NRF Paris 2025
Painel da NRF Europe discute como dados e IA estão transformando as lojas físicas

No painel “Powering stores with data and AI”, realizado durante a NRF Europe, executivos de grandes empresas do varejo e consultoria analisaram como a digitalização, o uso de dados e a inteligência artificial estão redefinindo o papel das lojas físicas. A sessão contou com a participação de Miguel Angel Gonzalez Gisbert, Chief Digital Officer global e da França do Carrefour; Mauro Anastasi, sócio da Bain & Company; e Jérôme Hamrit, vice-presidente executivo de Data & Retail Media do VusionGroup.

A volta da loja como centro de engajamento
Abrindo a discussão, Mauro Anastasi destacou que, após anos de especulações sobre a perda de relevância do varejo físico, o cenário mudou. Segundo pesquisa da Bain, 75% dos executivos de varejo planejam uma transformação significativa das lojas nos próximos dois anos, com foco em torná-las hubs de engajamento com o cliente, centros de logística omnicanal e novas fontes de receita.
Anastasi ressaltou que a adoção de tecnologias nas lojas tende a dobrar nos próximos três anos, já que 70% dos líderes acreditam no retorno desses investimentos em até três anos. “Quase metade dos executivos confia em obter 1,5 ponto adicional de margem de EBITDA com essas transformações, o que pode representar um ganho expressivo de competitividade”, afirmou.
A visão do Carrefour
Para Miguel Gonzalez, a digitalização das lojas se tornou prioridade porque 90% da receita do Carrefour ainda vem do ambiente físico. Ele apontou três fatores que impulsionam a mudança: a elevação das expectativas de clientes e colaboradores, a pressão de custos e a chegada da inteligência artificial como ferramenta para personalização e eficiência.
O executivo citou um exemplo recente: um projeto de menos de um ano que conseguiu recuperar 1% do faturamento em situações de autoatendimento, graças ao uso de IA para reduzir rupturas de estoque. “O futuro das lojas está em tecnologias aplicadas de forma prática, do corredor ao caixa, mas sempre como suporte ao trabalho humano”, destacou.

Padrão de investimento em tecnologia
Na avaliação de Jérôme Hamrit, investir em tecnologia deixou de ser experimental para se tornar um padrão estratégico. Ele destacou que 60% dos executivos já priorizam recursos em tecnologias in-store, reconhecendo o impacto direto no resultado financeiro.
Hamrit lembrou que soluções como etiquetas digitais e visão computacional começaram com ganhos operacionais, mas evoluíram para transformar processos de e-commerce, gestão de categorias e até estratégias de mídia no ponto de venda. “Muitas vezes, quando feita corretamente, a transformação entrega muito mais valor do que se imaginava no início”, disse.
A dimensão humana da transformação
Gonzalez ressaltou que a tecnologia só tem impacto real quando é projetada para pessoas. Ele lembrou a experiência do Carrefour com blockchain, que falhou por falta de escala e clareza para o consumidor. A partir desse aprendizado, a companhia criou programas de capacitação digital para 80 mil colaboradores na França e adotou a metodologia “four in the box”, que integra tecnologia, produto, design e negócios em cada projeto.
“A verdadeira transformação acontece quando o funcionário entende que a tecnologia simplifica o seu trabalho e não é algo imposto de cima para baixo”, afirmou.
Tecnologias do futuro
Ao falar sobre as tendências para os próximos cinco anos, Hamrit destacou geolocalização e visão computacional como recursos que criam novos fluxos de dados e fortalecem conexões entre consumidor, loja e cadeia de valor. Gonzalez acrescentou que o Carrefour aposta em três pilares para 2030: lojas conectadas, IA aplicada de forma pragmática e tecnologia como aliada dos funcionários.
“Não acreditamos em lojas totalmente robotizadas, mas em ambientes nos quais a tecnologia fortalece a experiência humana. A loja que funciona é aquela que combina variedade, bons preços e colaboradores engajados, apoiados pela tecnologia”, concluiu Gonzalez.
Imagens: José Fugice