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Varejo alimentar: panorama atual, tendências e transformações

O varejo alimentar ocupa uma posição estratégica na economia brasileira e na vida dos consumidores. Presente no cotidiano das famílias, ele engloba todos os estabelecimentos responsáveis pela comercialização de alimentos ao consumidor final, como supermercados, hipermercados, atacarejos, mercearias, entre outros formatos. Nos últimos anos, esse segmento tem passado por transformações relevantes, impulsionadas por mudanças de comportamento do consumidor, avanços tecnológicos e reestruturações operacionais por parte das grandes redes. Neste post, você confere um panorama atualizado do setor, com base em estudos recentes, além de compreender os principais formatos existentes e as tendências para o futuro.
O que é o varejo alimentar e quais são seus formatos
Varejo alimentar é o conjunto de atividades comerciais voltadas à venda de alimentos e itens de consumo imediato ou recorrente. Sua importância vai além do abastecimento das famílias: trata-se de um dos setores que mais geram empregos e movimentam a economia no Brasil.
Entre os formatos existentes, alguns se destacam pela abrangência e presença em diferentes regiões do país. Os supermercados são os mais tradicionais, com foco em conveniência, proximidade e sortimento variado. Já os hipermercados reúnem alimentos, eletrodomésticos, roupas e itens para o lar em um único local, geralmente com estruturas maiores e fora dos centros urbanos.
Nos últimos anos, o formato atacarejo, também conhecido como cash & carry, tem ganhado força. Ele combina características do atacado (com preços mais baixos e vendas em maiores volumes) com a lógica do varejo tradicional. É um modelo que atrai tanto consumidores finais quanto pequenos comerciantes. Outro tipo relevante é o atacado puro, voltado exclusivamente para vendas em grandes quantidades a revendedores, geralmente exigindo cadastro.
Além desses, há os supermercados compactos, com estruturas menores, voltados à praticidade e ao consumo imediato, e as lojas de vizinhança, que atendem às compras rápidas e de reposição no dia a dia. Esse ecossistema diverso permite ao varejo alimentar se adaptar às diferentes necessidades e realidades de consumo no país.
O desempenho do setor em 2024 e o início de 2025
Segundo o relatório Varejo Alimentar em Contexto, da SA+ Conteúdo, o desempenho do setor em 2024 foi positivo, apesar dos desafios macroeconômicos. Os quatro maiores grupos com capital aberto no Brasil — Carrefour, Assaí, Grupo Mateus e GPA — somaram um faturamento de R$ 257,6 bilhões, crescimento de 7,7% em relação ao ano anterior. Esse resultado superou em 2,5 pontos percentuais a média do setor varejista como um todo, segundo dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC/IBGE).
Regionalmente, os maiores crescimentos em volume de vendas foram registrados no Rio Grande do Sul, com alta de 12%, e na Bahia, com 11%. Esse desempenho reflete tanto a recuperação econômica em algumas regiões quanto a expansão das redes para fora do eixo tradicional Sudeste-Sul.
Já no primeiro trimestre de 2025, conforme dados da plataforma Rock Encantech, o setor cresceu 2,2% na comparação com o mesmo período de 2024. Embora a quantidade de itens por transação tenha caído, o aumento do ticket médio e dos preços sustentou a alta no faturamento. Um fator relevante foi o desempenho dos consumidores fidelizados, cujo faturamento subiu 13,3%, evidenciando a eficácia de programas de relacionamento.
O atacarejo como motor de crescimento
Entre os formatos existentes, o atacarejo continua sendo o principal motor de crescimento do varejo alimentar brasileiro. De acordo com o estudo da SA+ Conteúdo, as operações de cash & carry das principais redes (como o Atacadão (Carrefour), Mix Mateus (Grupo Mateus) e Assaí) tiveram crescimento médio de quase 15% em 2024.
No entanto, esse avanço ainda depende fortemente da abertura de novas unidades. Nas lojas com pelo menos um ano de funcionamento, o crescimento foi de apenas 2,1%. Isso revela que, embora o modelo siga atraente para o consumidor, a estratégia de expansão ainda se baseia mais em capilaridade do que em ganho de eficiência operacional.
O atacarejo se consolidou como uma resposta direta ao comportamento de consumo mais racional, especialmente em períodos de inflação elevada. A busca por preços mais competitivos e pela possibilidade de compras em volume tornou esse formato preferido por muitas famílias e pequenos empreendedores.
