Operação
Banco Central encerra projeto do Drex e redefine foco para 2026
O Banco Central (BC) encerrou o projeto do Drex, moeda digital brasileira inicialmente desenvolvida para simplificar operações financeiras por meio da tokenização. O anúncio foi feito a representantes dos consórcios participantes da iniciativa. Segundo fontes ouvidas pelo Valor Investe, a plataforma será desligada na próxima semana.
O Drex, sigla para “Digital Real X”, foi criado em 2020 a partir de um grupo de trabalho que estudava a viabilidade de uma moeda digital nacional. No ano seguinte, o BC divulgou as diretrizes do projeto, que incluíam pagamentos no varejo e operações online e offline. Em 2023, tiveram início os testes com 16 participantes, e a primeira transferência entre bancos foi realizada em caráter experimental. As etapas seguintes previam novas fases de testes em 2024 e 2025, com lançamento ao público estimado para o início de 2025, o que não se concretizou.
De acordo com informações compartilhadas com os consórcios, parte da infraestrutura baseada em DLT (Distributed Ledger Technology) será desativada em 10 de novembro. O BC justificou a decisão apontando que as soluções testadas não atendem aos requisitos de privacidade e sigilo bancário exigidos pelo sistema financeiro.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, Fábio Araújo, coordenador do Drex, afirmou que as “soluções testadas até o momento, apesar de promissoras, ainda não apresentam nível de maturidade compatível com o que é requerido pelos serviços operados no sistema financeiro nacional”. Ele também destacou que chamar o Drex de “moeda digital” pode gerar confusão, já que “não é seu ponto central”.
Fontes próximas ao projeto confirmaram ao Valor Investe que “realmente, trata-se do fim do Drex”, mas ressaltaram que “o movimento não deve ser interpretado como um fracasso”, uma vez que o projeto demonstrou o potencial da tecnologia blockchain. O Banco Central entende que “não é viável manter uma infraestrutura estatal para viabilizar esses negócios”.
Em agosto, Araújo já havia informado que o BC deixaria de lado o uso da tecnologia blockchain devido à impossibilidade de garantir a privacidade das transações entre instituições financeiras. O órgão ainda não divulgou comunicado oficial sobre o encerramento.
Entre os próximos passos, o BC deve avaliar os benefícios identificados pelos participantes do projeto e estudar novos modelos de negócio que possam dar continuidade às inovações.
Em nota, André Carneiro, presidente da BBChain (uma das empresas participantes), afirmou que “novos modelos de negócios, com escopo mais direcionado pelo mercado, podem ter requisitos atendidos sem as eventuais restrições regulatórias do piloto Drex, liberando o potencial das tecnologias DLT/Blockchain, cabendo ao mercado um maior papel nesta evolução.”
O BC planeja retomar os estudos sobre tokenização e novos modelos tecnológicos no início de 2026, com foco em uma arquitetura considerada “agnóstica”. O objetivo é criar um ambiente interoperável para ativos tokenizados e garantir que a liquidação das transações seja feita com moeda do Banco Central. Uma das metas é desenvolver mecanismos seguros para o uso de ativos como garantia de crédito.
Com informações de Valor e Folha de S. Paulo
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