Underconsumption core: varejistas precisam reconquistar a confiança dos consumidores cautelosos

Há meses, alguns usuários do TikTok – em sua maioria da Geração Z e Millennials – têm exibido como usam sapatos desgastados há anos ou como possuem móveis que foram passados de geração em geração. É a hashtag “underconsumption core”, que já foi usada em cerca de 16.000 vídeos na plataforma de mídia social, lembrando as pessoas de utilizar os produtos que já possuem e comprar apenas o que realmente precisam. Trata-se de uma tendência que os varejistas devem ficar de olho.

“Isso tem muito a ver com a sensação de insegurança em relação ao que está acontecendo,” disse Mario Braz de Matos, CEO da Flying Fish Lab, à Retail Asia. “A geração mais jovem está priorizando experiências em vez de possuir um carro caro.”

Ele acrescentou que o mundo digital está fazendo com que os jovens percebam que não precisam de 200 pares de sapatos ou um armário cheio de roupas.

Simone Morandi, líder de comércio na região Ásia-Pacífico da Accenture Song, disse que mais pessoas estão questionando o conteúdo que recebem online, levando os consumidores a moderarem suas compras.

Cerca de 62% das pessoas afirmam que a confiança é um fator importante para elas ao escolherem se relacionar com uma marca, segundo o relatório Life Trends 2025 da Accenture, um aumento de 6% em relação ao ano passado.

Morandi explicou que a enxurrada de fraudes está obscurecendo a linha entre o que é real e o que é falso, afetando as compras dos consumidores. Ele acrescentou que 48% dos consumidores globais se sentem pressionados pela constante promoção de produtos online.

“Essas situações levam os consumidores a se perguntarem se realmente precisam de um produto, o que enfraquece a confiança do consumidor e contribui para a subconsumação”, acrescentou.

Matos afirmou que o grande desafio é como os varejistas podem se manter relevantes em meio ao movimento underconsumption core.

“Os varejistas precisam adaptar suas ofertas para atrair múltiplos consumidores”, disse ele. “A falta de resposta resultará em uma queda significativa de receita ao longo do tempo. Não é uma questão de se isso acontecerá, mas de quando.”

Morandi mencionou que o uso de inteligência artificial generativa (IA gen) tem sido uma faca de dois gumes. Embora tenha acelerado o lançamento de vídeos promocionais, os consumidores estão se afogando em excesso de informações.

“Usando a IA de forma responsável e entendendo onde os consumidores precisam de apoio adicional, as empresas podem aliviar as preocupações com o consumo, incentivando, em última análise, um comportamento de consumo mais confiante,” ele afirmou.

O underconsumption core deve continuar, especialmente em áreas urbanas de regiões caras como Singapura e Hong Kong, onde o aumento das lojas de brechó é evidente. “Em Singapura, os brechós estão em alta, já que os salários não estão acompanhando o custo de vida”, disse Matos.

Em contrapartida, a tendência do underconsumption core pode não ressoar tão fortemente em áreas rurais, especialmente em países em desenvolvimento como Indonésia, Vietnã e Filipinas, onde os consumidores continuam a buscar produtos essenciais, acrescentou.

Imagem: Envato
Informações: Retail Asia
Tradução livre: Central do Varejo