Operação
Planejamento estratégico para mudanças climáticas em empresas

O aumento das temperaturas médias globais ultrapassou, em 2025, pela primeira vez a marca de 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais, o que impõe um desafio sem precedentes à infraestrutura urbana e empresarial. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (WMO), eventos climáticos extremos geraram perdas de mais de US$ 313 bilhões no último ano, 60% delas associadas a ondas de calor e falhas em sistemas elétricos e de climatização. Nesse contexto, torna-se necessário um planejamento estratégico para mudanças climáticas em empresas, garantindo resiliência de sistemas vitais diante.
Em países tropicais como o Brasil, a urgência é ainda maior, onde o número de ondas de calor quadruplicou nas últimas três décadas, passando de sete para 32 registros, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). “O calor extremo é hoje uma ameaça direta à operação de sistemas vitais, de hospitais e centros de dados a redes de energia e transportes”, afirma Patrick Galletti, engenheiro mecatrônico e CEO do Grupo RETEC, especialista em gestão de riscos ambientais.
Para o especialista, as empresas precisam adotar um planejamento estratégico para mudanças climáticas semelhante à da gestão de riscos corporativos. “Planejamento climático é investimento em continuidade operacional. Assim como as empresas fazem planos de contingência cibernética, precisam prever estratégias para resistir a apagões e picos térmicos que comprometem a infraestrutura física e digital”, explica.
Dados da Agência Internacional de Energia (IEA) indicam que sistemas de climatização respondem por cerca de 40% do consumo elétrico em edifícios comerciais no mundo. No Brasil, esse percentual sobe para 47%, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). O impacto do calor excessivo sobre essas estruturas vai além da conta de luz: aumenta o risco de falhas elétricas e reduz a vida útil dos equipamentos.
Para lidar com essa questão, Galletti recomenda medidas técnicas e administrativas, como automação com sensores térmicos e de presença, sistemas de climatização sob demanda e manutenção preditiva. Estudos publicados na revista Millenium mostram que essas práticas podem reduzir em até 30% o consumo de energia e evitar até 40% das falhas operacionais. “Não se trata apenas de conforto, mas de segurança. Um data center superaquecido pode causar prejuízos milionários em minutos”, observa.
A integração entre soluções físicas e digitais também é fundamental para aumentar a resiliência. Ferramentas de monitoramento remoto via Internet das Coisas (IoT) permitem detectar variações críticas de temperatura, umidade e pressão antes que o sistema entre em colapso. Em hospitais, sensores inteligentes ajudam a manter a estabilidade térmica e qualidade do ar, prevenindo riscos à saúde de pacientes e profissionais.
De acordo com o Escritório das Nações Unidas para Redução de Riscos de Desastres (UNDRR), cada dólar investido em prevenção e infraestrutura resiliente pode evitar até US$ 7 em perdas futuras. “As mudanças climáticas exigem que governos e empresas adotem planejamento estratégico de longo prazo, com manutenção contínua e gestão técnica especializada. A resiliência não se constrói apenas com equipamentos, mas com políticas e cultura de prevenção”, reforça Galletti.
Entre as recomendações para o setor público e privado estão: diversificar fontes de energia, modernizar sistemas de climatização, instalar painéis solares e adotar refrigerantes ecológicos de baixo impacto ambiental. “A sobrevivência das operações diante do calor extremo dependerá da eficiência com que soubermos integrar tecnologia, energia e sustentabilidade”, afirma o engenheiro.
Imagem: Freepik
						
											
								