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O varejo mudou: por que o consumidor prefere conveniência a preço
O comportamento do consumidor brasileiro passou por uma transformação profunda nos últimos anos, e a pandemia funcionou como catalisador desse movimento. O que antes era centrado na busca pelo menor preço deu lugar a um consumidor mais pragmático, digital e orientado à autonomia. Hoje, conveniência, agilidade e liberdade de escolha se tornaram fatores decisivos — mesmo que impliquem pagar um pouco mais.
Dados recentes do segmento mostram que aproximadamente 70% das compras em formatos de autosserviço acontecem fora do horário comercial, com ticket médio até 18% maior do que em horários tradicionais. Essa mudança não se limita às gerações mais jovens: tornou-se transversal, atingindo públicos de todas as idades que priorizam resolver o dia a dia com rapidez e sem fricções.
Nesse novo cenário, a conveniência assume um papel estratégico nas decisões de consumo. Modelos de compra baseados em autonomia e disponibilidade contínua — especialmente os que operam em condomínios, empresas, academias e espaços de alta circulação — têm ganhado espaço ao oferecer uma experiência mais fluida: entrar, pegar o que precisa, pagar e sair, sem filas ou burocracia. A evolução tecnológica, com sistemas de autoatendimento intuitivos, monitoramento inteligente e automação de estoque, tornou essa jornada de compra mais rápida e previsível. A análise de métricas do setor mostra aumento consistente no consumo após as 18h, quando as pessoas chegam do trabalho e optam por compras rápidas, reforçando o peso da conveniência como diferencial competitivo.
As tendências internacionais também indicam que esse movimento é global. Nos Estados Unidos, há valorização intensa de tecnologias embarcadas; na Colômbia, cresce a adoção de lojas autônomas em empresas e coworkings; no Brasil, prevalece a combinação entre proximidade e preço justo dentro do modelo de conveniência. Em todos os casos, a inteligência artificial desempenha papel central ao permitir previsibilidade de demanda, mix mais adequado a cada localização e reposição mais eficiente. As categorias que mais crescem nesse tipo de varejo são bebidas geladas, snacks e itens de higiene e conveniência — produtos associados ao consumo imediato e à resolução rápida de necessidades.
Toda essa mudança pressiona o varejo tradicional a repensar suas operações. Lojas físicas de grande porte ainda lidam com custos elevados, processos mais lentos e menor capacidade de adaptação. Já os modelos mais enxutos e autônomos operam com estruturas leves e custos reduzidos, permitindo margens líquidas mais altas e maior flexibilidade. Isso tem influenciado pequenas e grandes redes a adotarem novos formatos, incorporarem tecnologias de automação e personalização e investirem em jornadas de compra simplificadas — especialmente nas áreas urbanas, onde o tempo é um recurso cada vez mais valioso.
Olhando para 2030, o consumidor tende a ser ainda mais conectado, seletivo e orientado à praticidade. Conveniência desponta como um novo critério central de escolha, não mais como um acessório. As pessoas querem resolver suas demandas com eficiência, sem desperdício de tempo ou deslocamentos desnecessários. Nesse contexto, o varejo urbano deve avançar em direção a modelos mais inteligentes, hiperlocais e integrados ao cotidiano do consumidor. A tendência aponta para ambientes que unam autonomia, tecnologia e propósito, oferecendo uma experiência simples, rápida e cada vez mais adaptada ao estilo de vida digital.
Imagem: Freepik
*Oberdan Siqueira é diretor de expansão da SmartStore.
