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Valuation: você sabe quanto vale a sua empresa?

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Em 2023, foram realizadas 1.505 operações de Fusões e Aquisições no Brasil, segundo levantamento da KPMG. Fusões e Aquisições é a tradução para o português da sigla M&A (Mergers & Acquisitions). Mas, muita calma nesta hora! Não estamos dizendo que você deva pensar em comprar uma empresa ou vender a sua. O objetivo deste artigo é informá-lo sobre os cenários e estratégias de mercado que estamos observando e sensibilizá-lo para a importância de saber quanto vale o seu negócio hoje, do jeitinho que ele está, e mais importante ainda: quanto ele pode valer se você decidir focar em estratégias de geração de valor para a empresa. Para ajudá-lo nessa leitura do mercado e as perspectivas de geração de riqueza para a empresa, vamos apresentar alguns conceitos e métodos de “Valuation”, que no segmento de M&A significa determinar o Valor de Mercado de uma empresa.

Por não ser uma ciência exata, o Valuation pode sofrer variações significativas a depender do método utilizado, do interesse do vendedor em negociar rápido, do “apetite” do comprador/investidor em fechar logo o negócio, entre outras variáveis.

Há 3 métodos principais para se determinar o Valor de uma empresa:

1. Pela Avaliação Patrimonial
2. Pela Equivalência no Mercado
3. Pela Geração de Renda

Valuation pela Avaliação Patrimonial:

Este método utiliza-se dos critérios contábeis e, portanto, o valor da empresa corresponde, a grosso modo, ao montante do Patrimônio Líquido. Geralmente, é mais utilizado para empresas que estão em dificuldades no presente ou até mesmo que interromperam, ainda que momentaneamente, suas atividades. Pessoalmente, eu utilizo este método para se conhecer uma “referência mínima” de valor da empresa. Ou seja, no mínimo poderíamos considerar que a empresa deveria valer o conjunto total de seus Ativos menos o total do seu Passivo.

Vantagem deste método: é muito rápido e imediato, o próprio contador ou escritório de contabilidade pode apresentar o Balanço Patrimonial da empresa e destacar o montante do Patrimônio Líquido.

Desvantagens: nem sempre as contas do Ativo e Passivo estão devidamente atualizadas, o que pode gerar distorções imediatas no valor do Patrimônio Líquido. Por isso, sugere-se sempre questionar o Contador sobre a atualização e acurácia dessas contas antes de tomar o Patrimônio Líquido como referência do Valuation. Além disso, este método não considera as perspectivas presentes e futuras de melhoria de performance da empresa, uma vez que seu valor está todo baseado na riqueza produzida e acumulada no passado. Por este motivo, como já destaquei, pessoalmente eu gosto de utilizar este valor como o “piso” do Valuation de uma empresa.

Valuation pela Equivalência no Mercado:

Neste método, o valor da empresa é obtido a partir de comparações com outros negócios similares de M&A realizados no mercado. Aqui, entra a figura dos chamados múltiplos de mercado. Vou falar dos 2 mais conhecidos, o múltiplo de faturamento mensal e o múltiplo de EBITDA (Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization, cuja tradução é Lucro antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização – LAJIDA).

O múltiplo de faturamento mensal refere-se a precificar a empresa tomando-se por base a venda mensal. Por exemplo, em negócios usuais de varejo, esse múltiplo geralmente gira em torno de algo como 3 vezes a venda mensal (ressalvando que pode variar bastante, em função de diversos fatores, podendo até mesmo chegar a um múltiplo de 6). Mas isso é apenas uma ilustração, pois na realidade o valor varia muito dependendo do segmento de varejo, região, momento do mercado, entre outros fatores.

Quanto ao múltiplo de EBITDA, geralmente este é um indicador usado principalmente por empresas de capital aberto, com ações listadas em Bolsa de Valores.

