Web Summit Lisboa 2025
Lucy Blakiston defende autenticidade e humor como ferramentas de engajamento da geração digital
A cofundadora e CEO do Shit You Should Care About, Lucy Blakiston, subiu ao palco do Web Summit Lisboa 2025 para compartilhar sua visão sobre o futuro do jornalismo independente, a relação entre criadores e audiência e o papel da autenticidade em um ambiente digital dominado por filtros e algoritmos.
O projeto, criado em 2018 por Lucy e duas amigas, começou como uma newsletter com explicações acessíveis sobre temas complexos. “Eu sempre amei a internet, mas achava o noticiário muito chato. Queria explicar o mundo com humor, de um jeito que as pessoas realmente quisessem ler”, contou. O nome provocativo nasceu de uma brincadeira — inicialmente seria “Stuff You Should Care About”, mas a versão com palavrão acabou ajudando o conteúdo a viralizar.
Hoje, o Shit You Should Care About alcança milhões de leitores e ouvintes em todo o mundo, combinando atualidade, crítica social e um tom leve, algo que Blakiston chama de “transformar o doomscrolling em algo útil”. “É o melhor trabalho do mundo”, disse. “Posso pegar o caos das notícias, dar sentido a ele e compartilhar com milhares de pessoas. É um privilégio enorme.”
Durante a conversa, a criadora refletiu sobre como sua relação com a audiência moldou a identidade do projeto. “As pessoas me escrevem sobre o que está acontecendo em seus países e pedem que eu fale sobre isso. É como ter um radar coletivo. E quando eu erro, elas me avisam. Gosto dessa transparência, porque é assim que a gente cresce”, afirmou.
Para Lucy, a comunidade online é mais do que um grupo de leitores: é um espaço de aprendizado mútuo. “Ter uma audiência barulhenta é um presente. Eles me corrigem, me desafiam e me fazem pensar melhor”, disse. Apesar do engajamento nas redes, ela revelou que tem buscado desacelerar o consumo digital e valorizar o formato de newsletter. “Os algoritmos podem controlar o alcance de um post, mas não de uma caixa de entrada. Por isso, o futuro está nos canais que pertencem a nós, não às plataformas”, afirmou.
A fundadora também falou sobre o impacto da exposição pessoal e o processo de se revelar publicamente após anos de anonimato. “Durante cinco anos, ninguém sabia quem eu era. Isso me deu coragem para pensar e escrever livremente. Quando finalmente mostrei o rosto, percebi que as pessoas já me conheciam pela voz e pelas ideias — e isso foi libertador”, contou.
Sobre os desafios de criar conteúdo em meio à desinformação, Blakiston foi direta: “Não é difícil evitar fake news se você se importa em checar as fontes. Eu nunca publico algo que não consigo confirmar. Se não posso corroborar, simplesmente não posto.” Ela criticou a rapidez com que informações falsas se espalham e defendeu o retorno a práticas básicas do jornalismo, como a verificação primária.
Questionada sobre o que a inspira, Lucy citou escritores e roteiristas que unem humor e crítica social. “Cresci assistindo The Simpsons e South Park. Amo quem consegue falar de assuntos sérios de forma engraçada — essa mistura moldou o jeito que escrevo até hoje”, disse.
Com bom humor, respondeu até à pergunta sobre qual música do One Direction melhor representaria o espírito do Shit You Should Care About: “‘Live While We’re Young’. No começo, eu levava tudo muito a sério, queria entender como o jornalismo funcionava. Depois percebi que o meu jeito de fazer era diferente — e tudo bem. Hoje, só quero continuar criando, me divertindo e vivendo enquanto sou jovem.”
Encerrando o painel, Blakiston reforçou a importância de preservar a sanidade em um ambiente digital acelerado. “Meu trabalho depende de eu estar feliz e saudável. Se não estiver bem, o conteúdo não funciona. Aprendi que é preciso criar limites — e lembrar que o mundo não vai acabar se eu tirar um tempo para respirar.”
Para o futuro, ela acredita que o caminho está em formatos mais íntimos e sustentáveis. “O futuro é o áudio e os espaços que podemos controlar. A audiência é inteligente, cansou de ruído e quer conexões reais. O que vem agora é menos algoritmo e mais humanidade.”
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Imagens e informações: Amanda Dechen, especialista em comunicação do MBA USP/Esalq
