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Inteligência Artificial na Black Friday: como otimizar o varejo e blindar a margem

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First Insight; artificial; IA; varejo

A Black Friday já não é mais o pico de vendas isolado que conhecemos; ela se transformou em um teste de estresse contínuo na capacidade tecnológica e estratégica do varejo. O sucesso neste período não é mais medido apenas pelo volume bruto de transações, mas pela eficiência operacional e pela margem de lucro que se consegue proteger em meio à concorrência brutal. 

Observamos que o modelo tradicional, baseado em descontos massivos e tráfego pago inflacionado, atingiu seu limite de rentabilidade. Em um cenário onde o Custo por Clique (CPC) explode e o consumidor está mais cético devido às fraudes e inconsistências, a única forma de garantir a saúde financeira da operação é por meio da Inteligência Artificial (IA), que se posiciona não como uma ferramenta de marketing, mas como o motor central da otimização de supply e da precificação.

Este é o contexto que torna a inação um risco inaceitável. A despeito da urgência, o mercado brasileiro ainda está em estágios iniciais. Pesquisas do Google mostram que apenas 14% das empresas estão nos estágios mais avançados de uso de IA para impulsionar vendas na Black Friday. Este dado aponta para uma vantagem competitiva brutal e concentrada que os players mais maduros irão capitalizar. O custo de não adotar a IA é a ineficiência: é perder o melhor preço, não otimizar o estoque e, consequentemente, sacrificar a margem para tentar competir com o volume. O varejo precisa entender que a IA é a única tecnologia capaz de processar a “maçaroca de dados” de milhões de transações em tempo real, realizando o sonho da personalização um a um que o cliente exige, sem sobrecarregar a estrutura humana.

Portanto, o cerne do desafio da Black Friday de hoje não é tecnológico, é estratégico: como transformar o alto volume de intenção de compra em receita qualificada e fidelização? A IA se torna crucial ao atacar as áreas que mais drenam a rentabilidade do varejo. O crescimento e a segurança caminham lado a lado, e a Inteligência Artificial é a chave para blindar sua operação contra os riscos e garantir que a Black Friday de sua empresa seja, de fato, o evento mais lucrativo do ano.

O triângulo da eficiência: precificação, estoque e fraude

O verdadeiro valor da IA na Black Friday se manifesta na otimização dos pilares que controlam a margem e o custo de capital. A IA não apenas executa; ela antecipa as flutuações do mercado e o comportamento da concorrência. Algoritmos avançados de machine learning analisam milhões de variáveis, demanda, estoque, preços da concorrência e comportamento histórico, em tempo real. Este nível de processamento garante que o preço seja otimizado no momento exato, maximizando o valor percebido sem desvalorizar o produto, garantindo que o preço seja dinâmico e cirúrgico.

A Precificação Dinâmica é o caso de uso mais evidente da IA. No passado, o processo era manual e lento, perdendo oportunidades a cada hora. Hoje, grandes players já utilizam a IA para ajustar 80% dos preços digitais automaticamente, gerando um aumento médio de 5% a 15% nas margens de lucro (IAAZ.ai). Essa capacidade de resposta instantânea, que o olho humano jamais conseguiria replicar, é o que permite ao varejista ser agressivo quando necessário e proteger o lucro quando a demanda é alta.

Outro pilar crucial é a Otimização de Estoque e Supply Chain. A IA generativa e os algoritmos preditivos transformam a gestão de estoque ao analisar tendências sazonais e comportamentais para prever a demanda com precisão. Para a Black Friday, isso é fundamental para reduzir a chance de ruptura de estoque (produto esgotado, que leva à perda de venda e reputação) ou excesso de estoque (capital parado e custo de manutenção). O e-commerce ganha a capacidade de alinhamento com a retaguarda que o modelo tradicional nunca teve.

Por fim, a Blindagem Contra Fraudes é um imperativo ético e financeiro. A alta demanda atrai um volume igualmente alto de tentativas de golpes. Empresas como a ClearSale relataram mais de 400 tentativas de fraude por hora em edições passadas. Sistemas avançados de IA e machine learning monitoram mais de 5 mil variáveis em tempo real, identificando e coibindo comportamentos suspeitos. A IA não só garante o lucro, mas também protege a reputação e a confiança do consumidor, que está mais cauteloso do que nunca devido ao aumento de golpes utilizando IA.

O Papel da IA na experiência do cliente e na conversão

A IA é o que finalmente torna a personalização em escala uma realidade rentável. O e-commerce moderno não sobrevive sem a capacidade de tratar milhões de clientes como indivíduos únicos. A Amazon é um caso emblemático, pois gera mais de 30% de suas vendas a partir de recomendações inteligentes. Essa lógica já está acessível a varejistas de diferentes portes por meio de plataformas que utilizam a IA para:

Primeiro, a Personalização de Ofertas. Algoritmos analisam dados de navegação, histórico de compras e preferências para sugerir produtos em tempo real, desde a homepage até o checkout. Isso maximiza o ticket médio através de cross-sell e upsell assertivos. Segundo, a Criação de Conteúdo Dinâmico. Ferramentas de IA generativa auxiliam na criação de copy de produtos e mensagens de marketing personalizadas, ajustando o tom e o conteúdo para diferentes segmentos de público, o que economiza tempo e aumenta a taxa de engajamento nas campanhas pré-Black Friday.

