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Franquias de produto x franquias de serviço: o que ponderar na escolha?

O modelo de franquias se consolidou como uma das engrenagens mais poderosas do varejo moderno. No Brasil, esse modelo de negócios tem mostrado notável capacidade de adaptação e crescimento, mesmo diante de um cenário econômico, no geral, desafiador. No ano passado, o franchising brasileiro se fortaleceu além das expectativas ao crescer 13,5%, superando a marca de R$ 270 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF).
Com um cenário promissor, cresce também a procura por oportunidades no setor. Porém, junto à expansão e interesse, surgem também questionamentos legítimos sobre o mercado. O mais emblemático entre eles talvez seja sobre qual tipo de franquia representa o melhor investimento: as de produto, que oferecem bens físicos, ou as de serviço, voltadas para entregas intangíveis, como academias, clínicas ou salões de beleza. Fato é, que não existe uma resposta simples. Ambos os modelos apresentam vantagens e desafios específicos, e a decisão depende, principalmente, do perfil e dos objetivos do empreendedor.
No entanto, ainda que essa distinção entre produtos e serviços seja relevante para traçar a rota de um negócio, ela está longe de ser o único fator determinante para o sucesso. Aliás, não é nem mesmo o principal deles.
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Personalização para prosperar
No atual contexto de mercado, marcado pela digitalização acelerada e por consumidores cada vez mais exigentes, o que diferencia as redes prósperas é a capacidade de gerar valor percebido por meio de experiências personalizadas e de relacionamentos consistentes com clientes. Hoje, independentemente do formato do negócio, as franquias que prosperam são aquelas que oferecem mais do que mercadorias ou soluções: vendem conveniência, empatia, agilidade e confiança.
Franquias de serviços vêm ganhando espaço graças à sua flexibilidade operacional, menor dependência de estoque e maior potencial de personalização. Enquanto isso, as franquias de produto seguem relevantes, mas enfrentam o desafio constante de se reinventar diante da concorrência do e-commerce e das marcas digitais nativas.
Esse movimento acompanha uma exigência do consumidor contemporâneo. Segundo a NielsenIQ, 69% dos clientes esperam que as marcas compreendam suas necessidades e personalizem suas ofertas. Isso reforça a importância estratégica de construir relacionamentos duradouros e relevantes, em vez de apenas ampliar a base de consumidores de forma desenfreada. No mundo do franchising, esse dado se traduz na necessidade de transformar cada ponto de contato em uma oportunidade de gerar conexão, lealdade e percepção de valor.
Portanto, mais do que escolher entre produto ou serviço, o franqueado precisa compreender que o verdadeiro diferencial competitivo está na maneira como a marca se relaciona com o público. No cenário atual, a capacidade de adaptar-se às expectativas do cliente, oferecer jornadas consistentes e experiências marcantes é o que sustenta o crescimento sustentável de uma franquia.
É evidente que existem diferenças operacionais entre os modelos. Franquias de serviços muitas vezes pedem maior envolvimento técnico e afinidade com o setor. Já as de produtos demandam uma gestão mais robusta de estoque, logística e operação comercial. No entanto, nenhuma dessas exigências substitui uma estratégia centrada no consumidor. Ao final das contas, o sucesso não pode ser determinado pelo que se vende, mas pelo o que se entrega e o quanto isso faz sentido para quem consome.
Imagem: ChatGPT
(*) Maurício Galhardo é sócio da F360, maior plataforma Saas de gestão financeira voltada para varejistas e franquias no Brasil. Apaixonado por finanças, é autor de três livros de negócios e gestão financeira, tem ampla experiência em treinamentos e palestras e já treinou mais de 50 mil pessoas no varejo.