Entidades do varejo lançam manifesto e cobram ação imediata do governo sobre apostas online; presidente da Ablos comenta

No dia 23 de setembro, em uma reunião com o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), representantes de importantes entidades do comércio, indústria, consumo e varejo apresentaram suas preocupações sobre o impacto das apostas online na economia brasileira. De acordo com Mauro Francis, presidente da Associação Brasileira dos Lojistas Satélite de Shoppings (Ablos), “a liberação das apostas em plataformas da internet tem afetado a vida das famílias brasileiras, aumentando a inadimplência e reduzindo o poder de compra dos cidadãos”.

No encontro, foi reforçada a necessidade de proibir o uso de cartões de crédito para apostas — medida que foi tomada na última terça-feira (1º) pela Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), se antecipando ao governo. As entidades também defenderam a regulamentação da publicidade e dos patrocínios relacionados às apostas, a responsabilização das empresas de jogos pelos impactos na saúde mental dos usuários e uma revisão da tributação das apostas online, que segundo o manifesto, deveria ser mais severa, equiparando-se às indústrias de tabaco e bebidas alcoólicas.

Os dados apresentados pelas entidades ao vice-presidente foram preocupantes. Segundo balanço do Banco Central, os correntistas do Banco Itaú movimentaram R$ 68 bilhões em apostas online no acumulado de 12 meses até junho, valor que representa 0,62% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Adicionalmente, uma análise do Banco Central estimou que os gastos mensais com apostas variam entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões, com R$ 3 bilhões sendo oriundos de beneficiários do Bolsa Família somente em agosto, correspondendo a 14% dos desembolsos do programa no mês.

Percebemos que o Governo já começou a se movimentar e implementar algumas ações que representam um passo importante na busca por soluções para os problemas causados pelas bets

Mauro Francis, presidente da Associação Brasileira dos Lojistas Satélite de Shoppings (Ablos)

Esses números foram apontados como um fator de preocupação por Mauro Francis. “O dinheiro das bets representa cerca de 15% dos gastos no comércio brasileiro, o que gera uma redução no consumo e, consequentemente, recessão da economia e endividamento da população”, declarou o presidente da entidade, que ainda alertou que a situação é grave especialmente quando parte desses recursos vem de beneficiários de programas assistenciais.

Ainda de acordo com Mauro Francis, o governo demonstrou sensibilidade em relação às demandas apresentadas. Alckmin teria se comprometido a levar as propostas aos ministérios da Fazenda, Saúde, Comunicações e Justiça. “O Ministério da Saúde avaliará formas de responsabilizar diretamente as casas de apostas pelos danos à saúde da população, enquanto o Banco Central irá monitorar as movimentações financeiras e coibir desvios. Percebemos que o Governo já começou a se movimentar e implementar algumas ações, que representam um passo importante na busca por soluções para os problemas causados pelas bets”, afirmou.

Em paralelo, o Ministério da Fazenda atualizou na última terça (1º). a lista de empresas de apostas autorizadas a operar no Brasil, que agora soma 205 plataformas pertencentes a 93 empresas. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comparou a regulamentação das apostas à da indústria do cigarro, afirmando que a demora em estabelecer regras claras para o setor pode prejudicar a recuperação econômica planejada para o próximo ano.

Mauro Francis garantiu que as entidades de comércio e varejo planejam continuar pressionando o governo para implementar as mudanças propostas, além de realizar uma campanha de conscientização pública sobre os riscos das apostas online. “Estamos empenhados em continuar a nutrir a mídia com dados e problemas com a falta de regulamentação e prejuízos à economia e nos colocamos à disposição do Governo para auxiliar no que for preciso”, concluiu.

Lista das entidades participantes do manifesto sobre apostas online

ABEVD – Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas

ABF – Associação Brasileira de Franchising

ABIESV – Associação Brasileira da Indústria de Equipamentos e Serviços para o Varejo

ABIÓPTICA – Associação Brasileira das Indústrias Ópticas

ABIT – Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção

ABLOS – Associação Brasileira dos Lojistas Satélite de Shoppings

ABMALLS – Associação Brasileira de Strip Malls

ABMAPRO – Associação Brasileira de Marcas Próprias e Terceirização

ABRASEL – Associação Brasileira de Bares e Restaurantes

ABVTEX – Associação Brasileira do Varejo Têxtil

AFRAC – Associação Brasileira de Tecnologia para o Comércio e Serviços

ANR – Associação Nacional de Restaurantes

CACB – Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil

CNDL – Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas

IDV – Instituto para Desenvolvimento do Varejo

IFB – Instituto Foodservice Brasil

Imagens: Divulgação