Colunistas
A importância dos lojistas satélites no cenário do varejo
O lojista satélite é, sem dúvida, o coração pulsante dos shoppings brasileiros. Responsável por cerca de 70% da área locada, ele traz uma diversidade de lojas e serviços que atraem consumidores e dão vida aos empreendimentos. Não há como imaginar um shopping consolidado sem um mix bem estruturado desses negócios.
Manter operações saudáveis, no entanto, é um desafio constante. O custo de ocupação, que envolve aluguel, condomínio e fundo de promoção, é um dos fatores mais críticos. Em muitos casos, esses custos chegam a ultrapassar 20% do faturamento mensal, forçando lojistas a reduzirem operações, com fechamento de lojas ou redução de áreas, ou, até mesmo, migrar para lojas de rua, onde os custos são menores. Essa situação reflete uma necessidade urgente de reavaliar a sustentabilidade das operações. Algumas receitas, como as relacionadas à exploração dos estacionamentos, poderiam ser redistribuídas de forma mais justa entre os lojistas, visando diminuir os custos com o condomínio e IPTU.
Ainda que tanto lojas satélites quanto âncoras enfrentem desafios com custos, os lojistas satélites têm uma vantagem: a flexibilidade. Enquanto lojas âncoras lidam com grandes espaços e complexidade para ajustes, lojistas menores conseguem adaptar suas operações rapidamente. Essa capacidade de reagir ao mercado é essencial em um momento em que o varejo passa por mudanças rápidas e grandes varejistas estão fechando lojas.
O crescimento do e-commerce é uma realidade que o varejo físico precisa integrar de forma estratégica. É importante destacar a diferença entre as vendas online realizadas por lojistas nacionais, que geram empregos e pagam impostos, e as plataformas estrangeiras, que até recentemente operavam sem qualquer tributação no país. Programas como o Remessa Conforme representam uma iniciativa significativa para a conformidade tributária no comércio eletrônico, mas é essencial que a tributação seja aplicada diretamente na receita dos sites estrangeiros, além de garantir que os produtos importados cumpram as regulamentações brasileiras, como as exigências do INMETRO.
A operação de lojas de rua tem se mostrado financeiramente viável para muitos lojistas, especialmente em áreas comerciais com alta circulação. No entanto, a experiência em shoppings, que oferece segurança, serviços e conveniência ao consumidor, ainda é uma vantagem competitiva. O desafio é encontrar um equilíbrio que permita aos lojistas lucrarem e ao shopping manter sua proposta de valor.
O varejo mudou radicalmente com a pandemia e com a nova geração de consumidores, que valoriza produtos de maior qualidade e com impacto sustentável. Manter-se relevante exige entender esse novo comportamento, treinar equipes e alinhar-se às tendências de mercado. Além disso, é essencial encontrar maneiras de praticar preços competitivos em um cenário de alta carga tributária, instabilidade econômica, concorrência com plataformas internacionais e agora o desafio das Bets, que também está interferindo no consumo brasileiro.
O futuro dos lojistas satélites depende de inovação, adaptação e cooperação. É necessário manter o foco em atender o cliente com excelência e se preparar para as mudanças que moldam o mercado. A parceria entre lojistas e shoppings deve ser fortalecida, para que ambos possam prosperar nesse novo cenário, que exige eficiência e inovação em todos os níveis. A ABLOS seguirá trabalhando para garantir que nossos lojistas tenham as condições necessárias para enfrentar esses desafios e aproveitar as oportunidades que surgem nesse novo panorama do varejo.
Com dedicação e planejamento, acredito que podemos transformar cada obstáculo em uma oportunidade de crescimento e desenvolvimento para todo o setor.
Imagem: Envato
(*) Mauro Francis, Presidente da ABLOS – Associação Brasileira dos Lojistas Satélites de Shoppings