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O varejo unificado é o motor da inovação no Brasil

O varejo brasileiro deixou de ser apenas reflexo das transformações sociais e econômicas para se tornar protagonista da inovação nacional. Nenhum outro setor reúne tamanha capilaridade, diversidade de perfis de consumo e velocidade de adaptação. É no varejo que novas tecnologias ganham escala, que modelos de negócio são testados em tempo real e que o futuro digital do Brasil começa a se desenhar.
Nos últimos anos, a digitalização deixou de ser diferencial competitivo para se tornar pré-requisito. O consumidor já não enxerga barreiras entre físico e digital: pesquisa no celular, experimenta na loja, recebe recomendações personalizadas no WhatsApp e finaliza a compra no e-commerce. Essa jornada fragmentada exige uma operação integrada, inteligente e sem atritos. O termo “comércio unificado” deixa de ser conceito e passa a ser necessidade prática para quem deseja permanecer relevante.
Dados recentes mostram a direção desse movimento. Segundo o Google, 86% do crescimento das vendas no varejo dos próximos cinco anos será multicanal. O Gartner prevê que até 2026, mais de 80% das empresas utilizarão inteligência artificial generativa para personalizar jornadas em tempo real.
Além disso, relatórios de consultorias como a Deloitte apontam que eficiência operacional (da alocação correta de estoque à precificação dinâmica) já não é um desejo, mas uma obrigação. Essas análises revelam que o futuro competitivo do varejo está na unificação dos canais e no uso intensivo de dados para antecipar demandas.
O Brasil tem condições únicas para liderar essa transformação, pois é um país que adota rapidamente novas tecnologias móveis, com consumidores exigentes e criativos, e que já desenvolveu e exportou soluções de pagamento, delivery e social commerce que inspiraram mercados globais. O varejo brasileiro, por necessidade e ousadia, tem se consolidado como um verdadeiro laboratório vivo de tendências mundiais.
Ainda assim, há barreiras importantes. Pesquisas recentes indicam que cerca de 70% das empresas do setor ainda não utilizam inteligência artificial, principalmente por falta de conhecimento e preparo. Isso mostra que os desafios não são apenas tecnológicos, mas também culturais. Enquanto muitas companhias ainda dividem operações físicas e digitais em barreiras organizacionais, a unificação exige liderança capaz de integrar visões, investir em capacitação e mostrar que a loja física não perde espaço quando o digital cresce, pelo contrário, ambos se fortalecem mutuamente.
O consumidor de hoje valoriza conveniência, personalização e consistência. Para atendê-lo, é preciso mais do que estar presente em diferentes canais: é necessário transformar complexidade em simplicidade, conectar dados dispersos e transformar informação em ação. Quem souber fazer isso terá maior taxa de conversão, mais fidelização e ganhos de eficiência que se traduzem em competitividade.
O varejo é, sem dúvida, o setor com maior potencial para puxar a transformação digital no Brasil, tem contato direto com milhões de consumidores diariamente, é terreno fértil para aplicação de novas tecnologias e pode, ao inovar, irradiar avanços para outros segmentos da economia.
Se queremos um país mais competitivo, digital e conectado, precisamos enxergar o varejo não apenas como motor de consumo, mas como protagonismo da inovação. É nele que o futuro já começou, e será dele a responsabilidade de acelerar a transformação do presente.

*Por Alessandro Gil, vice-presidente da Wake