Comportamento
Fandom: entenda como as comunidades de fãs impactam o varejo
No mundo conectado em que vivemos, consumidores já não se relacionam apenas com marcas, produtos ou serviços de forma passiva. Eles criam vínculos emocionais, constroem comunidades e transformam sua paixão em movimentos coletivos que influenciam diretamente a economia. Esse fenômeno tem um nome: fandom.
Muito além de simples admiradores, os fãs se organizam em grupos que podem alavancar vendas, definir tendências e até transformar pequenos produtos em verdadeiros ícones culturais. No varejo, entender como funcionam os fandoms e como aproveitar esse poder é essencial para empresas que desejam se destacar em mercados cada vez mais competitivos.
O que é fandom?
O termo fandom é a junção das palavras fan (fã) e kingdom (reino), e refere-se ao conjunto de pessoas que compartilham uma paixão em comum, seja por uma banda, série, filme, celebridade, jogo, marca ou até mesmo por um produto específico. Mais do que consumidores, os membros de um fandom são defensores ativos e verdadeiros promotores orgânicos daquilo que amam.
O fandom pode se manifestar em diversas formas: fóruns online, grupos em redes sociais, encontros presenciais, convenções, fanarts, fanfics, coleções de produtos e até mobilizações em massa para apoiar ou boicotar uma marca. A internet potencializou esse movimento, permitindo que comunidades se formem de maneira global e instantânea.
Exemplos clássicos de fandoms são os fãs de Star Wars, Harry Potter, K-pop, Marvel e até de grandes franquias de games como Pokémon. Mas também existem fandoms voltados para marcas de consumo, como a devoção a determinados refrigerantes, tênis ou até fast foods.
O fandom no contexto do varejo
Para o varejo, o fandom representa uma oportunidade estratégica de aproximação com consumidores altamente engajados. Enquanto clientes tradicionais buscam apenas satisfazer necessidades, os fãs consomem por paixão, identidade e pertencimento. Isso significa que eles não apenas compram, mas vivem a experiência da marca.
Quando há um lançamento, especialmente exclusivo, voltado para um ídolo de fandom, o produto não é adquirido apenas pelo valor material, mas pelo significado simbólico que ele carrega dentro de uma comunidade. Isso acontece com coleções temáticas lançadas por redes de fast food, brinquedos de personagens de filmes e até cosméticos inspirados em séries ou cantores famosos.
O fandom no varejo tem poder de:
- Ampliar vendas: fãs são consumidores recorrentes e dispostos a investir em edições especiais, colecionáveis e produtos exclusivos.
- Fortalecer a marca: um fandom engajado promove a marca de forma espontânea nas redes sociais.
- Gerar pertencimento: a compra não é apenas um ato de consumo, mas também uma forma de se integrar a uma comunidade.
- Criar experiências: eventos, colaborações e ativações especiais transformam a marca em parte da vida cultural dos consumidores.
Exemplos de fandom aplicados ao varejo
Muitos setores já exploram o potencial dos fandoms para gerar valor. Alguns exemplos marcantes:
- Indústria da moda: marcas como Gucci e Balenciaga investem em colaborações com ícones da cultura pop, atraindo fãs que desejam vestir a identidade de seus ídolos.
- Cosméticos: coleções inspiradas em séries como Euphoria ou em artistas pop como Lady Gaga movimentam milhões em vendas.
- Alimentação e fast food: o McDonald’s, por exemplo, lançou combos exclusivos em parceria com celebridades como BTS, Travis Scott, e, mais recentemente, Hello Kitty, gerando filas, aumento no ticket médio e engajamento global.
- Entretenimento e tecnologia: lançamentos de consoles e jogos são impulsionados pela mobilização dos fãs, que muitas vezes esgotam estoques em minutos.
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O que é fandomnomics?
O conceito de fandomnomics surge justamente para descrever a economia gerada pelos fandoms. Trata-se do estudo e da prática de entender como comunidades de fãs movimentam mercados, influenciam tendências e criam valor não apenas para as marcas, mas para todo um ecossistema de produtos e serviços.
Na prática, o fandomnomics analisa como a paixão coletiva se transforma em receita e como as marcas podem desenvolver estratégias para dialogar com esses consumidores. Isso inclui:
- Produtos licenciados: roupas, acessórios, brinquedos e itens colecionáveis que fazem parte da identidade de um fandom.
- Edições limitadas e exclusivas: peças que despertam senso de urgência e desejo de compra.
- Experiências personalizadas: eventos, shows, ativações em lojas e interações digitais que aproximam fãs da marca.
- Conteúdo digital: transmissões ao vivo, bastidores, fan services e materiais que mantêm o engajamento.
Um exemplo claro de fandomnomics é a chamada “BTS Economy”. O grupo de K-pop movimenta bilhões de dólares por ano não apenas com música, mas também com produtos licenciados, colaborações de moda, campanhas publicitárias e turismo na Coreia do Sul.
Por que o fandomnomics importa para o varejo?
O fandomnomics muda a forma como entendemos o consumo. Em vez de enxergar os clientes apenas como indivíduos isolados, ele mostra o valor das redes de conexões sociais que se formam em torno de uma marca ou produto.
Para o varejo, isso significa que o valor da marca vai além do produto. O fandom mostra que a identidade simbólica é tão importante quanto a qualidade do item. O consumidor compra para se sentir parte de algo maior. Se bem compreendido, o comportamento de um fandom permite prever picos de consumo, planejar estoques e criar estratégias de escassez controlada.
Como as marcas podem se conectar com fandoms?
Para aproveitar o potencial do fandom e do fandomnomics, as marcas devem agir de forma estratégica e autêntica. Algumas dicas práticas:
- Escute a comunidade: entender as necessidades e desejos dos fãs é o primeiro passo para criar produtos relevantes.
- Ofereça exclusividade: edições limitadas, pré-vendas e itens colecionáveis são altamente valorizados.
- Crie experiências: envolva os fãs em eventos, ativações digitais e interações criativas.
- Seja autêntico: fãs percebem quando uma marca tenta apenas se aproveitar do movimento sem entregar valor genuíno.
- Construa narrativas: storytelling é uma ferramenta poderosa para engajar comunidades e manter o interesse ao longo do tempo.
Imagem: Hanny Naibaho/Unsplash