Para exemplificar como isso funciona, na prática, em 2021 fiz um projeto para uma empresa de varejo de material de construção. Em minha análise, utilizei os dados de uma empresa do varejo de material de construção listada na B3 que, de acordo com os dados públicos apresentados ao mercado, obteve um EBITDA em 2020 correspondente a 10,1%. O que esse indicador de EBITDA pode me dar de referência? Olha que interessante: ampliando minha análise para outros mercados (do mesmo segmento, mas de empresas americanas), descobri que a americana Home Depot vale 15 vezes o seu EBITDA, enquanto que no caso da Lowe’s esse múltiplo corresponde a 10 vezes.

Vantagem deste método: tal como no modelo anterior, este método também é muito rápido e imediato, com a vantagem de ser mais intuitivo e “natural” para o empreendedor e executivo do varejo, uma vez que um dos múltiplos a ser utilizado é sobre a venda mensal, que é um dado amplamente conhecido e dominado pelos mesmos. O EBITDA já não é um indicador tão utilizado assim, mas recomendo que os varejistas passem também a adotá-lo como um dos indicadores do negócio, pois traz a vantagem de poder compará-lo com outros segmentos de varejo (e de toda a economia) no Brasil e no Mundo. Uma vez conhecido o EBITDA da sua empresa, já temos um parâmetro internacional, como vimos acima, que nos mostra um Valuation com um múltiplo variando entre 10 a 15 vezes.

Desvantagens: o EBITDA ainda não é um indicador muito utilizado pelo varejo brasileiro, o que talvez apresente uma certa dificuldade para obtê-lo. Além disso, tanto o múltiplo sobre o faturamento mensal quanto sobre o EBITDA podem levar a resultados distorcidos ao serem comparados com múltiplos de outras empresas que aparentemente são do mesmo segmento mas que, no fundo, tem peculiaridades muito distintas. Por exemplo, a empresa brasileira de material de construção que possui ações listadas na Bolsa de Valores B3, tem também uma operação de e-commerce e um mix forte em eletroeletrônicos e móveis que a diferencia da grande maioria do varejo de matcon. Neste caso, ela provavelmente apresenta múltiplos fortemente influenciados pelos grandes varejistas de e-commerce e eletroeletrônicos do mercado brasileiro, por isso, deve ser analisada levando-se em consideração também esse contexto.

Exemplo no Varejo de Material de Construção: vamos aqui fazer um exercício simples para demonstrar a aplicação dos múltiplos no Valuation.Hipoteticamente, vamos considerar um varejista de material de construção que fature em média R$ 10 milhões por mês (ou seja, R$ 120 milhões por ano) e tenha um EBITDA de 7% (o que equivale a R$ 8,4 milhões).

Se avaliarmos sob a perspectiva do múltiplo sobre a venda, a partir de uma sondagem de mercado vamos supor que descobrimos que as negociações de M&A que foram concluídas aplicaram um múltiplo de 5 x a venda mensal. Neste exemplo, chegaríamos a uma referência de Valuation de R$ 50 milhões para a empresa (múltiplo de 5 x R$ 10 milhões).

Da mesma forma, adotando-se o múltiplo de EBITDA, deveríamos pesquisar no mercado quais foram as bases dos negócios gerados. Hipoteticamente, vamos imaginar que descobrimos que os negócios foram fechados com a aplicação de um múltiplo de 8. Neste caso, chegaríamos a um Valuation de R$ 67,2 milhões (múltiplo de 8 x R$ 8,4 milhões). Percebe-se, pelo exemplo, que as diferenças no Valuation variam muito em função do método utilizado, por isso que é FUNDAMENTAL ter sempre o apoio de um profissional especialista.

Valuation pela Geração de Renda:

Este é o método mais difícil para se calcular o Valuation, mas também é o mais preciso. Neste caso, devemos trazer a valor presente os resultados dos fluxos de caixa futuros.

Geralmente, eu faço a projeção do fluxo de caixa para os próximos 5 anos. E essa projeção já leva em conta toda a perspectiva de expansão do negócio, com inovações e novos desenvolvimentos. Além dos 5 anos, há uma técnica financeira que nos possibilita adicionar a chamada “fórmula da perpetuidade com crescimento”, que me permite agregar um valor maior e mais realista para o fluxo de caixa futuro. Feita essa projeção dos resultados dos fluxos de caixa futuro, define-se uma taxa de desconto que leve em consideração a inflação do período, os riscos, o custo e a remuneração do capital. Como referência, pode-se imaginar que essa taxa está variando em algo por volta de 15% ao ano.

