Comportamento

Bracketing: o que é e por que é um problema crescente

Published

on

setor de vestuário foi um dos que caiu no Índice de Preços ao Consumidor - Semanal; bracketing

O e-commerce trouxe muitas vantagens para consumidores e varejistas. Praticidade, alcance global e a possibilidade de realizar compras sem sair de casa são apenas alguns dos benefícios evidentes. Contudo, junto com o crescimento do comércio eletrônico, surgiram desafios que impactam diretamente o funcionamento do mercado e as margens de lucro das empresas. Um dos maiores desses desafios é o bracketing, prática que, apesar de ser conveniente para os consumidores, tem se tornado uma preocupação crescente para as marcas.

Neste artigo, vamos explorar o que é o bracketing, por que ele se tornou um problema crescente no varejo, os prejuízos que acarreta para as empresas e como o mercado está reagindo a esse fenômeno.

O que é bracketing?

O bracketing ocorre quando os consumidores compram várias versões de um mesmo produto, como tamanhos, cores ou estilos diferentes, com a intenção de experimentar em casa e devolver aqueles que não atendem às suas expectativas. Embora pareça uma prática inofensiva, ela tem implicações complexas para o varejo.

Esse comportamento, motivado por políticas de devolução gratuitas e a ausência de um espaço físico para experimentar os produtos, tem crescido de maneira exponencial. De acordo com dados de 2023, cerca de 60% dos consumidores que compram online nos Estados Unidos adotam essa prática.

A dimensão do problema

O impacto financeiro do bracketing no varejo é alarmante. Segundo a National Retail Federation (NRF), em 2021 os consumidores devolveram cerca de US$ 218 bilhões em mercadorias compradas online. Para as marcas, as devoluções representam custos elevados de logística, incluindo transporte e reembalagem, além de resultar em produtos “mortos” – itens que não podem ser revendidos devido a danos ou sazonabilidade.

Entre os prejuízos diretos do bracketing estão:

  1. Custos de logística: Processar uma devolução é caro. Empresas precisam arcar com despesas de transporte, armazenamento e inspeção dos itens.
  2. Depreciação do produto: Mercadorias devolvidas frequentemente perdem valor, especialmente em setores como moda, onde as tendências mudam rapidamente.
  3. Sustentabilidade comprometida: O aumento das devoluções contribui para emissões de carbono mais altas, devido ao transporte extra, e pode gerar desperdício quando produtos não são revendidos.

Mudanças nas políticas de devolução

Para conter os prejuízos causados pelo bracketing, algumas das maiores varejistas do mundo começaram a implementar mudanças em suas políticas de devolução. Uma dessas mudanças é a cobrança por devoluções, uma medida que tem gerado debates acalorados entre consumidores e empresas.

Em 2023, a gigante da moda Zara implementou a cobrança de 1,95 euro (aproximadamente R$ 11) por peça devolvida na Espanha. A justificativa da empresa foi a redução dos custos operacionais. Essa política já havia sido introduzida em 2022 em países como Reino Unido, França e Estados Unidos, mercados onde o bracketing é ainda mais comum.

No Brasil, a Zara ainda não cobra pelas devoluções, desde que estas sigam algumas diretrizes específicas, como prazo e estado do item. Essa abordagem reflete uma tentativa de equilibrar a experiência do consumidor com os desafios financeiros do varejo.

Outras grandes varejistas como H&M e Uniqlo também começaram a adotar taxas para devoluções de compras online em mercados internacionais. Essa tendência pode indicar uma mudança de paradigma no comércio eletrônico, onde a gratuidade das devoluções deixa de ser um padrão para se tornar uma exceção.

O impacto do bracketing no Brasil

Embora o bracketing seja mais comum em mercados maduros como os Estados Unidos e Europa, ele também é uma realidade crescente no Brasil. Consumidores brasileiros estão cada vez mais familiarizados com as facilidades do comércio eletrônico, e as políticas de devolução gratuitas incentivam práticas similares às vistas no exterior.

No entanto, diferentemente de países como EUA, onde a cobrança por devoluções já é uma tendência, o mercado brasileiro ainda é mais cauteloso. Políticas como a Lei do Arrependimento, que garante o direito de devolução de produtos comprados online em até 7 dias sem custo adicional, tornam qualquer mudança nesse sentido mais desafiadora para as empresas.

Estratégias para lidar com o bracketing

Para enfrentar os desafios impostos pelo bracketing, as empresas estão adotando uma série de estratégias. Entre as mais comuns estão:

  1. Cobrança por devoluções: Embora polêmica, essa abordagem já se mostra eficaz para reduzir o volume de devoluções e os custos associados.
  2. Provas virtuais: Tecnologias de realidade aumentada e inteligência artificial permitem que os consumidores “experimentem” roupas, óculos ou maquiagem de forma virtual, diminuindo a necessidade de comprar múltiplas versões.
  3. Educação do consumidor: Algumas marcas estão investindo em campanhas educativas para ajudar os clientes a escolherem o tamanho certo ou a cor ideal antes da compra.
  4. Incentivos à escolha consciente: Programas de fidelidade podem premiar consumidores que evitam devoluções, incentivando compras mais assertivas.
  5. Melhorias na logística reversa: Para lidar com devoluções inevitáveis, muitas empresas estão otimizando seus processos de logística reversa para reduzir custos e o impacto ambiental.

O papel da sustentabilidade no debate

Outro ponto importante no debate sobre bracketing é a questão da sustentabilidade. A alta taxa de devoluções tem impactos ambientais significativos, aumentando as emissões de carbono devido ao transporte adicional e contribuindo para o desperdício de produtos.

Para lidar com essa questão, algumas marcas estão investindo em soluções mais sustentáveis, como embalagens reutilizáveis, processos logísticos mais eficientes e parcerias com organizações que reaproveitam produtos devolvidos.

O futuro das políticas de devolução

O bracketing trouxe à tona a necessidade de repensar as políticas de devolução no comércio eletrônico. Enquanto a gratuidade das devoluções era vista como um diferencial competitivo, agora ela se tornou insustentável para muitas empresas.

A tendência é que mais marcas sigam os passos de Zara, H&M e Uniqlo, implementando cobranças por devoluções ou limitando os critérios para aceitá-las. No Brasil, apesar das restrições legais, é possível que as empresas comecem a adotar medidas semelhantes, incentivando escolhas mais conscientes por parte dos consumidores.

setor de vestuário foi um dos que caiu no Índice de Preços ao Consumidor - Semanal; bracketing

Conclusão

O bracketing é um reflexo das mudanças no comportamento do consumidor e das facilidades oferecidas pelo comércio eletrônico. No entanto, ele apresenta desafios significativos para as marcas, desde custos financeiros até questões de sustentabilidade.

Enquanto os consumidores buscam conveniência e flexibilidade, as empresas precisam equilibrar essas demandas com a viabilidade econômica de suas operações. Mudanças nas políticas de devolução, como a cobrança por devoluções, são uma resposta a esse dilema, e a tendência é que elas se tornem mais comuns nos próximos anos.

Para o consumidor, o desafio será se adaptar a essas novas políticas, fazendo escolhas mais conscientes e aproveitando as ferramentas tecnológicas disponíveis para minimizar a necessidade de devoluções.

No final das contas, o bracketing é um lembrete de que a experiência de compra online está em constante evolução – e que marcas e consumidores têm um papel crucial nesse processo.

Imagem: Freepik

Continue Reading
Click to comment

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *