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Evento Somos Multi bate recorde de público em encontro de multifranqueados

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Somos Multi

Na última semana, o evento Somos Multi foi palco de um debate sobre multifranqueados em São Paulo. Com mais de mil participantes no total, a segunda edição do encontro promovido pela CommUnit bateu recorde de visitantes no Mirante, no Allianz Parque. A organização considera que o evento é o maior congresso de franqueados e multifranqueados do Brasil.

Multifranqueados no Brasil: perfil e desafios

O Brasil é hoje o 4º maior mercado de franquias do mundo, com mais de 3 mil marcas ativas, mais de 200 mil unidades em operação e um faturamento anual superior a R$ 250 bilhões. São 61 mil franqueados, dos quais cerca de 60% possuem apenas uma loja. O movimento dos multifranqueados, no entanto, vem ganhando força: os 40% restantes já administram duas ou mais operações, e pelo menos 241 grupos econômicos controlam acima de 50 unidades cada, evidenciando a profissionalização crescente do setor

O perfil do multifranqueado brasileiro ainda está em desenvolvimento e apresenta características próprias. Em geral, trata-se de um empreendedor local, com crescimento orgânico e foco regional — muitas vezes limitado a uma cidade ou estado. Sua estrutura costuma ser familiar ou enxuta, com capital restrito e acesso limitado a linhas de crédito. A relação com a franqueadora tende a ser mais pessoal e informal, e a expansão acontece com ênfase em eficiência e margens

Para André Friedheim e Denis Santini, sócios da CommUnit e organizadores do Somos Multi, o crescimento natural do franchising passa por esse perfil de empreendedor. “O multifranqueado ganha escala. Ele negocia melhor com shoppings e fornecedores, retém talentos, unifica estratégias de marketing e torna sua operação mais eficiente. No final, estamos falando de escala: quanto mais eficiente, mais rentável ele se torna”, destacou Friedheim.

Na visão dos especialistas, a relação entre franqueadores e multifranqueados deve ser encarada como um processo de ganha-ganha. Redes com franqueados mais fortes tendem a ser mais sólidas, e a centralização de serviços — como marketing, RH, financeiro e logística — pode trazer ganhos de produtividade para todas as operações. “É melhor ter uma rede de 300 lojas com 30 franqueados do que com 300 diferentes. O processo de gestão fica mais simples, desde que a franqueadora também eleve o nível do suporte oferecido”, completou Santini.

Um exemplo dessa trajetória é Leandra Bisi Priante, franqueada da 5àsec em Belém (PA). Depois de insistir para ingressar na rede com um projeto inovador de drive-thru, ela conquistou espaço e hoje administra 12 unidades da marca, além de expandir para o setor de alimentação. “Eu sempre gostei de estudar o mercado e percebi que precisava diversificar. Quando montei uma estrutura estratégica para a 5àsec em Belém, vi que era possível crescer e me tornar multifranqueada”, contou Priante.

Dores dos multifranqueados

Palestra de Aicha Bascaro em evento Somos Multi

Em entrevista exclusiva à Central do Varejo, a especialista norte-americana em escalabilidade de franquias, Aicha Bascaro, resumiu os principais obstáculos que acompanham a transição de operador para empresário: “Administrar uma unidade é um emprego; gerir várias exige estrutura, processos e sistemas documentados”. Segundo Bascaro, o salto para múltiplas lojas exige clareza sobre procedimentos operacionais e disciplina para torná-los repetíveis em escala.

Bascaro reforçou que as etapas de execução são um ponto crítico: “As etapas são simples, mas muito difíceis de executar. Não é possível chegar a cem unidades sem definir e padronizar procedimentos de contratação, treinamento e retenção de pessoas”. Ela enfatiza que o sucesso de um multifranqueado está diretamente ligado à criação de sistemas documentados para todas as áreas do negócio, o que permite que cada nova unidade opere com consistência.

Ela destacou também que a justiça e o respeito no tratamento dos funcionários são fundamentais para reduzir os desligamentos, que custam caro para os negócios. Bascaro ressalta que a construção de um ambiente de trabalho saudável e motivador é outro ponto relevante: “Se a cultura da unidade for tóxica, com equipes desmotivadas ou sem integração, o turnover aumenta, comprometendo cada linha do demonstrativo financeiro”, observa.

