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Franquias e comunicação: equilíbrio entre diretrizes da marca-mãe e adaptação local

Em qualquer rede de franquias, a comunicação é mais do que uma questão estética: ela é a espinha dorsal que conecta a promessa da marca à experiência do cliente. É nesse ponto que entra o papel da marca-mãe, responsável por dar direção estratégica, manter a consistência e, ao mesmo tempo, permitir espaço para a individualidade de cada unidade.
Centralização não é sinônimo de engessamento
Um dos maiores equívocos no franchising é acreditar que centralizar a estratégia de marketing significa eliminar a autonomia local. Na prática, o que deve ser centralizado é o posicionamento de marca, o padrão visual e o tom de voz, pilares que garantem que, em qualquer lugar, o consumidor reconheça e confie naquela franquia.
Mas centralizar não significa sufocar. O franqueado conhece sua praça, entende nuances culturais, comportamentais e até linguísticas que a marca-mãe, à distância, pode não captar. Por isso, a maturidade da comunicação no franchising vem do equilíbrio, com diretrizes sólidas no centro e flexibilidade inteligente na ponta.
Consistência como ativo estratégico

Quando a comunicação se fragmenta, o impacto é imediato: o cliente percebe. Um tom de voz desalinhado em uma campanha local, um padrão visual diferente em um post regional, ou mesmo uma ação promocional sem conexão com o DNA da marca. Esses desvios enfraquecem a percepção de valor e comprometem a confiança.
Por outro lado, quando a consistência é preservada, o efeito é multiplicador. A unidade local não precisa “reexplicar” a marca. O consumidor já chega com expectativas alinhadas e cabe ao franqueado apenas reforçá-las com a experiência de compra.
O poder do guarda-chuva da marca-mãe
Podemos pensar na marca-mãe como um grande guarda-chuva estratégico. Ela define:
- Identidade visual: cores, tipografia, logotipo e aplicações consistentes.
- Tom de voz: linguagem, expressões-chave, estilo de comunicação.
- Diretrizes de campanha: temas centrais, mensagens prioritárias, objetivos de marketing.
Sob esse guarda-chuva, as unidades podem adaptar detalhes, ajustando a comunicação ao calendário local, às particularidades culturais ou até ao perfil de consumo da sua região. Essa autonomia dirigida evita improvisos prejudiciais e potencializa a efetividade da mensagem.
Um exemplo prático – Imagine uma rede de alimentação saudável. A marca-mãe define o posicionamento: praticidade, saúde e frescor. Fornece um kit de identidade visual e campanhas nacionais. Já o franqueado, em uma cidade litorânea, pode explorar posts com “energia para o surf” ou “nutrição para quem vive ao ar livre”, sempre dentro das diretrizes da rede. Assim, ele cria conexão local sem perder a essência da marca.
A responsabilidade da marca-mãe

No fim, cabe à franqueadora assumir um papel ativo como mentora e guardiã da marca. Isso significa:
- Oferecer materiais e campanhas “plug-and-play” de fácil adaptação.
- Capacitar franqueados em comunicação e marketing digital.
- Monitorar a consistência sem sufocar a criatividade.
Não é controlar. É dar clareza, direção e ferramentas para que cada unidade brilhe dentro da mesma constelação.
No franchising, comunicação não é apenas um diferencial competitivo, é um mecanismo de perpetuação de valor. Quando a marca-mãe centraliza estratégia sem engessar a criatividade local, cria-se uma sinergia poderosa: cada unidade fala a mesma língua, mas com sotaques que enriquecem a narrativa.
É esse equilíbrio que transforma uma rede de franquias em algo maior do que a soma de suas partes.
Imagens: iStock
(*) Alexandre Goto é sócio-fundador da Dennova Marketing, empresa especializada em Marketing Digital para Expansão de Franquias, e do Portal Elup, um sistema SaaS voltado para a comunicação, gestão de fluxos e automação de processos entre Franqueadoras e Franqueados. Com MBA em Analytics e Inteligência Artificial pela FIA Business School, Alexandre atua há mais de 12 anos no mercado de franquias e é o atual Coordenador da Comissão de Transformação Digital da ABF (Associação Brasileira de Franchising), contribuindo ativamente para a inovação no setor.