Inovação
Linx: mais que software, aliada na evolução do varejo brasileiro

A tecnologia tem desempenhado um papel cada vez mais fundamental no desempenho e na competitividade das empresas varejistas. Nesse cenário, a Linx se consolidou como uma das principais fornecedoras de soluções em software para o varejo no Brasil e na América Latina. Com uma trajetória marcada por inovação, aquisições estratégicas e grande impacto no setor, a empresa tem sido uma referência quando o assunto é transformação digital do varejo. Este post explora em profundidade a história da Linx, sua importância para o mercado, os desdobramentos da sua venda para a Stone, e os recentes movimentos envolvendo a possível venda da companhia.
A origem da Linx: da Microserv à liderança no varejo
A história da Linx começa oficialmente em 2004, mas suas raízes remontam ao ano de 1985, quando Nércio Fernandes fundou a Microserv Comércio e Consultoria Ltda, ao lado de outros empreendedores. A empresa nasceu com foco em desenvolver soluções de software voltadas para o setor de vestuário. Seu primeiro sistema, o MicroMalhas, foi criado para atender às necessidades específicas das indústrias têxteis e de confecção, oferecendo desde ferramentas de design e aproveitamento de tecido até a gestão da chegada dos produtos nas lojas.
Esse foco inicial em nichos específicos do varejo ajudou a empresa a desenvolver uma profunda compreensão das necessidades do setor. A evolução da Microserv culminou, em 2004, na criação da Linx, que surgiu com a proposta de ser uma empresa especializada em software de gestão empresarial (ERP), frente de loja (POS), e soluções digitais integradas para o varejo. A partir daí, a empresa iniciou uma trajetória sólida rumo à liderança de mercado, apoiada por um modelo de negócios orientado à inovação constante.
Crescimento por aquisições e diversificação de portfólio
Um dos grandes diferenciais da Linx foi sua estratégia agressiva e bem-sucedida de crescimento por meio de aquisições. Entre 2008 e 2020, a empresa incorporou mais de 35 empresas que atuavam em diferentes segmentos do varejo. Esse movimento estratégico permitiu que a Linx ampliasse sua atuação e passasse a oferecer soluções especializadas para farmácias, postos de gasolina, supermercados, moda, e-commerce, franquias, entre outros setores.
Em 2015, por exemplo, a Linx adquiriu as empresas Neemu e Chaordic, líderes em personalização da experiência de compra online. Já em 2016, incorporou a Intercamp Sistemas, especializada em soluções para postos de combustível e lojas de conveniência. Um ano depois, realizou sua primeira aquisição internacional, comprando o grupo argentino Synthesis. Em 2019, reforçou sua presença no setor de e-commerce com a aquisição da Millennium Network e da startup catarinense Hiper, voltada para pequenos varejistas. Em 2020, a empresa comprou a Mercadapp, plataforma de vendas online voltada para supermercados, marcando sua entrada no modelo “white label”.
Cada uma dessas aquisições fortaleceu a Linx em sua missão de ser uma plataforma completa para o varejo. Ao unir diferentes expertises e tecnologias, a empresa criou um ecossistema robusto que hoje oferece desde soluções para o ponto de venda até sistemas complexos de gestão integrada e logística omnichannel.
A compra da Linx pela Stone: uma união estratégica
Em agosto de 2020, a Stone, empresa brasileira de soluções de pagamentos, anunciou a aquisição da Linx por R$ 6,7 bilhões. A transação, que movimentou o mercado financeiro e chamou a atenção do setor varejista, foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em meados de 2021.
A ideia era criar um ecossistema completo que unisse software de gestão com soluções de pagamento, oferecendo aos varejistas uma jornada mais integrada e eficiente. A expectativa era de que a união potencializasse a atuação da Stone no mercado de software, ao mesmo tempo em que traria novas fontes de receita e sinergia de produtos.
No entanto, a integração entre as duas companhias acabou esbarrando em obstáculos práticos. O principal deles foi o desalinhamento entre os perfis de clientes: enquanto a Stone tem como público-alvo principal pequenos e médios empreendedores, a Linx atua de forma mais intensa junto a empresas de médio e grande porte. Esse descompasso dificultou a integração das ofertas e impediu que o valor total da sinergia fosse alcançado.
Além disso, a Stone passou por desafios internos, como o aumento da inadimplência de sua vertical de crédito. Isso acabou desviando o foco da companhia da integração com a Linx, o que reduziu a velocidade da implementação das sinergias previstas inicialmente.
Soluções que transformam o varejo
Apesar dos desafios enfrentados pela controladora, a Linx continuou a avançar em termos de produtos e soluções tecnológicas. Seu portfólio segue sendo um dos mais completos do mercado, com sistemas que atendem desde pequenos lojistas até grandes redes varejistas.
