Inovação
Exclusivo: Marca de cafés especiais tem linha só de mulheres produtoras
Cafeza se lança no mercado em maio de 2024, estabelecendo preocupação ambiental, social, além de buscar valorizar toda a cadeia do café
No Apas Show de 2024, a marca Cafeza se lançou no mercado, inaugurando as vendas de uma marca de cafés especiais com propósitos bem definidos. A empresa possui uma linha só de cafés produzidos por mulheres, além de buscar democratizar o acesso ao café de altíssima qualidade por brasileiros. A Central do Varejo conversou com João Barbosa, fundador do Grupo Cafeza, e Emília Veloso, sócia da marca, para saber dos detalhes sobre o lançamento da empresa. Acompanhe a entrevista na íntegra conosco!
Central do Varejo: Como a ideia da Cafeza surgiu?
João Barbosa: Na minha infância, quando eu tinha cerca de dez anos, meus pais tinham uma lavoura de café. Eles eram pequenos produtores, e meu pai costumava chamar o cafezal de “cafezar”, uma forma carinhosa usada por pequenos produtores. Isso ficou na minha memória por muito tempo. Em 2018, durante uma viagem à Ásia, me pediram um café de altíssima qualidade, especial e certificado. Naquele momento, percebi que podia ajudar indicando alguém.
Quando voltei ao Brasil, mais pessoas me procuraram para falar de café. Comecei a estudar sobre o assunto e percebi uma lacuna no mercado. No final de 2019, saí da operação em que trabalhava e me aprofundei mais ainda no café. A pandemia acabou intensificando esse estudo, e percebi que os cafés de altíssima qualidade perdem qualidade após 30 dias se não forem bem armazenados.
Trouxemos uma máquina do Japão que seleciona os grãos que não estão uniformes e embala o café em monodoses, com nitrogênio, para manter a qualidade por até dois anos. Focamos em cafés rastreados, certificados e especiais, acima de 84 pontos.
Central do Varejo: Como vocês garantem a qualidade e a uniformidade do café?
João Barbosa: Temos uma máquina japonesa que seleciona os grãos que não estão no padrão de torra. Além disso, utilizamos máquinas japonesas para embalar o café em monodoses com nitrogênio, o que mantém a qualidade do café por dois anos. Trabalhamos com cafés especiais, todos acima de 84 pontos, rastreados e certificados.
Hoje no mercado há vários tipos de café. O café tradicional, que você encontra no supermercado, dura apenas 30 dias e só pode ser tomado com açúcar. O café gourmet, que tem uma classificação de 70 a 79 pontos, dura um pouco mais, mas ainda perde qualidade rapidamente. Já os cafés especiais, acima de 80 pontos, são avaliados por especialistas e certificados, garantindo uma experiência diferenciada
Os cafés especiais, com pontuação acima de 80 pontos, são avaliados por especialistas certificados. Esses cafés são rastreados e têm uma qualidade garantida.
No Brasil, os pequenos produtores costumam ter os melhores cafés devido ao manejo cuidadoso. Além disso, fatores naturais como clima e altitude também influenciam a qualidade. Trabalhamos com esses pequenos produtores, garantindo que recebam um preço justo por seus cafés de alta qualidade.
Central do Varejo: Quais são os propósitos da Cafeza?
João Barbosa: Nosso objetivo é expandir tanto no mercado brasileiro quanto internacional. Queremos mudar a mentalidade de que os brasileiros devem consumir produtos de qualidade inferior. Acreditamos que podemos oferecer aos brasileiros o mesmo nível de qualidade que é exportado. Além disso, estamos focados em manter preços justos e acessíveis para que todos possam experimentar nossos cafés especiais.
Emília Veloso: Nosso foco é garantir que todos possam experimentar um café de alta qualidade. Queremos que nossos cafés sejam apreciados tanto no Brasil quanto no exterior, mantendo sempre a qualidade e o compromisso com os pequenos produtores. Trabalhamos com pequenos produtores que cuidam do manejo de suas lavouras para garantir a qualidade.
Central do Varejo: Quais são os planos futuros da Cafeza?
João Barbosa: Nós temos conversas avançadas para fornecer café para a Ásia, principalmente para a China. Nossa capacidade de produção hoje é de 80 mil doses diárias. Então, temos produção para atender o mercado e estamos preparados para o crescimento. Participamos de todos os leilões de cafés de concurso aqui no Brasil. No ano passado, arrematamos os primeiros colocados de quase 10 leilões.
Também participamos do leilão internacional nos Estados Unidos, concorrendo com outros países. Fomos a primeira empresa brasileira a conseguir rematar um café nesse leilão.
Além disso, temos um Coffee Hunter que busca os melhores cafés nas fazendas do Brasil. Ela trabalha para nós, buscando as melhores sacas conforme nossa demanda.
Central do Varejo: Como a questão climática pode afetar a cadeia do café nos próximos anos?
João Barbosa: Não sabemos o quanto a mudança climática afetará o café, mas a produção de café vem crescendo. Tecnologia e inovação estão sendo aplicadas no café, o que ajuda a enfrentar mudanças climáticas. O café é visto como um grande negócio, e produtores estão investindo em tecnologia para garantir qualidade e produção sustentável.
Na Cafeza, estamos trabalhando para tornar a empresa Lixo Zero na natureza. Também compramos café certificado para garantir que os produtores cuidem do meio ambiente. Temos o selo Eu Reciclo, que certifica nosso compromisso com a reciclagem.
Central do Varejo: Como funciona a iniciativa do café produzido por mulheres?
João Barbosa: Minha mãe é meu maior exemplo de vida, e era ela quem cuidava da lavoura de café. Percebemos que muitas fazendas são geridas por mulheres. Decidimos lançar uma linha de café de mulheres para mostrar que elas também estão no mercado de café, fazendo um excelente trabalho. Nossa Coffee Hunter, inclusive, é uma mulher e faz um trabalho incrível com as mulheres produtoras.
Emília Veloso: Sem dúvida, a iniciativa é importante. As mulheres têm ganhado visibilidade e a Cafeza está ajudando a criar esse espaço. Elas fazem um trabalho diferenciado e de qualidade, e estamos aqui para dar visibilidade a isso.
Central do Varejo: Como as vendas funcionam?
Emília Veloso: Nós temos uma proposta de vender o produto de forma individual, como mostramos no estande da Apas, é algo novo no mercado de café. Normalmente se vende a caixinha com 10 produtos, mas estamos oferecendo uma experiência diferente, de uma dose de 10g, para que o cliente possa experimentar. Até agora, tem sido um sucesso.
João Barbosa: Nós fizemos um teste de vendas no varejo, e tem sido um sucesso. No primeiro momento, as vendas da Cafeza vão se concentrar neste setor. No futuro, vamos abrir vendas diretas.
Imagem: Milena Félix