Economia
ESG: desafios, limites e boas práticas que envolvem o conceito
20% dos empreendedores brasileiros não conhecem o termo, e, muitas vezes ele é usado de maneira descoordenada
O termo ESG (do inglês, Ambiental, Social e Governança) é muito utilizado hoje em dia, e é uma demanda urgente para as empresas trabalharem com o conceito de sustentabilidade em três pontos: ambiental (buscando medidas de preservação do meio-ambiente e de redução dos impactos negativos), social (buscando diminuir desigualdades) e de governança (se preocupando com questões políticas). Esse conceito foi criado pela ONU em 2004, no Pacto Global, desde então, a discussão sobre o tema tem aumentado progressivamente.
Durante muitos anos, acreditou-se que as empresas deveriam apenas buscar o lucro desenfreado, visando sempre a maximização do valor gerado. Porém, com o conceito de ESG, essa visão é contraposta. Dentro dessa visão, as empresas devem dar retorno social, ambiental e de governança para o mundo, se preocupando com os impactos que elas causam ao seu redor.
Sobre o assunto, o economista ambiental Marcos Godoy afirma: “Antes de existir o ESG, a primeira coisa que existiu foi a chamada ‘responsabilidade social’, do século passado. A ideia seria de que a empresa teria que ter algum tipo de retorno para a sociedade. Em 1997, Elkington criou o conceito da sustentabilidade como três pilares, social, ambiental e econômico, como um trabalho voltado para empresas. E daí que aparece essa noção, que não é unânime, existem algumas pessoas que defendem que a empresa deveria só investir nos seus próprios negócios e deixar as preocupações para outras esferas, mas hoje em dia o conceito foi estourando cada vez mais”.
Desconhecimento
De acordo com uma pesquisa divulgada pelo Sebrae em agosto, O Engajamento dos Pequenos Negócios Brasileiros às práticas ESG, 81% dos gestores de pequenas empresas do Brasil conhecem o conceito de ESG.
O estudo foi realizado com micro e pequenas empresas, sendo a maioria de São Paulo, e 74% microempresas. Como resultado, a maioria das pessoas que estão à frente destes negócios não conhece o conceito de ESG. Porém, os gestores da região norte (ao contrário dos das regiões sul e sudeste) possuem mais conhecimento sobre o tema. “Na região norte, a gente tem uma uma situação em que é impossível ignorar os problemas ambientais, quando eles estão bem ali. Também, uma empresa que trabalha com ESG na Amazônia tem um holofote muito maior que uma empresa que trabalha com questões ambientais no Cerrado, por exemplo”, afirma Godoy.
Apesar de não conhecer o tema, a maior parte das empresas entrevistadas afirmam ter práticas alinhadas aos valores do ESG, como práticas ambientais e de redução às desigualdades e discriminação. Ainda que não tenha familiaridade com o tema, um terço dos respondentes afirma sentir pressão para que essas medidas sejam adotadas.
Desafios
Segundo Godoy, a aplicação do ESG nas empresas não é uma medida ordenada e, portanto, nem sempre eficaz. “O problema do ESG é que uma ação da empresa, muitas vezes, feita para melhorar sua própria imagem, usando balanças sociais e ambientais para gerar valor e captar mais investimentos. Também, muitas vezes as ações de ESG são muito desconexas. Os consumidores podem pressionar para que os produtos sejam sustentáveis, mas isso só funciona para alguns nichos. Por exemplo, você não sabe de onde vem o metal que está dentro do seu celular, ou do concreto da parede da sua casa”.
Para lidar com os desafios de implementação eficaz do ESG nas empresas, Godoy afirma que é preciso fazer planos de forma séria, que visem mais que o lucro, e que sejam a longo prazo. “Existe, por exemplo, uma madeireira na Amazônia (Cikel Brasil Verde Madeiras) que faz o manejo sustentável de 50 a 100 anos. Então eles extraem madeira de um trecho e aquele trecho é interditado e só pode ser explorado, a depender das condições do solo, depois de no mínimo 50 anos e no máximo 100. Isso é uma empresa que faz um trabalho sério. Outro exemplo é o tratamento do vinhoto, um subproduto da fabricação de álcool, que, antes de ter tecnologia para tratá-lo, era uma coisa tóxica que era jogada no ambiente. Hoje em dia ele é processado e se torna adubo para a própria plantação de cana”, explica.
Vale a pena investir em ESG?
A grande dúvida que os investidores, varejistas e empreendedores têm, hoje em dia, sobre a implantação do ESG nas empresas é se é uma medida economicamente favorável. Para Godoy, as práticas sustentáveis só são um peso quando elas não estão integradas na chamada economia de escopo, ou seja, quando elas são uma ação extra, e não parte do processo produtivo das empresas, como no caso do vinhoto e do álcool. “Se eu junto as duas coisas, ou seja, ter um interesse em comum, o investimento é positivo. Agora, se eu tenho que fazer uma ação que não tem nada a ver com a minha atividade principal, aí pode ter um desempenho ruim”, explica Godoy.
Além disso, desde que foi criado, em 2005, o Índice de Sustentabilidade (ISE) bateu a Ibovespa em 11 anos, perdendo para a bolsa brasileira em apenas quatro anos. Ou seja, investir em ESG pode ser muito bom para a sua empresa.
Papel do Estado
Segundo Godoy, é preciso que o Estado estabeleça normas de sustentabilidade e inclusão social para as empresas, para que as ações sejam coordenadas e alinhadas ao interesse comum. Para ele, isso deve acontecer em três eixos: “As políticas de comando e controle, que são aquelas políticas em que eu falo ‘aqui é uma reserva’, ‘aqui não pode entrar, não pode derrubar’; os instrumentos de mercado, que são quando eu tento fazer acordos entre empresas, por exemplo, a possibilidade de você desmatar em algum lugar e compensar em outra terra; e preservar as comunidades locais”, afirma o economista.
Segundo ele, a aceitação da crise climática e a organização de medidas para intervir nela passam por algo parecido com os cinco estágios do luto (negação, barganha, raiva, depressão e aceitação), e, até chegar na aceitação, ainda vamos passar por um período.
Imagem: Envato