Economia

O setor de luxo da Europa mostra sinais de recuperação

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O setor de luxo europeu, que passou por um ano desafiador, começa a apresentar indícios de recuperação após uma temporada de balanços otimista. No entanto, a persistente fraqueza na China — e a ameaça de tarifas dos EUA — pode levar até mesmo as marcas mais prestigiadas a disputarem o poder de compra dos consumidores.

“2024 foi um dos piores anos para o setor. Acreditamos que haverá uma normalização ao longo de 2025, especialmente no segundo semestre”, afirmou Simone Ragazzi, gestor de portfólio da Algebris Investments, em entrevista à CNBC.

A Hermès, fabricante das icônicas bolsas Birkin, apresentou resultados expressivos no quarto trimestre, consolidando seu desempenho acima da média e reforçando as expectativas de uma recuperação aguardada há tempos. Até mesmo marcas que enfrentavam dificuldades, como LVMH e Kering (dona da Gucci), superaram as projeções trimestrais.

Os resultados fortaleceram previsões de que o pior já passou para o setor, após a Richemont, proprietária da Cartier, registrar no mês passado suas “maiores vendas trimestrais de todos os tempos” no período de outubro a dezembro.

“O consenso parece ser que o pior ficou para trás — provavelmente no terceiro trimestre de 2024 — e que estamos vendo uma recuperação cíclica em andamento, impulsionada principalmente pelos consumidores dos EUA e da Europa”, disse Luca Solca, analista sênior de bens de luxo globais da Bernstein, por e-mail.

Ameaça de tarifas dos EUA

Apesar dos sinais positivos, persistem incertezas quanto à recuperação do consumo chinês — um pilar de longa data do mercado de luxo — e à possibilidade de tarifas dos EUA impactarem o setor.

A fraqueza nas vendas na China foi um tema recorrente nos balanços do quarto trimestre, afetando especialmente a L’Oréal e a Gucci, marcas altamente expostas ao mercado chinês. Além disso, as possíveis tarifas sobre empresas europeias, sob o governo do presidente dos EUA Donald Trump, e a incerteza macroeconômica mais ampla, foram pontos de atenção nas teleconferências de resultados.

Zuzanna Pusz, do UBS, disse à CNBC que, caso novas tarifas sejam impostas, as empresas provavelmente repassarão os custos aos consumidores por meio de aumentos de preços — algo que tanto Kering quanto Hermès já indicaram que podem fazer. No entanto, algumas marcas podem enfrentar dificuldades para justificar novos reajustes.

“Já tivemos aumentos de preços significativos recentemente. Se as empresas forem obrigadas a lidar com tarifas de 25%, será difícil compensá-las”, afirmou Ragazzi, acrescentando que isso pode ser “muito doloroso” para algumas companhias.

O setor de luxo europeu tem uma característica única: grande parte de suas operações não pode ser facilmente transferida para outros mercados, como os EUA — um dos principais alvos das tarifas de importação de Trump. Para que um produto ostente o selo “Made in Italy”, por exemplo, ele deve ser fabricado no país.

Isso sugere que algumas marcas de luxo podem ser isentas das medidas mais severas, afirmou Pusz. No entanto, caso as tarifas afetem negativamente economias-alvo, como a China — ao aumentar os preços gerais e prejudicar a confiança do consumidor — isso poderia representar um problema para o setor.

“Qualquer fator que impacte negativamente a economia chinesa será um risco”, disse Pusz em uma videoconferência no início do mês.

A distância entre as marcas de luxo mais fortes e as demais tende a crescer

Esse cenário pode intensificar a disparidade entre as marcas de luxo que estão se destacando e aquelas que enfrentam dificuldades, segundo analistas.

“Seja por tarifas ou outros choques econômicos, quando o consumidor precisa comprar menos, ele se torna ainda mais seletivo e dá preferência às marcas que mais gosta”, afirmou Pusz.

Carole Madjo, chefe de pesquisa de bens de luxo europeus do Barclays, destacou que algumas marcas de luxo foram penalizadas recentemente por “falta de inovação e preços elevados” e precisarão justificar melhor seus valores.

“Com o ambiente macroeconômico mais desafiador para os consumidores… eles estão comprando menos, mas comprando melhor”, disse Madjo ao programa “Squawk Box Europe” da CNBC no início do mês. “O setor está ciente dessas questões e já busca soluções.”

Os analistas concordam que marcas de alta qualidade e voltadas para consumidores do segmento premium devem continuar liderando no curto prazo.

“As marcas de qualidade podem brilhar ainda mais em meio aos desafios do setor”, afirmou Solca, da Bernstein, em um relatório recente, citando a força contínua de Richemont e Hermès, além do potencial de crescimento de Moncler e Burberry.

“O grande questionamento é: o que significa luxo nos dias de hoje?”, refletiu Ragazzi. “O que está se tornando cada vez mais evidente é que o prestígio e o legado das marcas do passado não são mais garantias de sucesso.”

Imagem: Envato
Informações: Karen Gilchrist para CNBC
Tradução livre: Central do Varejo

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