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O perfil do empreendedor brasileiro alimenta o crescimento do franchising

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Em fevereiro de 2024, a ABF (Associação Brasileira de Franchising) divulgou os dados do setor de franquias no Brasil, como sempre um material rico e bem elaborado, que sempre nos norteia com relação aos rumos do franchising no país. Vou compartilhar com vocês alguns números do setor, e comentá-los com o meu ponto de vista. Em seguida, devo resumir o porque entendo que o perfil do empreendedor brasileiro ajuda a alimentar o crescimento do franchising nacional.

Os números oficiais em pesquisa realizada com as maiores e principais redes de franquia do país (43% de faturamento do setor):

  • FATURAMENTO 2023 de R$ 240.662 Bilhões, crescimento de 13,8% com relação a 2022;
  • A trajetória de crescimento últimos 5 anos seguiu assim: 2019 +6,8% / 2020 -10,5%(pandemia) / 2021 +10,7% / 2022 +14,3% / 2023 +13,8%;
  • Os segmentos com maior crescimento em faturamento: Alimentação 17,9% – Saúde, beleza e bem estar 17,5% – Hotelaria e turismo 16,4%;
  • Os segmentos com maior crescimento em Operações: Alimentação (comercialização e distribuição) 11,8% – Comunicação e informática 10,4% – Hotelaria e turismo 9,1%;
  • Novas Operações crescimento de +17,3%;
  • Lojas encerradas -5,9%;
  • Lojas Repassadas 4,3%;
  • Número de redes de franquias 3.311, crescimento de +7,6% (média de 59 operações por rede);
  • Número de unidades operando 195.862, crescimento de 6,2%;
  • Geração de empregos de 1.701.726, crescimento de 7,1% , média de 9 colaboradores por franquia;
  • As projeções de crescimento de faturamento eram de 9,5% a 12% (cresceu 13,8%). Em número de redes era projetado 4% (cresceu 7,6%);
  • As projeções de crescimento de unidades eram de 10% (cresceu 6,2%) e Empregos de 10% (cresceu 7,1%);
  • As projeções para 2024 são de: Faturamento +10% / Redes +5% / Operações +5,5% / Empregos +5,5%;
  • A maior rede de franquia do País é a Cacau Show com 4.216 unidades, crescimento de 10,7% com relação ao 2022;
  • A rede de franquia que mais cresceu em 2023 foi a Decor Colors, do segmento de Casa&Construção, 441 unidades e crescimento de 96,9%;
  • A maior microfranquia do país é a Market$u com 42% de crescimento;
  • A microfranquia que mais cresceu foi a “É seguro” com crescimento de 103%.

Com relação a analise dos números, alguns comentários positivos ao setor:

  • Exceto ano de pandemia, desde 2002 em que os rankings são apresentados, o franchising tem crescimento contínuo, e geralmente com números superiores ao crescimento do PIB (por exemplo);
  • O crescimento do número de unidades, nos mais diversos formatos, lojas de rua, Shopping, quiosques, containers, lojas móveis e salas comerciais movimentam também o mercado de locações de imóveis, de seguros, de geormarketing, construção civil, aluguel de equipamentos, ou seja, envolvem diversas empresas e pessoas indiretamente, o que mostra quantos steakholders são atingidos pelo setor;
  • A geração de empregos diretos é um dos destaques das micro e pequenas empresas, que ajudam muito a economia a circular;
  • No caso de insucesso na gestão de uma franquia, a possibilidade de fazer um repasse dentro da rede, ou com a ajuda do Franqueador, é uma das fortalezas e propostas de valor do negócio, que acabam por ser positivo até mesmo no caso de saída do negócio;
  • O crescimento do segmento de Hotelaria e turismo demonstra a força do setor, que apesar de um dos mais afetados na pandemia, suportou a crise e já está dando a volta por cima;
  • O Franchising está atuante em todos os segmentos, não somente alimentação, vestuário e educação (sua origem no Brasil) , mas na área de seguros, casa&construção, serviços, literalmente em todos os segmentos.

