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Recommerce: o novo ciclo do consumo sustentável no varejo

Nos últimos anos, o comportamento do consumidor passou por uma transformação significativa. A preocupação com sustentabilidade, economia circular e consumo consciente vem moldando novas formas de comprar e vender. Nesse cenário, surge o recommerce — também conhecido como comércio reverso ou revenda online — como uma das tendências mais fortes do varejo moderno.
O que é Recommerce
O termo recommerce vem da junção das palavras reverse (reverso) e commerce (comércio). Ele se refere à compra e venda de produtos usados, recondicionados ou revalorizados, geralmente por meio de plataformas digitais. Em outras palavras, é o comércio que dá uma segunda vida a produtos já consumidos, seja por meio de revendas diretas entre consumidores (C2C), lojas especializadas ou marcas que implementam programas próprios de recompra.
Esse modelo não se limita a roupas e eletrônicos, embora esses sejam os segmentos mais populares. Hoje, é possível encontrar recommerce de praticamente qualquer categoria: móveis, livros, brinquedos, equipamentos esportivos, automóveis e até eletrodomésticos.
Como o Recommerce funciona
O funcionamento do recommerce pode variar de acordo com o tipo de negócio, mas geralmente segue três formatos principais:
- Plataformas de revenda entre consumidores (C2C): são marketplaces onde os próprios consumidores anunciam produtos usados, como OLX, Enjoei, Repassa ou Mercado Livre. O dono do item faz o anúncio, define o preço e negocia com outros usuários interessados.
- Programas de recompra de marcas (B2C): nesse modelo, a própria marca recompra produtos usados de seus clientes, realiza um processo de avaliação, higienização e reparo (quando necessário), e os revende em uma seção especial de seu e-commerce. Empresas como Patagonia, Apple e Decathlon já adotam esse sistema, promovendo a sustentabilidade e reforçando o relacionamento com o cliente.
- Revenda de produtos recondicionados ou certificados (B2B ou B2C): lojas especializadas compram grandes lotes de produtos usados, testam, restauram e revendem com garantia e certificação de qualidade. Isso é comum no mercado de eletrônicos e tecnologia, com empresas que comercializam celulares, notebooks e tablets recondicionados.
Em todos os casos, o objetivo é o mesmo: reduzir o desperdício e prolongar o ciclo de vida dos produtos, inserindo-os novamente na cadeia de consumo.
Por que o Recommerce está crescendo?
O crescimento do recommerce está ligado a uma combinação de fatores econômicos, sociais e ambientais. Alguns dos principais motivos que impulsionam esse movimento são:
1. Consciência ambiental
Os consumidores estão cada vez mais atentos ao impacto ambiental de suas escolhas. A indústria da moda, por exemplo, é uma das mais poluentes do mundo. Comprar roupas de segunda mão ou recondicionadas ajuda a reduzir a produção de resíduos têxteis e a emissão de carbono.
2. Busca por economia
Em tempos de crise econômica, o recommerce se torna uma alternativa atraente. É possível comprar produtos de qualidade por preços mais baixos e, ao mesmo tempo, lucrar vendendo itens que não são mais utilizados. Essa lógica do “ganha-ganha” incentiva a circulação de produtos e mantém a economia ativa.
3. Cultura do desapego
As novas gerações, especialmente os millennials e a Geração Z, valorizam mais experiências do que posses. Elas enxergam o consumo de forma funcional e ética, e por isso aderem com facilidade ao conceito de revenda. Plataformas de recommerce se tornaram espaços de comunidade, moda circular e propósito compartilhado.
4. Apoio das grandes marcas
Empresas que antes apenas vendiam produtos novos estão agora integrando o recommerce à sua estratégia de sustentabilidade e marketing. Marcas como Levi’s, H&M e Ikea já criaram programas de recompra, enquanto startups como ThredUp e The RealReal transformaram o mercado de revenda em um setor bilionário.
Recommerce e economia circular
O recommerce é uma das engrenagens centrais da economia circular, modelo que busca reduzir o desperdício e manter os recursos em uso pelo maior tempo possível. Enquanto o consumo tradicional segue uma lógica linear — produzir, usar e descartar —, o recommerce propõe um novo ciclo de valor, baseado em reutilizar, reparar e revender.
Essa prática contribui diretamente para os princípios da economia circular:
- Extensão do ciclo de vida do produto
- Redução da extração de recursos naturais
- Menor emissão de resíduos e poluentes
- Inovação em modelos de negócio e logística reversa
Ao adotar o recommerce, o varejo se aproxima de um modelo mais sustentável, ético e alinhado às demandas do futuro.
Vantagens do Recommerce para empresas
Para as empresas, investir em recommerce vai além de um gesto ambiental. É também uma estratégia inteligente de negócio. Veja algumas das principais vantagens:
1. Fortalecimento da imagem de marca
Empresas que apostam em práticas sustentáveis conquistam mais credibilidade e empatia do público. O recommerce comunica responsabilidade, inovação e compromisso com o meio ambiente — atributos cada vez mais valorizados pelos consumidores.
2. Fidelização de clientes
Programas de recompra e revenda criam relacionamentos duradouros. Ao oferecer benefícios para quem devolve produtos usados, as marcas incentivam a recompra, aumentam o engajamento e reduzem o custo de aquisição de clientes (CAC).
3. Novas fontes de receita
O recommerce transforma o que antes era um resíduo em uma nova oportunidade de lucro. Produtos que voltam ao mercado geram receita adicional, ampliando a rentabilidade e diversificando os canais de venda.
4. Dados e insights de consumo
Com o recommerce, as marcas passam a ter acesso a informações valiosas sobre o ciclo de uso dos produtos, preferências dos consumidores e padrões de devolução. Esses dados podem ser usados para melhorar o design, a qualidade e a durabilidade de futuras coleções.
Desafios do Recommerce
Apesar das vantagens, o recommerce ainda enfrenta desafios importantes:
- Logística reversa complexa: o processo de recolhimento, triagem e recondicionamento exige estrutura e custos adicionais.
- Controle de qualidade: é essencial garantir que os produtos usados atendam a padrões de segurança e desempenho.
- Percepção do consumidor: em alguns segmentos, ainda existe resistência à ideia de comprar produtos de segunda mão.
O futuro do Recommerce
De acordo com estudos de mercado, o recommerce deve crescer até cinco vezes mais rápido que o varejo tradicional nos próximos anos. O avanço da inteligência artificial, blockchain e automação logística permitirá rastrear produtos, garantir autenticidade e facilitar o processo de revenda. Além disso, a integração com o omnichannel e o phygital (integração entre físico e digital) ampliará as possibilidades de interação entre consumidores, marcas e produtos. O recommerce não é apenas uma tendência — é um novo paradigma de consumo, baseado em responsabilidade, inovação e circularidade.