Uma vez conhecida essa taxa, a utilizamos para trazer a valor presente todos os resultados projetados. Esse montante final corresponde ao Valuation da empresa.

Vantagem deste método: diferentemente dos anteriores, este modelo tem um forte embasamento sobre a atuação futura da empresa, pois os cálculos são feitos a partir de projeções dos fluxos de caixa dos próximos anos. Ou seja, ao invés de olhar a empresa pelo “espelho retrovisor”, neste modelo olhamos para a estrada à nossa frente a ser percorrida pela empresa. Outra vantagem é que a discussão e a negociação entre as partes (o comprador e o vendedor) é muito mais técnica e embasada, uma vez que se dará sobre números e respectivas premissas adotadas.

Desvantagens: por ser mais técnico e mais complexo, este modelo “dá mais trabalho” ao empresário para ser realizado. Exige, além do domínio da técnica, também uma boa experiência para fazer as inferências necessárias para se chegar a uma taxa de desconto, taxas de crescimento e projeções de receitas e despesas futuras com a maior precisão possível. Sendo assim, isso implica em uma demanda maior de tempo para ser concluído.

Exemplo aplicado ao Varejo: vamos usar, como exemplo, o caso da empresa hipotética que utilizamos no tópico anterior, aquele varejo que faturava R$ 120 milhões por ano. Apenas para ilustração, se considerarmos uma taxa de crescimento anual de 15%, lucro líquido de 4% e uma taxa de desconto de 15% ao ano, chegaríamos ao Valuation da empresa em um montante de aproximadamente R$ 65 milhões em uma ótica realista, podendo chegar a até R$ 75 milhões em uma visão otimista.

Tudo isso são apenas simulações para efeito de ilustrar os exemplos que trouxemos, certamente os casos reais devem levar em consideração referências e realidades bem distintas de um mercado para outro.

Bem, até aqui vimos 3 modelos possíveis para se fazer o Valuation de uma empresa de varejo. Preciso, ainda, destacar que desse valor total do Valuation dos modelos 2 e 3, é preciso deduzir as dívidas, financiamentos bem como os passivos legal, trabalhistas e tributários. Feitas essas deduções, chega-se ao valor para a “compra ou venda” de uma empresa.

Uma das estratégias muito valorizadas na hora de se fazer o Valuation de uma empresa é destacar o seu modelo de Governança, maturidade da gestão, práticas ESG, reputação, o desenvolvimento de novos formatos e canais de vendas, o uso de tecnologia, a estratégia “Figital”, a base de clientes e um bom CRM, o domínio de uma geografia (praças) e do last mile, a base tecnológica, o grupo de profissionais (pipeline da liderança), a presença em mídias digitais e a força da marca, entre outros. Quanto mais preparada e madura a sua empresa estiver em relação a esses pontos, maior é o seu potencial de gerar valor e, com isso, conseguir incorporá-lo ao Valuation da empresa.

Espero que tenha gostado do tema e que se sinta motivado a pensar em alternativas e estratégias para gerar mais riqueza para o seu negócio. Pode ter certeza de que vai valer muito a pena!

Um grande abraço e ótimas vendas!

Imagem: Envato 



*Jorge Inafuco
é sócio-diretor da empresa LEADERS LAB TREINAMENTO & CONSULTORIA EMPRESARIAL, consultor, palestrante e professor da HSM Educação Executiva e do MBA FIA. Expert em Varejo com mais de 35 anos de experiência, foi diretor de Retail & Consumer da PwC, do Grupo Carrefour e do Grupo Pão de Açúcar. Além de já ter atuado nas áreas de planejamento, inteligência competitiva, inovação, transformação digital, marketing, gestão comercial, gerenciamento de categorias, finanças, business plan, M&A e treinamento e desenvolvimento organizacional.