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Tarifas alteram dinâmica de compras no varejo dos EUA

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As mudanças nas tarifas impostas pelo governo Donald Trump têm modificado de forma significativa o processo de compras no varejo norte-americano em 2025. A alta volatilidade das alíquotas tem dificultado a previsão dos custos dos produtos fornecidos por parceiros habituais, afetando um planejamento que tradicionalmente se apoia em dados históricos.

Segundo profissionais do setor, o planejamento de compras costuma ser feito com meses de antecedência. Nikki Baird, vice-presidente de estratégia e produto da Aptos, afirmou que, especialmente na moda, esse processo ocorre de nove a doze meses antes. Ela explicou que a nova estratégia tarifária levou a uma série de apostas de capacidade abruptas por parte dos varejistas, muitas delas feitas e canceladas em pouco tempo, o que tornou mais complexa a relação com fornecedores. “Foi muita correria”, disse Baird. “Acho que a situação se acalmou o suficiente para que as pessoas decidissem manter as apostas.”

O período é ainda mais crítico às vésperas das festas de fim de ano, quando o varejo costuma reforçar estoques. Uma pesquisa feita pela Deloitte apontou que 76% dos compradores do varejo estão preocupados com a capacidade de manter níveis adequados de inventário, sobretudo pela confiabilidade dos fornecedores diante de tensões geopolíticas. Os entrevistados disseram ter feito mais da metade dos pedidos de fim de ano até o fim de maio, cerca de dois meses antes do observado na edição de 2024 da pesquisa.

Mesmo grandes companhias foram surpreendidas pelas mudanças rápidas no comércio global, embora o tema tenha sido central na campanha de Trump. Parte dessa reação, segundo especialistas, decorre da perda de influência direta das empresas na formulação de regulações.

Mudança de cenário

Empresas como Ikea, Best Buy e varejistas off-price sentiram os impactos das tarifas ao longo do ano. Young Hou, professor da Darden School of Business da Universidade de Virgínia, afirmou que, no passado, atividades de lobby permitiam às empresas maior previsibilidade regulatória. “Desta vez, foi muito inesperado e isso colocou a maior parte das companhias em um modo de resposta”, disse.

A volatilidade tem levado varejistas a deslocar suas cadeias de fornecimento para países com tarifas mais baixas. A Best Buy, por exemplo, reduziu a fatia de custos provenientes da China. Em maio, a CEO Corie Barry disse que o país representava entre 30% e 35% dos custos de produtos, ante 55% em março.

Especialistas apontam que esse não é o primeiro choque enfrentado pelo setor. A pandemia de COVID-19 também alterou padrões de planejamento e compra. Agora, as tarifas representam um novo desafio, mas também uma oportunidade para revisar estratégias.

Eficiência versus flexibilidade

As recentes mudanças podem levar varejistas a reavaliar sua dependência de cadeias de suprimentos excessivamente eficientes. Para Santiago Gallino, professor da Wharton School da Universidade da Pensilvânia, cadeias focadas apenas em eficiência não se alinham ao ambiente tarifário atual. “A realidade das tarifas, especialmente da forma como foram implementadas, não combina com uma abordagem de cadeia de suprimentos voltada exclusivamente à eficiência”, afirmou. Segundo ele, o setor está repensando como equilibrar eficiência e flexibilidade.

Essa revisão tem impulsionado empresas a buscar prazos de fornecimento mais curtos, disse Baird. “Se nossos prazos fossem mais curtos, seríamos mais ágeis e estaríamos mais preparados para mudanças.”

Nem todos os varejistas, porém, têm capacidade de adaptar seus métodos. Pequenas empresas podem enfrentar dificuldades maiores. Mais de 97% das companhias importadoras nos EUA são pequenos negócios, segundo a Câmara de Comércio dos EUA. Uma pesquisa da Counterpart Insurance indicou que mais de 60% dos pequenos empresários consideram as tarifas um de seus principais desafios, ficando atrás apenas da inflação.

Esse cenário pode alterar a competição no setor. “Choques diferentes levam empresas à consolidação e acredito que este choque atual fará muitas pequenas varejistas se tornarem vítimas”, disse Hou. “Vamos ver as grandes companhias saírem mais fortes e mais consolidadas.”

Imagem: Freepik
Informações: Dani James para Retail Dive
Tradução livre: Central do Varejo

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