Entre os destaques está a plataforma Linx OMS (Order Management System), uma solução omnichannel que permite integrar estoques de lojas físicas, centros de distribuição e e-commerce. Essa plataforma é dividida em cinco módulos principais — Estoque, Frete, Cockpit, Instore e Pedido — e tem como objetivo otimizar a operação de pedidos, reduzir rupturas, melhorar o aproveitamento do estoque e proporcionar uma melhor experiência ao consumidor.
Além disso, a empresa oferece soluções voltadas para o varejo farmacêutico, moda, alimentação, eletroeletrônicos, e muito mais. As tecnologias da Linx permitem que o varejista ofereça uma jornada fluida e integrada ao cliente, conectando os mundos físico e digital de forma inteligente. Por meio do uso de big data, inteligência artificial e análise preditiva, as soluções desenvolvidas pela Linx têm ajudado empresas a tomar decisões mais acertadas, reduzir custos e aumentar a eficiência operacional.
Reconhecimento e presença de mercado
A Linx se consolidou como uma das empresas mais inovadoras do Brasil na área de tecnologia para o varejo. Em 2019, tornou-se a primeira companhia brasileira do setor a abrir capital na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), antes mesmo de ser adquirida pela Stone.
Hoje, a empresa conta com mais de 3.500 colaboradores e está presente em todos os estados do Brasil, além de ter operações na Argentina, Colômbia, México, Peru e República Dominicana. Seu compromisso com a transformação digital do varejo e a proximidade com os clientes têm sido pilares fundamentais para sua permanência entre as líderes do setor.
A venda da Linx: uma nova fase à vista
Quatro anos após a aquisição, a Stone iniciou em 2024 um processo formal de venda da Linx. A fintech contratou os bancos de investimento Morgan Stanley e J.P. Morgan para conduzir as negociações, com o objetivo de encontrar um novo comprador para a empresa de software.
O principal motivo para essa decisão foi a dificuldade em gerar sinergia entre as operações da Stone e da Linx. Como já mencionado, os perfis distintos de clientes e a complexidade da integração tecnológica pesaram para que a Stone decidisse se desfazer do ativo. A venda também representa uma tentativa da fintech de reestruturar seu portfólio e voltar a concentrar esforços no que considera seu core business: meios de pagamento.
As primeiras propostas recebidas pela Stone, no entanto, não foram animadoras. Segundo informações do mercado, nenhuma oferta atingiu o valor pago na aquisição, e a empresa decidiu não ter pressa para concluir a transação. Entre os potenciais compradores que demonstraram interesse estiveram a Totvs — que já havia disputado a compra em 2020 e se retirou do processo em fevereiro de 2025 — e a canadense Constellation Software.
Ainda não há uma definição oficial sobre o futuro da Linx, mas é certo que a venda, se concretizada, trará novos desafios e oportunidades para a companhia. A depender do perfil do comprador, a empresa pode reforçar ainda mais seu papel como líder em soluções tecnológicas para o varejo, ou até mesmo redirecionar sua estratégia para explorar novos mercados e segmentos.
A importância da Linx para o futuro do varejo
Independentemente do desfecho da venda, a Linx permanece como uma das peças-chave na digitalização do varejo brasileiro. Sua capacidade de entender as necessidades do setor e oferecer soluções que realmente geram impacto nas operações faz com que a empresa seja vista como uma parceira estratégica por milhares de varejistas.
O futuro do varejo passa por uma profunda transformação tecnológica, onde a integração entre canais, a personalização da experiência do consumidor, a automação de processos e o uso intensivo de dados são requisitos indispensáveis. Nesse contexto, empresas como a Linx assumem papel central, não apenas como fornecedoras de tecnologia, mas como facilitadoras da evolução do setor.
Ao longo de sua trajetória, a Linx provou que sabe se adaptar às mudanças e antecipar tendências. Do seu nascimento como um sistema para o setor de vestuário à liderança em soluções omnichannel, a empresa continua sendo um exemplo de como a tecnologia pode — e deve — ser uma aliada estratégica do varejo.
Considerações finais
A Linx representa muito mais do que uma empresa de software: ela é um reflexo da evolução tecnológica do varejo brasileiro. Com uma trajetória sólida, baseada em inovação, aquisições estratégicas e uma profunda conexão com o setor, a companhia moldou a forma como os varejistas operam, se relacionam com o cliente e se adaptam ao mercado.
Seja sob a gestão da Stone ou de um futuro novo controlador, a Linx deve continuar como protagonista no desenvolvimento de soluções que transformam o varejo. Para os varejistas atentos às mudanças do mercado, acompanhar os próximos passos da empresa é essencial — tanto para entender as novas tecnologias quanto para identificar oportunidades de crescimento e diferenciação em um ambiente cada vez mais competitivo.
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