Comportamento
Cafés especiais ganham força no Brasil com crescimento de 15% ao ano e avanço do consumo digital
Estudo aponta perfil do consumidor, desafios do setor e oportunidades para plataformas digitais na comercialização de cafés premium

O mercado brasileiro de cafés especiais vive um momento de forte expansão, impulsionado por mudanças no comportamento do consumidor e pelo crescimento do comércio digital. De acordo com a Revista Campo & Negócios (2022), o setor cresce a uma taxa anual de 15%, com destaque para regiões produtoras como Sul de Minas, Mantiqueira de Minas e Chapada Diamantina, que oferecem condições ideais para grãos de alta qualidade.
No cenário global, a projeção é de que o mercado de cafés especiais atinja US$ 152 bilhões até 2030, sendo a Europa responsável por 46% da receita mundial e a América do Norte em ascensão devido à popularização de cafeterias especializadas e cafés gourmet, segundo matéria publicada em 2024 pela Notícias Agrícolas.
Esses dados embasam o estudo realizado por Alan do Nascimento Paterni, apresentado como trabalho de conclusão de curso em Digital Business no MBA USP/Esalq, que analisa como a transformação digital pode impulsionar o consumo de cafés especiais no Brasil. Intitulado “Impulsionamento no consumo de cafés especiais no Brasil através do digital business”, o trabalho trouxe uma pesquisa inédita sobre hábitos de consumo, barreiras e expectativas dos consumidores em relação à compra de cafés por meios digitais.
O novo perfil do consumidor de cafés especiais
O estudo mostra que a atual geração de consumidores considera fatores como sustentabilidade, inclusão e igualdade em suas escolhas, o que afeta diretamente a forma como marcas e produtores se posicionam. O Starbucks, a Nespresso e o Frans Café são exemplos de empresas que já trabalham experiências mais sofisticadas e narrativas sobre a origem do produto para conquistar esse público.
A Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC) aponta que dentre os consumidores:
- 35% preferem café gourmet,
- 21% optam por cafés especiais,
- 25% consomem café tradicional,
- 11% escolhem café superior e
- 8% preferem café extra-forte.
Essa mudança de perfil reforça a valorização de cafés premium e abre espaço para novas estratégias de marketing e distribuição
A pesquisa seguiu as etapas do Design Thinking e o público-alvo se mostrou composto por consumidores com renda média-alta, em sua maioria de 28 a 43 anos (66,7%), sendo 57% homens e 43% mulheres. Destes, 83,3% têm renda entre R$ 10 mil e R$ 22 mil, perfil alinhado ao consumo de produtos premium como cafés especiais.
Principais descobertas
Entre os hábitos de consumo identificados, destacam-se:
- 90% consomem café em casa;
- 70% consomem no trabalho;
- 40% em cafeterias.
Os métodos de preparo mais populares são:
- Coado (80%)
- Cápsulas (60%)
- Expresso (50%)
Além disso, 73% dos entrevistados associam cafés especiais a qualidade superior, evidenciando a importância da percepção de valor na escolha.
Em relação às dificuldades enfrentadas no momento da compra:
- 33% apontaram preço como principal barreira;
- 20% citaram qualidade insatisfatória;
- 20% relataram indisponibilidade do tipo preferido.
Outro dado relevante é que 70% nunca compraram café por meio digital, evidenciando uma grande lacuna no mercado online. Já entre os que já utilizaram aplicativos ou sites, os problemas mais comuns foram:
- Busca ineficiente (42%)
- Interface confusa (20%)
- Checkout complicado (10%)
- Erros técnicos e lentidão (10%)
Oportunidades para o digital
O estudo identificou quais recursos digitais mais atraem consumidores. Em um aplicativo para compra de cafés, os usuários afirmaram que utilizariam muito:
- Opções de tipos de moagem (76,7%)
- Avaliações de clientes (58,3%)
- Informações sobre os produtores (50%)
Por outro lado, funcionalidades como assinaturas de cafés (60,8%) e sugestões de harmonização (75%) foram consideradas de baixo interesse.
A variedade de opções foi apontada por 42% dos entrevistados como principal fator para escolher uma plataforma digital em vez de uma loja física, seguida de melhores preços (30%)
Com base na pesquisa, Paterni sugere o desenvolvimento de um Produto Mínimo Viável (MVP) que inclua:
- Catálogo diversificado, com mecanismos eficientes de busca e filtragem (diversidade de filtros aliados a um catálogo variado de produtos);
- Informações sobre produto e produtor (detalhes do produto, da trajetória e os valores de cada produtor);
- Avaliações (seção para review dos clientes);
- Perfil sensorial (personalização via quiz interativo para indicar cafés ideais);
- Loja integrada (acessórios e complementos para a experiência).
Essas estratégias visam melhorar a experiência do usuário e fortalecer o relacionamento com o consumidor, valorizando qualidade e conveniência.
Perspectivas para o setor
Embora a pesquisa tenha sido realizada com uma amostra pequena, os dados fornecem uma visão estratégica sobre o potencial do mercado digital para cafés especiais.
O estudo conclui que há uma oportunidade concreta de expansão através do comércio eletrônico, especialmente se as marcas conseguirem oferecer variedade, informação e atendimento de excelência.
“O consumidor brasileiro está mais consciente e busca experiências que combinem qualidade, praticidade e valores como sustentabilidade e procedência. O digital pode ser a ponte entre essa demanda e a oferta de cafés especiais”, conclui Paterni.
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Imagem: Envato