Franchising
Web Summit Lisboa 2025 debate o futuro da mídia e o papel das novas gerações na construção de audiências sustentáveis
O painel “The Next Wave of Media”, realizado no Web Summit Lisboa 2025, reuniu quatro vozes que representam a transformação do jornalismo, da mídia e da criação de conteúdo na era digital: Lucy Blakiston, cofundadora e CEO da Shit You Should Care About; Ramin Beheshti, cofundador e CEO da Caliber; Ahmed Faid, CEO da Dose of Society; e o apresentador Dave Jorgenson, do Local News International, que mediou a conversa.
A discussão girou em torno de um tema central: como construir empresas de mídia sustentáveis em um cenário dominado por plataformas sociais, audiências fragmentadas e a ascensão da inteligência artificial. Todos os participantes compartilham um ponto em comum: alcançaram milhões de pessoas ao criar conteúdo direto, autêntico e voltado principalmente para as gerações mais jovens.
Lucy Blakiston contou que fundou o Shit You Should Care About enquanto ainda estava na universidade, frustrada por não entender o mundo através dos meios tradicionais. “Eu era uma estudante de Relações Internacionais que não se sentia informada. Então pensei: por que não mudar a forma como as pessoas recebem notícias?”, afirmou. Hoje, sua newsletter diária e sua conta no Instagram informam milhões de jovens de forma leve e acessível. Lucy defende um jornalismo que confia na inteligência dos leitores. “Dizem que estamos simplificando demais as coisas, mas eu acredito que o público é mais inteligente do que se imagina. Não precisamos resumir tudo a vídeos de 30 segundos para que entendam”, disse.
Ramin Beheshti, que trabalhou por anos no Wall Street Journal, afirmou que fundou a Caliber para suprir a lacuna entre as mídias tradicionais e os novos hábitos de consumo. “Percebemos que os jovens simplesmente não estavam indo atrás das notícias tradicionais. Decidimos levar o jornalismo até onde eles estão: nas redes sociais”, explicou. A empresa, que nasceu com a proposta de alcançar a Geração Z, agora planeja crescer junto com ela. “A estratégia é evoluir com o público. À medida que a geração amadurece, o conteúdo se transforma. Falamos de primeiro emprego, de economia doméstica, de temas práticos da vida adulta”, contou.
Já Ahmed Faid, da Dose of Society, destacou o poder do storytelling como ferramenta de empatia. “Nosso trabalho é contar histórias reais de pessoas comuns. Queremos provocar emoção, inspirar e mostrar diferentes perspectivas humanas”, afirmou. O executivo defendeu que, mesmo com a ascensão da IA, o foco continuará sendo nas pessoas: “Usamos a tecnologia no processo de edição e distribuição, mas nossa essência é 100% humana. O objetivo é sempre gerar conexão, não substituir a emoção.”
Questionados sobre o papel da inteligência artificial na produção de conteúdo, os três executivos demonstraram visões distintas, mas complementares. Faid considera a IA uma aliada no aumento da produtividade. Beheshti vê o potencial da tecnologia para tornar as redações mais eficientes, mas acredita que ainda está longe de substituir jornalistas. “Não confiaria na IA para escrever uma matéria. Ela não cria notícia, apenas replica informação”, afirmou. Já Lucy se mostrou mais crítica ao uso indiscriminado da tecnologia: “Eu gosto de conhecer minha audiência e de escrever para pessoas reais. Não quero me automatizar. A IA é uma ferramenta útil, mas o que me move é o relacionamento humano.”
O debate também abordou o futuro do consumo de mídia e o suposto declínio da atenção das novas gerações. Lucy refutou o mito da distração constante e disse que o público jovem lê e se informa mais do que os críticos imaginam. “Eles acompanham podcasts de três horas e buscam fontes diversas. A diferença é que não querem mais que a informação venha de cima para baixo”, afirmou. Beheshti acrescentou que o consumo fragmentado não é sinal de desinteresse, mas de curadoria ativa: “As pessoas querem informação suficiente para seguir o dia. Um vídeo curto pode ser o ponto de partida para uma busca mais profunda em outras plataformas.”
O grupo também comentou a relação com a mídia tradicional. Beheshti, que veio desse ambiente, afirmou que “a concorrência não é entre empresas, mas pela atenção das pessoas”. Lucy concordou e reforçou que as novas mídias dependem do jornalismo tradicional para existir. “Eu não existiria sem eles. É preciso que continuem investigando e apurando — só acho que precisam parar de resistir à inovação e abrir espaço para criadores mais jovens”, disse.
Encerrando o painel, os participantes refletiram sobre o que significa construir comunidades leais em tempos de excesso de conteúdo. Para Lucy, o segredo está na autenticidade. “Não quero dominar o mundo, quero servir quem escolhe estar comigo. Meu público está crescendo comigo, e isso é o mais importante”, afirmou. Beheshti completou dizendo que o futuro da mídia não será definido por quem fala mais alto, mas por quem gera confiança: “As pessoas vão escolher ouvir quem reflete seus valores e fala de forma transparente. Esse é o verdadeiro ativo das novas empresas de mídia.”
Acompanhe a cobertura do Web Summit Lisboa 2025 no portal Central do Varejo e em nossas redes sociais!
Imagens e informações: Amanda Dechen, especialista em comunicação do MBA USP/Esalq
