Economia
Após repercussão negativa, Carrefour recua em boicote a carnes do Mercosul
O grupo varejista Carrefour anunciou, nesta terça-feira (26), a revisão de sua posição em relação à comercialização de carnes provenientes do Mercosul, após seis dias de repercussão negativa envolvendo declarações feitas pelo CEO global da empresa, Alexandre Bompard. Em carta enviada ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) do Brasil, o executivo pediu desculpas e reafirmou o compromisso do grupo com a parceria mantida com a agropecuária brasileira.
A controvérsia teve início na última quarta-feira (20), quando Bompard publicou um comunicado em suas redes sociais afirmando que o Carrefour assumiria o compromisso de não comercializar carnes provenientes do Mercosul. A medida foi justificada como uma resposta ao descontentamento de agricultores franceses em relação ao acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o bloco sul-americano. O documento, enviado ao presidente da Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores (FNSEA) da França, gerou críticas de setores do agronegócio brasileiro e do governo federal.
Logo depois da declaração de Bompard, o Carrefour Brasil afirmou, em nota à imprensa, que a decisão inicial não teria impacto sobre as operações no país, onde os supermercados do grupo continuariam comprando carnes de frigoríficos brasileiros. Ainda assim, a declaração do CEO do grupo francês gerou reações de entidades representativas, como a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) e a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que criticaram o posicionamento.
Segundo a Abiec, o Brasil foi responsável por 27% das importações de carne bovina da União Europeia em 2023, enquanto o Mercosul respondeu por 55%. Em nota, a entidade afirmou que a posição do Carrefour era “contraditória, vindo de uma empresa que opera cerca de 1.200 lojas no Brasil, abastecidas majoritariamente com carnes brasileiras”.
Boicote de frigoríficos brasileiros
A situação escalou na segunda-feira (25), quando grandes frigoríficos brasileiros, como JBS, Minerva, Masterboi e Marfrig, interromperam o fornecimento de carne para as unidades do Carrefour no Brasil, incluindo Atacadão e Sam’s Club. Em comunicado, o Carrefour Brasil lamentou a suspensão do fornecimento, afirmando que a medida impactava os clientes. “Estamos em diálogo constante na busca de soluções que viabilizem a retomada do abastecimento de carne nas nossas lojas o mais rápido possível”.
A decisão dos frigoríficos foi respaldada pelo ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, que declarou apoio à medida, afirmando que não se tratava de uma retaliação econômica. “O problema é a forma com que o CEO do Carrefour tratou, o primeiro parágrafo da carta, da manifestação dele, que fala com relação à qualidade sanitária das carnes brasileiras, que é inadmissível falar”.
Na ocasião, Fávaro ressaltou que a França importa carne do Brasil há mais de quatro décadas e que as declarações não se sustentavam.
Retratação do Carrefour
Na manhã desta terça-feira (26), o Carrefour Global divulgou um novo comunicado, reconhecendo a “grande qualidade” das carnes brasileiras e reafirmando a manutenção da parceria com os frigoríficos locais. No documento, Alexandre Bompard pediu desculpas pela interpretação dada à sua declaração anterior e esclareceu que a decisão de não comercializar carne do Mercosul seria restrita ao mercado francês, onde quase 100% da carne vendida já é proveniente de produtores europeus.
“Lamentamos que nossa comunicação tenha sido percebida como uma contestação à nossa parceria com a agricultura brasileira e uma crítica a ela (…) Continuaremos a promover os setores agrícolas brasileiros como temos feito no Brasil há quase 50 anos. Através do nosso desenvolvimento, contribuímos para o desenvolvimento dos produtores agrícolas brasileiros, numa lógica que sempre foi a da parceria construtiva”, diz a nota. O Carrefour também ressaltou que a medida no mercado francês tinha como objetivo apoiar agricultores locais diante da crise enfrentada pelo setor.
O Ministério da Agricultura confirmou o recebimento do pedido formal de desculpas e reiterou a importância da relação comercial entre o Brasil e a França. Na nota divulgada pelo Mapa, é enaltecido o trabalho desempenhado pelo setor agropecuário, “gestão ativa das associações e seus associados na defesa de uma produção de excelência que chega às mesas de consumidores em mais de 160 países do mundo.”
Com informações de GloboNews
Imagem: Reprodução/SECSP