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Pequenas empresas têm pior resultado trimestral desde 2021

O faturamento das pequenas e médias empresas brasileiras (PMEs) registrou retração de 1,2% no primeiro trimestre de 2025 em comparação ao mesmo período do ano anterior, segundo o Índice Omie de Desempenho Econômico das PMEs (IODE-PMEs). Em relação ao quarto trimestre de 2024, a queda foi de 1,5%.
O resultado representa o pior desempenho do indicador desde o último trimestre de 2021, com impacto negativo em setores como Serviços, Indústria e Infraestrutura. O IODE-PMEs acompanha o desempenho de empresas com faturamento anual de até R$ 50 milhões, monitorando 736 atividades econômicas nos setores de Comércio, Indústria, Infraestrutura e Serviços.
Segundo o economista e gerente de Indicadores e Estudos Econômicos da Omie, Felipe Beraldi, o índice já indicava perda de dinamismo nas PMEs desde meados do quarto trimestre de 2024. “Apesar da continuidade no crescimento dos rendimentos reais do trabalho — principal componente da renda das famílias brasileiras —, o aumento das incertezas fiscais em relação aos próximos anos tem pressionado as expectativas inflacionárias e impulsionado a alta das taxas de juros, comprometendo o poder de compra das famílias”, afirmou.
Beraldi também citou o ambiente externo como fator adverso, com destaque para as incertezas relacionadas à política tarifária dos Estados Unidos e as respostas de outras grandes economias, especialmente a China.
Entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025, a confiança dos consumidores caiu 7,6%, conforme a Sondagem do Consumidor da FGV-IBRE. A piora das expectativas econômicas também foi identificada na Sondagem Omie das Pequenas Empresas, realizada em março. Nela, 51% dos empreendedores demonstraram expectativa de piora na economia, frente aos 39% que tinham essa percepção em setembro de 2024. “Diante desse contexto, a queda do IODE-PMEs no primeiro trimestre de 2025 reforça a percepção de que este será um ano mais desafiador para a economia brasileira”, comentou Beraldi.
O setor de Comércio apresentou crescimento de 7,9% no faturamento médio real das PMEs no primeiro trimestre, na comparação com igual período de 2024. No entanto, houve diferença entre atacado e varejo. O atacado cresceu 10,2%, com destaque para as atividades de ‘Comércio atacadista de bebidas’, ‘Comércio atacadista de resinas e elastômeros’ e ‘Comércio atacadista de resíduos de papel e papelão’. Já o varejo teve queda de 1,3%, mesmo após sinais de recuperação no segundo semestre de 2024. Entre os destaques positivos no varejo estão ‘Varejo de medicamentos veterinários’, ‘Varejo de equipamentos para escritório’ e ‘Varejo de livros’.
No setor de Serviços, que concentra o maior número de PMEs, houve estabilidade no faturamento, com variação de -0,2% em relação ao primeiro trimestre de 2024. Atividades como ‘Alimentação’, ‘Atividades profissionais, científicas e técnicas’ e ‘Serviços pessoais’ tiveram retração, enquanto ‘Informação e comunicação’, ‘Transporte e Armazenagem’ e ‘Atividades financeiras’ registraram crescimento.
A retração nas pequenas empresas dos setores varejistas e de parte dos Serviços foi atribuída à pressão inflacionária e à queda na confiança dos agentes econômicos. A alta nas taxas de juros também afetou atividades mais intensivas em capital, como Indústria e Infraestrutura.
Na Indústria, a retração foi de 5,8% no primeiro trimestre de 2025. De 23 subsetores da indústria de transformação acompanhados pelo índice, 15 apresentaram queda. Ainda assim, algumas atividades cresceram, como ‘Impressão e reprodução de gravações’, ‘Fabricação de produtos de madeira’ e ‘Fabricação de produtos de metal’.
Na Infraestrutura, houve retração de 3,3%, revertendo o crescimento de 9,7% observado no quarto trimestre de 2024. Setores como ‘Obras de Infraestrutura’, ‘Construção de edifícios’ e ‘Serviços especializados para a construção’ tiveram desempenho negativo, enquanto ‘Água, esgoto, gestão de resíduos e descontaminação’ registrou crescimento.
Na análise regional, o Sudeste (+0,6% YoY) e o Centro-Oeste (+2,5% YoY) tiveram crescimento no faturamento das PMEs no primeiro trimestre. Já as regiões Sul e Nordeste registraram retração de 3,5%, enquanto o Norte teve queda de 10,4%.
Segundo Beraldi, apesar dos desafios, o cenário básico para a economia brasileira ainda aponta para crescimento, embora em ritmo mais lento. “Em termos gerais, os resultados recentes do IODE-PMEs reforçam a expectativa de que o setor de PMEs deverá crescer de maneira mais alinhada às projeções gerais para o PIB brasileiro (com a mediana das previsões atualmente em torno de 2%, conforme o Boletim Focus do Banco Central). Esse cenário é diferente dos últimos anos, quando o mercado de PMEs cresceu a um ritmo mais acelerado do que a economia como um todo”, afirmou.
Imagens: Envato e Omie