Comportamento
Brasileiros fazem empréstimos para financiar apostas online, diz pesquisa
Nos últimos anos, o mercado de apostas online no Brasil tem experimentado um crescimento explosivo, o que tem preocupado os governantes. Cerca de 15% da população brasileira joga ou já jogou nas famosas bets. Só no ano passado, os brasileiros gastaram mais de 50 bilhões de reais em apostas online, segundo dados do Banco Central – este valor corresponde a mais do que o balanço das exportações brasileiras de carne bovina do ano inteiro, que movimentou cerca de 45 bilhões, sendo o Brasil um dos maiores exportadores do alimento no mundo.
Dados inéditos levantados pela klavi – empresa entre as pioneiras do Brasil na coleta e inteligência de dados provenientes de contas bancárias através de compartilhamento voluntário de dados –, revelam um cenário preocupante: 29% das pessoas que buscaram empréstimos nos últimos 12 meses fizeram ao menos um depósito em casas de apostas durante o mesmo período. O valor médio gasto em bets por essas pessoas foi de R$1.113,09, mas há casos extremos, com 5% dos apostadores gastando mais de R$4 mil reais. Em situações ainda mais alarmantes, alguns indivíduos chegaram a fazer depósitos superiores a R$50 mil em apostas antes de recorrerem a empréstimos.
Quanto aos valores dos empréstimos solicitados por essas pessoas, a klavi revela que a maioria busca quantias relativamente baixas, variando entre R$500 e R$4.000 reais. Esses números indicam uma relação preocupante entre o comportamento de apostas e a necessidade de crédito, sugerindo que, para muitos, o custo do jogo pode estar diretamente relacionado à busca por auxílio financeiro.
Nesse sentido, Bruno Moura, Diretor de Negócios e Marketing da klavi, ressalta que este cenário é um cenário preocupante. “Isso é um reflexo de uma crise financeira crescente. Esse comportamento não apenas coloca em risco a saúde financeira dos indivíduos, mas também evidencia a necessidade urgente de uma abordagem mais proativa e responsável por parte das instituições financeiras e regulatórias”, pondera.
Segundo o Datafolha, o gasto mensal dos apostadores é de 263 reais. Além do mais, 17% dos que recebem Bolsa Família apostam. Destes, um terço gasta mais de 100 reais por mês com apostas esportivas. Se olharmos para o mundo, o Brasil só perde para os Estados Unidos e Reino Unido em volume de apostas, superando Índia e Itália. De todos os apostadores, 49% pertencem à classe C e 37% à classe B. Deles, 61% são homens e 39% mulheres, segundo o instituto.
“Esse cenário é particularmente inquietante quando consideramos que muitos dos apostadores são beneficiários de programas sociais, como o Bolsa Família. Isso indica que, para alguns, a promessa de um grande prêmio está levando a decisões financeiras precipitadas e arriscadas, que podem ter consequências devastadoras no longo prazo”, ressalta Bruno Moura.
A partir da próxima semana, o Google anunciou que só aceitará anúncios de casas de apostas regularizadas no Ministério da Fazenda. A decisão vem depois de o governo anunciar que, a partir de 1º de outubro, vai suspender a operação das bets que ainda não pediram autorização para funcionar no país.
O perigo por trás das bets: endividamento e vício
Pesquisa realizada pela Hibou Pesquisa e Insights revela que 2/3 dos entrevistados afirmaram participar de bets, sendo a maioria preferindo loterias (47%), seguido de apostas online (11%) e jogos como o “tigrinho” (8%) ainda sendo menos populares. Curiosamente, 2/3 dos participantes jogam com o objetivo principal de ganhar dinheiro, e metade gasta entre 50 e 100 reais mensais, indicando um hábito de apostas relativamente moderado. Além disso, 48% dos jogadores relataram ter ganhos em modalidades como loteria e bingo, com valores sacados que variam entre 100 e 1.000 reais.
No entanto, a pesquisa da Hibou também aponta preocupações significativas. Embora 91% dos apostadores nunca tenham enfrentado problemas de segurança ou fraude, 16% admitiram ter sofrido dificuldades financeiras devido às bets, a ponto de venderem bens ou pedirem dinheiro emprestado. Além disso, 2/3 dos entrevistados conhecem alguém que já se endividou por causa dos jogos. Essa realidade reforça a percepção de que, para os não jogadores, o vício é uma preocupação real, com 88% acreditando que jogar vicia, especialmente em jogos como o “tigrinho”, considerado o mais perigoso e que, segundo 56% dos entrevistados, deveria ser proibido.
“É preciso urgentemente chamar a atenção para a necessidade de uma regulamentação mais rigorosa e de uma maior conscientização sobre os riscos associados às apostas. É essencial que o setor de crédito e as instituições financeiras estejam cientes dessa dinâmica para que possam tomar medidas que protejam os consumidores”, reflete Bruno Moura.
Ele explica, ainda, que, nesse contexto, o Open Finance pode desempenhar um papel transformador. Com o compartilhamento seguro e controlado de dados financeiros, o Open Finance oferece uma oportunidade única para uma compreensão mais profunda do perfil financeiro dos consumidores e isso pode ajudar as instituições financeiras a identificar comportamentos de risco e fornecer soluções mais eficazes e personalizadas. “Por exemplo, ao ter acesso a um panorama mais detalhado da situação financeira dos clientes, os credores podem criar mecanismos de proteção e educação financeira, ajudando a evitar que os consumidores caiam em ciclos de endividamento associados ao jogo”, finaliza.
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