Além disso, a IA transforma o Atendimento ao Cliente. O alto volume de interações na Black Friday é um desafio que pode sobrecarregar o time humano. A IA, por meio de chatbots e assistentes virtuais inteligentes, pode assumir tarefas repetitivas, como verificar o status de pedidos e responder a dúvidas frequentes, liberando os atendentes humanos para resolver questões mais complexas. Essa agilidade e a resposta 24/7 mitigam a ansiedade do consumidor e melhoram a experiência de compra, que é um fator crítico para a fidelização.

A IA de Voz também surge como um diferencial estratégico. Pesquisas indicam que 67% dos consumidores brasileiros ainda preferem falar ao telefone e que agentes de IA por voz podem melhorar essa experiência de atendimento. Para a Black Friday, isso representa uma forma eficaz de escalar o suporte sem comprometer a qualidade ou aumentar drasticamente os custos com equipes temporárias.

Otimização de mídia paga e estratégia de segmentação

O ROI (Retorno sobre o Investimento) em mídia é diretamente impactado pela IA, especialmente quando o custo de CPC e CPM dispara na Black Friday. A IA atua em duas frentes: otimização de bidding e segmentação de público. Ferramentas de Machine Learning aplicadas a plataformas como Google Ads e Meta Ads já conseguem:

  1. Ajustar lances automaticamente: com base na probabilidade de conversão do usuário em tempo real, a IA garante que o budget seja gasto de forma mais eficiente, evitando o desperdício em audiências de baixa qualidade.
  2. Testar criativos em escala: a IA generativa pode criar variações de anúncios (copy, imagens, vídeos) em larga escala para identificar rapidamente quais formatos performam melhor, garantindo que o branding e a performance trabalhem juntos para capturar a atenção do consumidor.

A segmentação preditiva é a chave para o sucesso em mídia. A IA analisa o histórico de compras e o comportamento para identificar o público com maior propensão a converter, permitindo que as marcas ofereçam descontos exclusivos para clientes fiéis ou atraiam novos clientes com ofertas cirúrgicas. Essa precisão na segmentação reduz o custo de aquisição e garante um ROAS mais saudável.

A estratégia de preparação e os desafios culturais

O fascínio pela IA não deve ofuscar a necessidade de fazer o básico bem feito. O maior desafio para o varejo que adota a IA é, frequentemente, a qualidade dos dados. Cerca de 47% dos líderes mencionam problemas relacionados à coleta e manutenção de dados relevantes e consistentes, e 56% relatam dificuldade em encontrar profissionais qualificados para implementar e gerenciar soluções de IA (KPMG).

Portanto, o investimento em IA precisa ser acompanhado de uma transformação cultural e técnica:

  • Infraestrutura de dados: é mandatório revisar e limpar a base de dados de clientes, garantindo que ela esteja estruturada e integrada (CDP), maximizando o potencial da IA.
  • Capacitação: é necessário investir na formação de talentos (como o Magalu tem feito com seus programas de Trainee em IA) para que a equipe saiba operar e extrair valor desses sistemas.
  • Ética e segurança: com o aumento de golpes utilizando IA, as empresas precisam garantir a segurança e a transparência no uso dos dados. O sistema antifraude, que já utiliza machine learning para monitorar mais de 5 mil variáveis em tempo real, deve ser visto como um investimento prioritário na Black Friday.

A IA como o acelerador da liderança

A Black Friday deste ano será o teste definitivo para quem entende que a Inteligência Artificial não substitui a estratégia, mas a torna infinitamente mais poderosa. O investimento em algoritmos preditivos e automação não apenas otimiza o ciclo de vendas, mas protege a sua marca da volatilidade do mercado.

O varejo que não conseguir se mover dos estágios iniciais de adoção de IA estará sujeito a perdas de market share, menor eficiência operacional e redução da satisfação do cliente. Por outro lado, para os 14% de players que já estão avançados, a IA é a chave para blindar a operação contra riscos e garantir que a Black Friday seja, de fato, o evento mais lucrativo e estratégico do ano, consolidando a marca na liderança do varejo digital.

Leia também: O omni consumidor: como a jornada de compra do varejo de moda mudou

Imagem: Envato


*Adriano Tavollassi é Fundador da LEAP e possui formação em Marketing pela FAAP, e em Pós-Graduação em Administração pelo Mackenzie. Foi pioneiro na integração de canais online e físicos, consolidando o conceito de Omnichannel no País em grandes empresas. Com mais de 30 anos de experiência, é um profissional com ampla experiência na estruturação, planejamento e execução de canais de vendas, desde os mais tradicionais até os modelos digitais, incluindo marketplaces. É especialista em integração de canais de vendas, definindo papéis e responsabilidades em um cenário de varejo cada vez mais conectado e turnaround de operações complexas.

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