Operação
Lojas de construção passam por reinvenção após pandemia
Empresas passam por reestruturação para atender boom de demanda que se deu durante o período de reclusão da pandemia
A notícia de que a rede de materiais de construção C&C está enfrentando a necessidade de fechar pelo menos um terço de suas lojas gerou preocupação entre os investidores do setor. Sua concorrente, a rede Telhanorte, que pertence ao grupo francês Saint-Gobain, também está à venda. Especialistas de mercado apontam que esse modelo de grandes lojas varejistas está enfrentando prejuízos e passando por reestruturações para sobreviver.
A decisão de fechar lojas da C&C foi tomada após uma consultoria contratada para reestruturar a empresa analisar seu modelo de negócio, segundo informações da Invest News. Apesar de ter sido anunciada para venda, a C&C ainda não despertou interesse por parte dos compradores. A família decidiu colocar a empresa à venda após a morte do fundador Aloysio Faria, um banqueiro que também era dono de outras empresas.
Segundo o analista Hugo Queiroz, da L4 Capital, a coincidência de ambas as lojas estarem à venda ao mesmo tempo é significativa. Ele destaca que o modelo de lojas físicas de materiais de construção não está ultrapassado, mas os “home centers” grandiosos podem precisar de uma revisão, devido aos altos custos fixos, como salários e aluguéis.
Hugo Queiroz afirma que a venda das duas lojas não indica uma tendência de desinvestimento ou venda nesse setor. Ele considera que a C&C passou por uma reestruturação para obter capital e dividir os ativos após a morte do fundador, enquanto a Telhanorte está buscando vender devido a um modelo de negócio inadequado. O analista destaca que a tendência atual é adotar um modelo híbrido, com lojas de diferentes tamanhos. Ele menciona exemplos como a Leroy Merlin, que está abrindo lojas menores, assim como a Unicasas, Portobello Shop e Lojas Quero Quero, que possuem unidades menores distribuídas em áreas rurais do Brasil.
Lucas Lima, analista da VG Research, enfatiza que o modelo de negócio das varejistas enfrenta grandes desafios, com um setor altamente competitivo e pouca diferenciação de produtos, o que resulta em margens de lucro muito apertadas e dificuldades para gerar lucro. Caroline Sanchez, analista de varejo da Levante Inside, ressalta que o grande número de lojas de materiais de construção que estão passando por reestruturações de dívidas pode indicar uma tendência no setor. No entanto, ela destaca que após o aumento nas vendas durante a pandemia, é necessário uma readequação para a situação atual.
Os especialistas concordam que a solução mais adequada é buscar um crescimento no digital, mas sem abrir mão das lojas físicas, que podem ser utilizadas de forma estratégica, melhorando a logística e o relacionamento com o cliente. O modelo híbrido é visto como uma alternativa promissora, pois muitos consumidores desejam ver os produtos pessoalmente antes de comprar. No entanto, eles destacam que as vendas de materiais de construção são cíclicas no país e estão sujeitas a flutuações econômicas.
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