por tamanhos inclusivos. “Apenas muda onde essa demanda se concentra.”
Singh também destaca que, embora os GLP-1 reduzam peso, não reduzem altura. “O fator altura continua sendo crítico mesmo quando a cintura diminui. Ignorar os tamanhos Tall é dizer a um grande grupo de clientes que eles são secundários”, disse.
Ex-comprador do Walmart e da Zappos, Singh acredita que os clientes devem esperar menos tamanhos estendidos nas lojas físicas e maior disponibilidade online. Para ele, mesmo que a demanda tenha caído, ainda é suficiente para justificar a oferta, mas muitas grandes marcas preferem terceirizar a produção de tamanhos grandes em vez de fabricá-los sob seus próprios rótulos.
“Muitos varejistas não querem assumir o risco sozinhos, então pedem que nós façamos os 5XLs e 6XLs — esse private label desapareceu para os tamanhos maiores”, disse.
Para sua marca, os 5XLs e 6XLs continuam sendo os mais vendidos, mas a demanda por 3XLs e 4XLs vem crescendo conforme os consumidores diminuem de tamanho.
“A altura e a composição corporal continuam as mesmas. Se você é alto, continuará sendo alto. Estamos vendo pessoas passando de 160 para 145 quilos”, disse.
Segmento plus size continua pouco atendido
Mallorie Dunn, professora adjunta do Fashion Institute of Technology e dona da SmartGlamour, marca que oferece do menor ao maior tamanho, teme que o varejo de moda tire conclusões precipitadas. Ela afirma que o segmento plus size já era mal atendido antes mesmo do surgimento dos GLP-1 e pode continuar sendo.
“Varejistas e fabricantes não devem, de forma alguma, produzir menos roupas plus size por causa dos GLP-1. Os clientes plus size já são extremamente negligenciados — eles precisam de mais opções, não menos”, disse Dunn.
Ela destacou que diversos estudos apontam que a maioria dos consumidores norte-americanos — entre 68% e 72% — veste tamanhos grandes, mas esse segmento representa apenas 12% a 18% da receita.
“Mesmo que os GLP-1 reduzissem significativamente o número de consumidores plus size, ainda estaríamos longe de uma superprodução de roupas nesse segmento”, acrescentou.
Kara Richardson Whitely, fundadora da Gorgeous Agency, que ajuda marcas a se conectar com clientes plus size, reforça que empresas que abandonam esse público estão perdendo oportunidades e “deixando dinheiro na mesa”.
“O simples fato de esses remédios existirem não significa que pessoas gordas deixaram de existir”, disse Richardson Whitely.
Autora do livro Gorge: My Journey Up Kilimanjaro at 300 Pounds, que será adaptado para o cinema com produção e atuação de Chrissy Metz, da série This Is Us, Whitely ressaltou: “Embora haja uma mudança nos tamanhos, ainda existe um mercado plus size.”
Remédios para emagrecimento ainda são um luxo para muitos
Segundo Marty Bauer, diretor de e-commerce da plataforma Omnisend, para muitos norte-americanos esses medicamentos continuam sendo um luxo. Até que haja uma grande redução de preços, a adoção em massa necessária para remodelar toda a indústria da moda dificilmente acontecerá.
Esses remédios podem se tornar mais acessíveis à medida que o governo Trump pressiona fabricantes a reduzirem os preços. Além disso, as farmacêuticas buscam ampliar sua fatia de mercado após o auge inicial das vendas.
A Novo Nordisk anunciou recentemente cortes de preço no Ozempic, oferecendo o medicamento a pacientes que pagam em dinheiro por menos da metade do valor da tabela mensal em várias plataformas. Já a Eli Lilly vem ampliando as opções de distribuição do Zepbound, seu medicamento para emagrecimento, e prepara o lançamento de uma versão em pílula, sem agulhas, que pode acelerar ainda mais a adesão.
“Para os fabricantes, as perspectivas realmente dependem da estabilidade da demanda. Se as vendas começarem a cair, a produção pode desacelerar, e isso pode elevar os preços, já que lotes menores geralmente são mais caros de produzir”, disse Bauer.
Enquanto isso, de volta à loja de Jennifer Johnson, ela observa com curiosidade sua posição na linha de frente da onda dos GLP-1. “Ainda estamos nos estágios iniciais de como isso vai afetar as pessoas à medida que envelhecem e continuam usando o medicamento. Quando isso se revelar, teremos a resposta”, afirmou.
Com base em sua própria pesquisa em lojas de shopping de grandes marcas, ela já nota algumas mudanças nas araras: “Os tamanhos grandes estão todos na liquidação”, disse Johnson.
Imagem: Freepik
Informações: Kevin Williams para CNBC
Tradução livre: Central do Varejo