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A gênese de (quase) todos os problemas
No momento em que o empreendedor se torna franqueador, um compromisso espontaneamente é firmado consigo mesmo e com o universo: a expansão da rede.
A expansão de uma rede de franquias requer ritmo, porque os gastos de se manter a estrutura de suporte e funcionamento não esperam o crescimento chegar. Sim, o crescimento deve se dar de forma orgânica, mas ainda assim, há uma certa urgência na expansão, porque ter uma rede robusta é a razão para ter se tornado franqueador, para começo de conversa.
Mas esse ritmo não pode se dar em prejuízo da qualidade; o descompasso com boas práticas no momento em que o candidato está para se tornar um franqueado, pode comprometer o futuro de uma rede harmônica.
E o que são essas boas práticas?
São algumas: uma Circular de Oferta de Franquia bem redigida, em linguagem clara, acessível e elaborada especificamente para a operação, sem cópias da internet; o respeito ao prazo da Lei, que dá ao candidato no mínimo 10 dias para tomar a decisão. Mínimo, não máximo. Um primeiro contato para estabelecer uma conversa que precede a obtenção de informações. Uma segunda conversa e, se o processo se seguir, uma conversa com o comitê da Franqueadora.
E a todo momento e durante todo o processo, conversas regadas com a verdade nua e crua. Se a presença do franqueado for essencial para o sucesso do negócio, é bom dizer que ele deverá trabalhar enquanto outros descansam; exponha situações reais como o tempo de maturação e que ser dono do próprio negócio requer sacrifícios.
De nada adianta embelezar situações que o franqueado certamente enfrentará logo nos primeiros dias da franquia. Isso será causa de imediata frustração por parte do franqueado, gerando dúvida a respeito do negócio e, se outras desinformações foram fornecidas, a dúvida gera raiva e rancor, o que obviamente terá um reflexo negativo gigantesco sobre o resultado da franquia.
Portanto, falar a verdade pode poupar as partes de um provável processo judicial.
Por outro lado, muitas vezes o candidato ouve o que não lhe foi dito. As expectativas ficam desalinhadas e naturalmente problemas advirão.
Assim, a gênese de boa parte dos problemas nas franquias está no desalinhamento inicial das expectativas de uma parte à outra. Pintar a franquia de ouro para acelerar as vendas, terá consequências danosas a médio e longo prazo, fazendo com que tal prática seja efêmera, e o preço a pagar seja muito alto; comprar uma franquia para ficar rico rápido ou para trabalhar menos, é o início de um triste fim.
O desalinhamento das expectativas é a semente da ilusão e, como tal, gera frutos da mesma ordem. É bem fácil entender o que isso gera: “quando comprar a franquia, vou trabalhar menos do que trabalho para os outros, terei mais tempo para viajar e ficar com meus filhos”. A realidade cai como uma enorme pedra na cabeça, quando se percebe que não dá tempo de viajar tanto quanto se imaginava e nem de ficar mais tempo com os filhos.
Por isso a honestidade traz a realidade para o processo de seleção e, quando isso acontece e o candidato percebe, é justamente como um sonho pode se concretizar. Quem entende que precisará trabalhar, certamente não se frustrará com o que o espera quando der início às atividades da franquia. Quando chegar o momento, arregaçará as mangas para viver o sonho de ter seu próprio negócio, que lhe proporcionará viagens e tempo de qualidade com seus filhos.
Assim, junto com outras boas práticas, inclua a honestidade na lista, porque ela é o caminho mais curto para levá-lo até uma rede robusta e perene. O começo pode ser lento, mas os ganhos, serão permanentes.
Thais Kurita é advogada especializada em franchising e varejo, sócia da Novoa Prado Advogados