Inovação
Como a inteligência artificial está revolucionando o last mile no varejo

O last mile é uma das etapas mais desafiadoras da cadeia logística. É nesse momento que o pedido chega até o consumidor final, e justamente por isso, carrega um peso significativo na experiência de compra. Ao mesmo tempo, essa etapa representa uma parcela expressiva dos custos operacionais, 53% de acordo com Statista, o que a torna um ponto estratégico para inovação. Nesse cenário, a Inteligência Artificial (IA) tem ganhado destaque como uma grande aliada para tornar as entregas mais eficientes, previsíveis e personalizadas.
Um dos exemplos mais relevantes é a roteirização inteligente. Com o uso de algoritmos avançados, as empresas conseguem traçar rotas dinâmicas que consideram múltiplas variáveis (como trânsito em tempo real, janelas de entrega, preferências do cliente e até restrições urbanas). Essa capacidade de adaptação permite otimizar o tempo de entrega, reduzir o número de quilômetros rodados e, por consequência, diminuir os custos operacionais e as emissões de CO₂.
Um relatório do Gartner Group diz que, até 2029, os agentes de IA resolverão de forma autônoma 80% dos problemas comuns de atendimento ao cliente sem intervenção humana, levando a uma redução de 30% nos custos operacionais. Tanto clientes quanto organizações aproveitarão para automatizar interações por meio do uso de agentes e bots de IA o que remodelará fundamentalmente o relacionamento entre as equipes de serviço e seus clientes.
Por isso, um outro avanço importante promovido pela IA está na previsão de janelas de entrega. Por meio da análise de dados históricos, padrões de comportamento de consumo e informações de tráfego, sistemas inteligentes conseguem prever com mais precisão quando um pedido será entregue. Isso não apenas reduz a ansiedade do consumidor, como também melhora a taxa de sucesso na primeira tentativa de entrega, um fator crítico para a logística.
É importante notar que, na pesquisa do Gartner Group sobre Last Mile, quando questionados sobre o Futuro da Cadeia de Suprimentos, 90% dos entrevistados afirmaram que a velocidade é um dos três aspectos mais importantes de suas opções de Last Mile Delivery (LMD), e 40% a classificaram como o fator mais crítico. Além disso, 85% dos entrevistados incluíram a confiabilidade entre os três fatores mais cruciais para a operação de última milha. Ainda na mesma pesquisa, a eficiência surge como um fator fundamental, uma vez que a logística de última milha representa 41% dos custos totais de entrega, de acordo com o estudo.
A IA tem contribuído para a alocação mais eficiente da frota e dos recursos disponíveis. Com base na demanda prevista e na distribuição geográfica dos pedidos, as plataformas conseguem orientar automaticamente a distribuição de veículos, motoristas e cargas de forma otimizada. Essa inteligência operacional permite que as empresas façam mais com menos, sem comprometer a qualidade do serviço.
A adoção dessas soluções impacta diretamente na experiência do consumidor, que passa a ter mais previsibilidade, visibilidade e controle sobre sua entrega. Ao mesmo tempo, empresas que implementaram tecnologias baseadas em IA relatam reduções significativas nos custos logísticos. De acordo com dados da consultoria McKinsey, essas soluções podem gerar economias de até 20%, além de aumentar em 15% a taxa de entregas bem-sucedidas na primeira tentativa. Em um mercado tão competitivo como o varejo, esses números se traduzem em uma vantagem real.
Com todos estes pontos, fica evidente que a inteligência artificial já é um pilar fundamental para as operações logísticas do presente. E não há aqui nenhum papo de substituição de mão de obra ou algo do tipo. É unicamente otimização de tarefas e aumento de eficiência. No varejo, onde a entrega é parte essencial da experiência de compra, apostar em soluções inteligentes para o last mile é mais do que acompanhar uma tendência, é investir em competitividade, fidelização e crescimento sustentável.
Imagem: Freepik
*Felipe Barbosa é Gerente Sênior de Marketing no Grupo Intelipost e mestrando em Administração na FEA-USP, pesquisando o uso de Inteligência Artificial no e-commerce. Com mais de 18 anos de experiência em tecnologia, fundou duas startups e liderou estratégias de crescimento e posicionamento de marca em scale-ups. Atua também como professor convidado na FGV, ESPM e FIA, contribuindo para a formação de líderes do mercado digital.