Web Summit Lisboa 2025

Carl Miller alerta no Web Summit Lisboa 2025 para os novos riscos do poder digital

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O terceiro dia do Web Summit Lisboa 2025 começou com uma palestra do jornalista investigativo Carl Miller, conhecido por suas reportagens sobre crime cibernético, manipulação digital e desinformação. Fundador do Centre for the Analysis of Social Media e autor do livro Death of the Gods: The New Global Power Grab, Miller compartilhou detalhes de sua mais recente investigação (intitulada Kill List) e refletiu sobre como o poder está se transformando na era digital.

Miller relatou que o projeto começou após o contato com um hacker que havia invadido uma série de sites na dark web que supostamente ofereciam serviços de assassinato por encomenda. Ao acessar o back-end dessas plataformas, ele e sua equipe encontraram nomes, endereços, detalhes de pagamento em Bitcoin e instruções de execução, revelando o que parecia ser um mercado de crimes reais. “Chegamos a um ponto em que precisei alertar pessoalmente as pessoas que estavam em listas de morte. É uma das ligações mais difíceis que se pode fazer”, contou.

A investigação levou anos e resultou em cerca de 30 prisões ao redor do mundo, somando mais de 200 anos de sentenças. Mesmo assim, Miller afirmou que a parte mais complexa foi convencer as autoridades a agirem. “Passei meses tentando fazer com que a polícia levasse a sério. Só depois de muita insistência conseguimos que houvesse investigações oficiais”, disse. Segundo ele, o caso revelou não apenas a fragilidade das instituições diante do crime digital, mas também o potencial destrutivo da desinformação estruturada como negócio.

Durante a conversa com o público, o jornalista refletiu sobre por que escolheu o jornalismo investigativo — uma área, segundo ele, “sob imensa pressão e risco”. “É a parte do jornalismo que mais sofre cortes e, paradoxalmente, é a que mais precisamos. Investigar o poder é essencial. É o que mantém a democracia viva”, afirmou. Miller contou que sua transição para o jornalismo de campo começou após anos estudando formas ocultas de poder digital, quando percebeu que entender essas dinâmicas exigia sair da frente da tela e se aproximar dos atores que as movem.

Ao ser questionado sobre quem detém o poder no mundo digital — governos, empresas ou indivíduos —, Miller respondeu que a resposta é “todos, e ao mesmo tempo, ninguém”. “O poder saiu das instituições tradicionais e se espalhou. Ele se tornou indomável. Hackers, influenciadores, corporações, até grupos civis exercem influência em níveis antes impensáveis. O que temos agora é o poder fora da jaula”, disse. Para ele, vivemos um momento paradoxal de “mais opressão e mais libertação” simultaneamente, com a tecnologia servindo tanto para emancipar quanto para manipular.


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Miller também detalhou os bastidores técnicos de suas investigações, descrevendo o caso do administrador de um dos sites que ele investigou — conhecido apenas como “Euro”, um operador romeno que construiu um império de golpes na dark web. “Ele era péssimo em cibersegurança, mas brilhante em desinformação. Criou um site de comparação de assassinos de aluguel, que aparecia como o primeiro resultado no Google quando alguém pesquisava ‘como contratar um matador’. Ele usava a própria imprensa e fóruns online para validar seu golpe”, explicou. O jornalista revelou que chegou a se reunir com o FBI em Nova York para entregar as provas do caso, mas que as autoridades inicialmente não deram prioridade ao temaNote_otter_ai (5).

Para Miller, o episódio ilustra um novo tipo de ameaça: criminosos digitais que utilizam as mesmas ferramentas de marketing, SEO e storytelling empregadas por marcas e influenciadores. “Esses atores sabem como manipular sistemas de reputação e criar narrativas convincentes. A desinformação se tornou uma arma econômica e psicológica”, afirmou.

Encerrando a palestra, Miller fez uma defesa enfática do jornalismo investigativo e da alfabetização digital. “A verdade não é mais o padrão — é algo que precisa ser conquistado. A internet deu voz a todos, inclusive aos que querem enganar. O papel do jornalista é trazer luz ao que foi escondido, especialmente quando o poder se esconde atrás de um código ou de um algoritmo”, concluiu.

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Imagens e informações: Amanda Dechen, especialista em comunicação do MBA USP/Esalq

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