E-commerce
Fim da isenção de minimis: o impacto nos custos de importação e na logística do e-commerce

O fim iminente da isenção de minimis pode representar desafios para os planos logísticos do e-commerce durante a alta temporada.
A isenção, que permitia a entrada de importações abaixo de US$ 800 nos Estados Unidos sem impostos ou taxas, foi eliminada na sexta-feira (30/08), como parte de uma medida da Casa Branca para combater o tráfico de drogas e importadores que evitam tarifas, segundo um informativo oficial. A previsão anterior era de que o fim da isenção ocorresse apenas em 1º de julho de 2027, conforme determinado por uma legislação assinada pelo ex-presidente Donald Trump.
Desde maio, a isenção já não se aplicava a produtos originários da China, mas muitos importadores planejavam continuar usando esse instrumento comercial para remessas de outros países nos próximos anos, de acordo com Maggie Barnett, CEO da LVK Logistics. Embora o de minimis seja frequentemente associado a marketplaces como Shein e Temu, diversas outras empresas também utilizavam a regra para envio internacional de pacotes de forma econômica.
“Eles estão correndo agora porque achavam que [a eliminação] não aconteceria tão rápido”, afirmou Barnett.
O prazo encurtado para o fim da regra dificultará o ajuste total das operações dos importadores diretos ao consumidor antes da temporada de compras do quarto trimestre. No entanto, especialistas apontam alternativas para mitigar os impactos dessa mudança, tanto no curto quanto no longo prazo.
Preços mais altos e barreiras logísticas no horizonte
Sem a isenção de minimis, produtos de baixo custo importados estarão sujeitos a todas as tarifas aplicáveis — incluindo aquelas implementadas durante o governo Trump — gerando custos extras antes evitados.
A ordem executiva de Trump que elimina a regra abre uma exceção: remessas enviadas por meio de redes postais internacionais. Porém, mesmo esses pacotes não estarão totalmente livres de custos: serão cobradas tarifas com base na International Emergency Economic Powers Act (IEEPA), ou uma taxa entre US$ 80 e US$ 200, conforme o valor correspondente às tarifas da IEEPA.
Essa abordagem alternativa estará disponível por apenas seis meses e representa um custo significativo para os importadores. Em 2023, o valor médio de uma remessa de minimis foi de aproximadamente US$ 54, segundo o Serviço de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA (CBP).
Muitos varejistas consideraram repassar esse custo adicional ao consumidor. No entanto, compradores online, acostumados a preços baixos, podem optar por alternativas como lojas físicas se forem confrontados com novas taxas, explica Nick Baker, co-líder da área de comércio exterior da Kroll.
“Quando os clientes começam a ver uma taxa tarifária no carrinho de compras, muitas vezes isso mata a conversão”, disse Baker.
O fim do de minimis aumentará os custos de importação para produtos destinados aos EUA
Produto | País de origem | Preço em 2024 | Preço estimado em 2025* |
---|---|---|---|
Pantufa feminina de algodão | China | US$ 30 | US$ 45,37 |
Suplemento nutricional | Canadá | US$ 37 | US$ 60,17 |
Garrafa térmica de inox | Reino Unido | US$ 15 | US$ 21,81 |
Faca de chef japonesa | Japão | US$ 240 | US$ 298,49 |
*O preço de 2025 inclui tarifas gerais, impostos e taxas aplicáveis a produtos abaixo de US$ 800 após a eliminação da isenção. A isenção já está suspensa para importações oriundas da China.
Fonte: FlavorCloud
Além da pressão sobre os preços, atrasos logísticos também podem surgir à medida que o CBP passa a processar os envios antes cobertos pela isenção com procedimentos de entrada mais rigorosos, segundo Anthony Pizza, vice-presidente de marketing da freight forwarder Accelerated Global Solutions. Empresas menores, em especial, podem ter dificuldades com as exigências de “entradas formais”, que incluem faturas comerciais detalhadas, caução alfandegária e outros requisitos.
“As grandes varejistas e todos os nossos clientes estarão preparados para o pico”, afirmou Pizza. “Mas dores de cabeça e percalços vão surgir para os negócios despreparados.”
Importação em volume exige novas apostas de estoque
Para entender o impacto total das tarifas, as empresas devem identificar quais SKUs (itens) utilizavam a isenção de minimis e simular os custos com as tarifas e taxas agora aplicáveis, de acordo com a empresa de fulfillment Stord. A recomendação é também simular o custo de importar grandes quantidades de uma só vez — em vez de enviar diretamente ao consumidor — para identificar a estratégia mais econômica de atendimento.
Segundo especialistas, importar em grandes volumes para armazéns nacionais será mais eficiente para muitas marcas de e-commerce. Essa mudança pode aumentar o uso de transporte marítimo em contêineres, ao mesmo tempo que reduz a demanda por transporte aéreo.
“Agora é preciso uma estratégia de atacado, trazendo os produtos e armazenando nos EUA”, disse Rathna Sharad, CEO e fundadora da plataforma de remessas internacionais FlavorCloud.
Contudo, esse modelo exige novas estratégias de planejamento de estoque. Marcas que antes operavam com foco no de minimis terão que garantir que os produtos importados em grandes quantidades terão demanda suficiente para não ficarem parados nos centros de distribuição. Promoções podem ser usadas para incentivar a compra de produtos já estocados nos EUA, destaca Baker.
Alguns importadores que possuem estoque em depósitos no Canadá e México estão reduzindo a frequência de envio para os Estados Unidos, afirma Barnett, da LVK Logistics. O objetivo é consolidar um maior número de pedidos em um único envio, reduzindo os custos de liberação alfandegária. O ponto negativo é que isso pode impactar a velocidade de entrega ao consumidor. Por isso, muitos estão considerando centros de fulfillment baseados nos EUA após o fim da alta temporada.
“Todo mundo está tentando apenas passar pela alta temporada, chegar ao fim do ano, enquanto começam a definir seu novo modelo de negócios”, disse Barnett. “E isso geralmente vai exigir um operador logístico terceirizado nos EUA, porque, no fim das contas, eles terão que pagar as tarifas.”
Imagem: Envato
Informações: Max Garland para Retail Dive
Tradução livre: Central do Varejo