Algumas críticas e pontos de atenção:

  • O ranking de faturamento deveria levar em conta a inflação, aumento de preços e abertura de novas lojas, ou seja, apresentar um numero “dessazonalizado” , bem como comparar as mesmas lojas SSS (Same Store Sales). Haveria crescimento mesmo assim, mas alguns anos não teria essa desproporção com relação ao crescimento da economia nacional;
  • O número de empregos gerados deveriam contar também os empregos indiretos, temporários, etc, bem como terceirização e equipes de fábricas , franqueadoras, escritórios de advocacia, fornecedores exclusivos e diversos steakholders envolvidos diretamente com as franquias. O número seria bem maior que o divulgado, e mostraria de fato todo o potencial do setor;
  • O numero de redes é uma informação importante, e geralmente tem crescimento. Mas muitas redes também encerram operações, e seria importante entender a mortalidade das franqueadoras, e não somente das franquias, e isso tem sido uma “caixa preta” do setor;
  • Há apenas 59 franquias em média por rede, mostra ainda uma certa fragilidade das franqueadoras, bem como de muitos modelos de negócios que não conseguem de fato “escalar”, que é a essência do franchising. Quando comparamos com mercado americano, que tem acima de 300 unidades por rede, vemos que ainda temos muito que amadurecer por aqui. E esse numero não vem evoluindo muito nos últimos anos, o que destoa um pouco da velocidade da expansão e crescimento do setor.

O motivo principal, na minha opinião, que faz com o empreendedor médio no Brasil dê um MATCH com o franchising, tem relação com o quesito “Formação” e o cenário político e econômico do país.

Em linhas gerais, o brasileiro não tem formação escolar nem cultural para empreender. Em geral tem orientação de se preparar para trabalhar para uma empresa ou para alguém, em ficar sob o guarda-chuva da CLT e direitos trabalhistas, e se preparar para sua aposentadoria futura que será resguardado pelo governo.

Conforme vai crescendo e vendo que essas opções não são tão boas, ou que não necessariamente tenha que seguir o caminho do “emprego”, ou até mesmo por falta de opção (ficou desempregado), começa a olhar o “empreender” como uma alternativa possível. Seja por opção, ou principalmente por “falta de opção”. Começa a pesquisar um “negócio próprio”, mas pela falta de formação e cultura, não sabe nem por onde começar. Daí então, as franquias surgem como uma oportunidade de ouro para ter um negócio próprio com “baixo risco”, algo que já foi testado, e tem pessoas “iguais a ele(a)” para que possa se espelhar e buscar se tornar dono do seu próprio negócio. Além disso, as mulheres empreendem cada vez mais, são as que mais crescem também dentro do perfil de franqueadas nas redes, e como geralmente tem filhos e muitas vezes sustentam sua família, querem arriscar o mínimo possível e buscam investimentos mais seguros.

Ou seja, a máxima que diz que o brasileiro é EMPREENDEDOR na essência, ou que está na natureza do brasileiro a arte de EMPREENDER, não é necessariamente verdadeira. O que acontece na prática, majoritariamente, é que muitos ficam sem opção de trabalho, ou se frustram com o “Emprego”, e daí sim partem para entender como podem ter seu próprio negócio. Temos então um perfil de “EMPREENDEDOR MODERADO”, que quer ter algo, mas sob orientação, com processos definidos, e com “alguém” mais que possa dizer o que ele tem que fazer , e “como”, alguém que lhe “guie” e lhe “oriente” no caminho do sucesso.

Esse perfil é um “prato cheio” para as redes de franquias, que se fazem sua lição de casa adequadamente, criam uma maquina de treinamento e vendas, replicam seu negócio com baixo capital empregado, e ainda tem um “Dono” e não mais um “Empregado” tocando o negócio, e fica com uma parte do lucro da operação.

O ganha-ganha quando bem feito, está explícito acima: o franqueado encontra o que busca, e a franqueadora replica seu modelo com o perfil de operador que precisa, e quase sempre todos ganham. E ás vezes quando dá errado, a franqueadora ajuda no repasse.

Um modelo quase perfeito… quando bem feito. Com seus defeitos, claro.


*Ivan Ferreira é COO da Holding de franquias Japp, de João Appolinário, com as marcas de franquias Decor Colors, Polishop, Mega Studio, Wise Home e outras. É consultor de franquias e varejo com MBA de franquias da FIA/ABF, além de especialista em análise de franqueabilidade e canais, formatação e gestão. Master Franqueado de uma rede de açaí, também já contribuiu com os Comitês de BI, Moda, Food Service e Expansão da ABF.

 

 

Imagem: Envato

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