Supermercados demonstram resiliência
Apesar da ascensão do atacarejo, os supermercados tradicionais seguem relevantes no cenário nacional. O estudo mostra que o Grupo Mateus liderou o crescimento total nesse canal, enquanto o GPA registrou os melhores números em lojas já existentes.
Mesmo o Carrefour, que enfrentou um processo de reestruturação, com fechamento e conversão de unidades, mantém forte presença no setor. A retração de 9,4% nas vendas totais e de 3,4% nas mesmas lojas demonstra os efeitos dessa transição, mas também aponta para uma readequação necessária ao novo perfil do consumidor.
Outro destaque foram os supermercados compactos, que cresceram 4,1% no faturamento no início de 2025. Impulsionados pela busca por praticidade, esses estabelecimentos se mostraram eficientes para atender consumidores que priorizam conveniência, agilidade e localização próxima de casa ou do trabalho.
Rentabilidade segue como desafio
Apesar do crescimento de receita, a rentabilidade do varejo alimentar ainda é um ponto crítico. As margens bruta e EBITDA permanecem pressionadas, e os lucros das principais redes variaram entre modestos e negativos. O Carrefour, por exemplo, registrou prejuízo, enquanto Assaí e Grupo Mateus mantiveram margens positivas, mas estreitas.
Esse cenário está ligado a fatores como custos logísticos, inflação de insumos, alta competitividade e necessidade de investimentos em tecnologia e expansão. Em um mercado com margens tradicionalmente apertadas, a eficiência operacional e a gestão de estoques tornam-se diferenciais importantes.
Tendência de consolidação e regionalização
Um movimento claro no setor é a consolidação. As grandes redes vêm ampliando sua participação no mercado por meio da expansão em estados fora do Sudeste, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste. O crescimento do Grupo Mateus é um exemplo dessa tendência: originado no Maranhão, o grupo tem se fortalecido em estados vizinhos com um modelo de negócios voltado à realidade local.
Essa consolidação reflete também a complexidade da operação no varejo alimentar. Grandes empresas contam com melhores condições para negociar com fornecedores, investir em tecnologia e desenvolver estratégias de fidelização — fatores que as tornam mais competitivas frente a operadores regionais de menor porte.
A força da fidelização e o impacto da sazonalidade
Os programas de fidelização se tornaram ferramentas centrais para o crescimento do setor. Como mostra o relatório da Rock Encantech, os consumidores fidelizados geraram um aumento de 13,3% no faturamento no início de 2025. Isso revela o potencial de ações personalizadas, benefícios exclusivos e relacionamento contínuo com o cliente.
Além disso, o setor segue altamente influenciado pela sazonalidade. Em 2025, por exemplo, o adiamento da Páscoa para abril impactou negativamente os resultados de março. Esse tipo de variação exige planejamento logístico e promocional por parte das redes, que precisam adaptar seus estoques e campanhas conforme o calendário.
Desafios macroeconômicos e o futuro do varejo alimentar
O varejo alimentar precisa lidar com fatores externos que afetam diretamente o consumo, como inflação, clima extremo e câmbio volátil. Esses elementos dificultam o planejamento e pressionam os custos, exigindo resiliência e capacidade de adaptação.
Para o futuro, algumas tendências ganham destaque. A digitalização dos processos, o avanço do e-commerce alimentar, a integração entre canais físicos e digitais (omnichannel) e o uso de inteligência artificial para gestão e personalização das ofertas são alguns dos caminhos para modernizar as operações e atender melhor às expectativas dos consumidores.
Além disso, a busca por sustentabilidade, tanto em embalagens quanto na origem dos produtos, já começa a impactar as decisões de compra, principalmente entre públicos mais jovens e urbanos.
Considerações finais
O varejo alimentar brasileiro está em transformação. O crescimento do atacarejo, a consolidação das grandes redes, a valorização da fidelização e os novos hábitos de consumo redesenham o setor em ritmo acelerado. Ainda que os desafios de rentabilidade e o cenário macroeconômico exijam atenção constante, os resultados recentes indicam um setor resiliente, estratégico e pronto para evoluir.
Para quem atua no varejo ou acompanha o setor de perto, entender essas dinâmicas é essencial. O que está em jogo não é apenas a venda de alimentos, mas a construção de experiências de compra relevantes, acessíveis e eficientes, capazes de atender milhões de brasileiros todos os dias.
Imagem: Envato