Economia
Em dois anos, empresas do varejo perdem 64% do valor de mercado
Mesmo o aumento das vendas online durante a pandemia não conseguiu atenuar queda, e marcas acumulam perdas de R$339 bi

Nos últimos dois anos, as empresas de varejo viram uma desvalorização de ações na Bolsa de R$339,6 bilhões, uma perda comparável ao Produto Interno Bruto do Uruguai. Esse resultado negativo foi causado pela combinação de juros altos, inflação elevada e renda estagnada, que enfraqueceram as vendas e o poder de compra dos brasileiros. Mesmo o aumento das vendas online durante a pandemia não conseguiu atenuar a queda do comércio varejista, que tem reflexos diretos na atividade econômica como um todo.
O comércio varejista é uma fatia importante da economia, uma vez que responde por uma parcela significativa do consumo das famílias, responsável por 60% do PIB brasileiro. Além disso, o setor é fundamental para a produção da indústria e para a taxa de desemprego no país. O varejo também é a porta de entrada para muitos jovens no mercado de trabalho e emprega cerca de 20% dos trabalhadores formais da economia. Além disso, o setor tem um impacto significativo na arrecadação de impostos, em especial o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
O valor de mercado de um grupo de 20 varejistas com ações na Bolsa foi calculado pelo economista Fábio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), e noticiado em primeira mão pelo Estadão. Ao final de 2020, essas empresas valiam R$ 527,810 bilhões, mas em dezembro do mesmo ano, essa cifra havia caído para R$ 188,149 bilhões, acumulando uma perda de quase dois terços (64%).
Bentes comparou o desempenho recente das empresas do varejo com o que aconteceu no passado, destacando o “ciclo de ouro” que o comércio viveu entre 2004 e 2014, quando o volume de vendas crescia em média 7% ao ano. No entanto, de 2015 até o final de 2020, as vendas recuaram, em média, 0,1% ao ano.
A avaliação de Bentes é de que a deterioração das condições de consumo, como inflação e endividamento em alta, renda e emprego estagnados e, sobretudo, o juro básico, atualmente em 13,75% ao ano, fixado pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central, é o pano de fundo que explica a queda no valor das ações.
Embora a crise na Americanas tenha influenciado os resultados, o estudo do economista mostra que em 24 meses até março deste ano, as ações de um grupo ainda maior de 23 varejistas, incluindo mais três companhias – Assaí, Mobly e Westwing, que não estavam na Bolsa no final de 2020 – recuaram, em média, 59,3% no período. Os cálculos consideraram os volumes negociados das ações. As empresas com as maiores quedas nas ações foram a Americanas, seguida pela Mobly, Westwing, Marisa, Via e Magazine Luiza.
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Imagem: Tânia Rêgo/Agência Brasil