Colunistas
Entre juros, dívidas e plataformas digitais: o cenário desafiador para lojistas de Shoppings em 2025

O varejo brasileiro enfrenta um cenário desafiador em 2025, especialmente dentro dos Shopping Centers. Com a Selic em 15%, inadimplência em alta, inflação persistente, aumento do consumo nas plataformas asiáticas e o crescimento desenfreado das apostas online, lojistas — especialmente os de menor porte, como os satélites — precisam lidar com margens cada vez mais apertadas e consumidores com poder de compra reduzido.
A combinação de inflação elevada e juros altos tem afetado diretamente o varejo de shopping, criando um dos cenários mais difíceis dos últimos anos. “Com custos em alta, crédito mais difícil e mudanças no comportamento do consumidor, lojistas enfrentam dificuldades para manter margens e veem o público com cada vez menos capacidade de efetivar as compras”, explica Mauro Francis, presidente a ABLOS (Associação Brasileira dos Lojistas Satélites de Shoppings).
Além disso, medidas recentes no cenário internacional, como o anúncio de tarifas por parte dos Estados Unidos sobre produtos importados, ampliam o clima de incerteza econômica global, o que também afeta o planejamento do varejo brasileiro, já pressionado por diversos fatores internos.
Os efeitos da alta da Selic, que vem subindo desde meados de 2024, já são percebidos no mercado. Para o consumidor, o crédito ficou mais caro e restrito. Para os empresários, o maior impacto está na antecipação de recebíveis e na gestão do fluxo de caixa. A taxa média para antecipação de cartão de crédito já se aproxima dos 20% ao ano, o que compromete significativamente a margem dos lojistas.
Segundo Mauro, o atual ambiente econômico pressiona o setor em diversas frentes. “Os juros altos afetam diretamente o empreendedorismo. O crédito fica escasso e mais caro, e as taxas de antecipação de cartão de crédito parcelado corroem ainda mais as margens, que já são muito estreitas no varejo físico”, explica.
Além do crédito restrito, o aumento no custo de vida e o endividamento das famílias têm contribuído para a queda nas vendas, especialmente entre as classes média e baixa, tradicionalmente responsáveis por boa parte do consumo. “A classe média, praticamente extinta, sempre foi o pilar do comércio. Hoje, ela consome menos e afeta diretamente o faturamento das lojas. A inflação não pode ser repassada totalmente aos preços, o que diminui ainda mais a rentabilidade do lojista, já pressionado por uma concorrência agressiva do e-commerce estrangeiro”, completa.
As plataformas asiáticas seguem ampliando sua presença no varejo brasileiro e já ocupam uma posição estratégica no setor. De acordo com pesquisa da Conversion sobre o setor de E-commerce no Brasil, essas plataformas já respondem por 15,4% das vendas digitais no país, refletindo o alto volume de acessos e o crescente interesse dos consumidores brasileiros por esse tipo de canal. O segmento se mostra cada vez mais consolidado e competitivo no mercado nacional, o que também afeta o consumo em lojas físicas.
Mas o que mais tem preocupado a ABLOS é o avanço das apostas online — as chamadas bets. O fenômeno tem desviado parte significativa da renda disponível dos brasileiros e, segundo Francis, já causa efeitos colaterais graves no consumo e no equilíbrio financeiro das famílias. “As bets são hoje a maior vilã da perda de renda no país. Bilhões de reais são gastos mensalmente, inclusive com dinheiro proveniente de programas sociais como o Bolsa Família. É um colapso silencioso”, alerta.
A Entidade tem atuado junto ao governo para exigir regulamentação mais rígida, especialmente no que diz respeito à publicidade das casas de apostas e ao acesso de menores de idade. “O Estado precisa assumir um papel mais firme no controle desse mercado, para evitar que o problema fuja totalmente do controle e aprofunde ainda mais o endividamento da população”, afirma Francis.
Em meio a tantos desafios, os lojistas satélites seguem buscando formas de manter suas operações e sobreviver em um ambiente hostil. “As vendas nominais são mais altas, mas, ao descontar a inflação, caem pela metade. O setor precisa de medidas urgentes que garantam acesso a crédito, estímulo ao consumo e equilíbrio nas regras de concorrência. Sem isso, muitos negócios não vão resistir ao restante do ano”, conclui o presidente da ABLOS.
Imagem: Envato
(*) Mauro Francis, Presidente da ABLOS – Associação Brasileira dos Lojistas Satélites de Shoppings