A observação de Bascaro encontra eco na prática de franqueados como Carmine Ribeiro, da Bibi, que atribui parte do sucesso à paixão pela marca e ao cuidado com as equipes. Para Ribeiro, a conexão e o respeito com os colaboradores fazem a diferença no dia a dia e no resultado: “Eu trabalho muito com a qualidade dos meus funcionários, eles estão em primeiro lugar. Para o meu cliente ser bem tratado, eu tenho que tratar bem o meu funcionário.”

Outro ponto sensível para quem deseja crescer como multifranqueado é a organização financeira. Para Henrique Carbonelli, CEO da F360, esse é um ponto fundamental. “Muitos franqueados ainda estão muito focados apenas em vender, mas tão importante quanto vender é se organizar financeiramente. Quando o empresário alcança esse nível de gestão, ele passa a identificar oportunidades de eficiência e rentabilidade, garantindo sustentabilidade para abrir a segunda, a quinta ou a décima unidade”. Com as soluções da F360, Carbonelli explica que é possível evitar perdas que podem chegar a 2% das vendas, aumentando a rentabilidade e a previsibilidade dos negócios.

Microfranquias no contexto dos multifranqueados
No universo das franquias, as microfranquias têm se consolidado como uma porta de entrada para novos empreendedores, oferecendo um modelo de negócio enxuto e de baixo investimento. André Augusto, CEO da Hypper Brands, explica que o principal propósito dessas operações é democratizar o acesso ao franchising: “A microfranquia consegue penetrar em camadas que outras franquias não alcançam. Com investimento médio acessível, uma pessoa simples pode se tornar franqueada, mesmo sem capital elevado”.

A Hypper Brands é uma holding dona da Crepefy, Mister Tea, Tdonuts, Frutassa e Mr. Cheney. A dona das franquias conseguiu criar um processo tecnológico de apoio aos franqueados, dando suporte rápido. Conseguimos abrir portas para empreendedores que talvez não teriam acesso a grandes redes. Desenvolvemos uma plataforma que conecta franqueados a mentores especializados em finanças, vendas, atendimento e operações, oferecendo suporte remoto e contínuo, sem custo adicional”, disse Vitor Frigato.

IA no futuro próximo do franchising

Palestra de Tiago Mello Somos Multi

Tiago Mello, CEO do Banco Mercantil Marketplace e Mercantil Ventures, apresentou uma perspectiva ampla sobre como a inteligência artificial (IA) e a tecnologia estão transformando o mercado de varejo e franquias. Segundo ele, a digitalização e a evolução tecnológica não apenas mudaram a forma de consumir, mas também abriram novas fontes de receita para as empresas, que precisam se adaptar rapidamente a esse cenário em transformação.

Mello destacou a evolução histórica do consumo, da web 1.0 à web 3.0, mostrando como o varejo passou de operações exclusivamente físicas para modelos multicanais, omnichannel e, agora, para o Unified Commerce, que busca oferecer uma jornada integrada e personalizada para o cliente. Ele enfatizou que, mais do que multiplicar canais, as empresas devem unificar experiências, entendendo profundamente o comportamento de cada consumidor.

A palestra também abordou a IA generativa e agentes de IA, explicando que essas tecnologias não substituem estratégias ruins, mas potencializam decisões e aumentam eficiência. Mello citou casos práticos, como chatbots que realizam empréstimos via WhatsApp, sistemas de hiperpersonalização e ferramentas de curadoria de produtos, que já geram resultados concretos em vendas e redução de devoluções.

Segundo Mello, a tecnologia permitirá que varejistas e franqueados explorem novas fontes de receita, desde mídia de varejo até eventos e colaborações estratégicas, prevendo que em cinco anos essas fontes podem representar até 35% da receita e 50% do lucro. Ele finalizou destacando a necessidade de dados de qualidade, equipes treinadas em IA e a visão estratégica de se tornar “shaper” ou “construtor” dentro desse novo ecossistema digital, aproveitando o potencial da tecnologia para transformar negócios e experiências de consumo.

Imagens: @caumo.audiovisual / @codigo1filmes

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