Economia

Guerra comercial de Trump impacta cadeia de suprimentos dos EUA durante as compras de fim de ano

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A guerra comercial conduzida pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já apresenta reflexos concretos na cadeia de suprimentos do país durante a temporada de compras de fim de ano, segundo a mais recente edição da CNBC Supply Chain Survey, realizada entre 4 e 11 de dezembro com empresas de logística, embarcadores de carga e varejistas.

O levantamento indica que vestuário e calçados lideram a movimentação de produtos na cadeia logística norte-americana, enquanto categorias como móveis de alto padrão e itens de luxo, tanto aspiracionais quanto tradicionais, apresentam perspectiva mais fraca. Ainda assim, o consumo manteve níveis próximos aos registrados em 2024, apesar das tarifas e das preocupações dos consumidores com preços.

De acordo com a pesquisa, 44% dos entrevistados afirmaram que mais produtos deixaram armazéns e centros de distribuição em comparação com o mesmo período do ano passado. Um terço relatou queda nos volumes, enquanto a maioria dos que observaram crescimento apontou aumento entre 5% e 10%. Os dados também mostram que os estoques estão, em geral, dimensionados para dois a três meses, com cerca de um terço das empresas mantendo apenas algumas semanas de mercadorias armazenadas.

Os fluxos de saída de produtos evidenciam diferenças claras entre categorias. Itens domésticos, vestuário e produtos promocionais lideram o desempenho positivo, enquanto móveis e bens de luxo figuram entre os segmentos com menor demanda. No comércio eletrônico, o cenário é semelhante. Segundo o levantamento, 53% dos entrevistados reportaram crescimento anual nos volumes de e-commerce, enquanto apenas 18% registraram retração, com o restante apontando estabilidade.

Apesar das tensões comerciais e da volatilidade tarifária, o setor conseguiu sustentar o desempenho no pico das vendas. “Apesar da guerra comercial e da volatilidade das tarifas, varejistas e marcas superaram obstáculos, capturaram a demanda dos clientes durante o período de pico e alcançaram volumes comparáveis aos do ano passado”, afirmou Kraig Foreman, presidente de e-commerce da DHL Supply Chain North America.

A trégua comercial anunciada no fim de outubro entre Estados Unidos e China, negociada entre Trump e o presidente chinês Xi Jinping, teve impacto limitado sobre a cadeia logística. Segundo a pesquisa, não houve uma nova corrida por recomposição de estoques para o fim de ano, já que os varejistas se mostraram confortáveis com os volumes antecipados a partir de junho e julho, após a redução inicial de tarifas anunciada em abril.

Volatilidade deve continuar em 2026

O estudo aponta que a volatilidade da cadeia de suprimentos deve persistir em 2026, mesmo com a resiliência do consumo e uma inflação menor do que o esperado por parte dos economistas em relação às tarifas. O cenário para volumes de frete permanece misto, assim como a perspectiva de preços no varejo.

“Após um ano marcado por instabilidade, gestores de compras e logística estão agindo com cautela à medida que entramos em 2026”, disse Stephen Lamar, presidente da American Apparel and Footwear Association. “Tarifas persistentes e incertezas continuarão a dificultar a capacidade das cadeias de moda de evitar custos elevados que acabam sendo repassados aos consumidores americanos na forma de preços mais altos”, acrescentou.

A pesquisa também mostra retração nas importações dos Estados Unidos. Dados da empresa de inteligência logística Sonar indicam queda de 18% no volume de contêineres globais destinados ao país em comparação com o ano anterior, reflexo do encarecimento da recomposição de estoques. Para o quarto trimestre, 42% dos entrevistados afirmaram que os volumes de frete permaneceram estáveis, enquanto 24% registraram queda e 34% algum nível de crescimento. Para o início de 2026, as expectativas se dividem entre aumento (52%) e estabilidade ou queda (48%).

Michael Aldwell, vice-presidente executivo de logística marítima da Kuehne+Nagel, avalia que o mercado continuará instável. “Em 2026, esperamos que o mercado continue volátil devido a tensões comerciais, incertezas geopolíticas e excesso de oferta, à medida que novos navios porta-contêineres forem incorporados nos próximos dois anos em um momento de desaceleração da demanda”, afirmou.

Embora não representem a maioria, 43% dos respondentes classificaram o mercado de frete como em recessão ou próximo de entrar em recessão em 2025. “Estamos projetando um aumento contínuo na saída de transportadoras rodoviárias devido aos menores volumes de carga”, disse Paul Brashier, vice-presidente de cadeia global da ITS Logistics.

Adoção crescente de inteligência artificial

Todos os participantes da pesquisa afirmaram que pretendem ampliar o uso de inteligência artificial em suas operações logísticas. As principais aplicações citadas foram análises preditivas, gestão de estoques, otimização de rotas, automação de armazéns, precificação dinâmica e robôs baseados em IA.

“Visibilidade é um fator decisivo, e o planejamento precisa incluir tanto a infraestrutura física quanto a digital”, afirmou Aldwell. Segundo ele, a adoção de tecnologia e IA permite estruturar dados para apoiar decisões e automatizar fluxos complexos, embora muitos varejistas ainda enfrentem falta de visibilidade integrada entre lojas e centros de distribuição.

No planejamento logístico, empresas também estão revisando suas estratégias de estoque. “Elas estão migrando de modelos ‘just-in-case’ da era da pandemia para abordagens híbridas, que limitam custos de carregamento e posicionam produtos mais próximos dos clientes”, explicou Noah Hoffman, vice-presidente de transporte terrestre na América do Norte da C.H. Robinson.

A empresa relatou crescimento no uso de agentes de IA por parte de seus clientes. “Construímos uma frota com mais de 30 agentes de IA que executam milhões de tarefas de transporte, desde cotações até rastreamento”, disse Hoffman. “Cotações são entregues em 32 segundos. Um pedido que antes levava até quatro horas para ser processado agora é concluído em 90 segundos. O tempo é dinheiro em cada etapa”, acrescentou.

Redefinição global das cadeias de suprimentos

O levantamento também aponta mudanças estruturais na origem das cadeias globais. Mais de 90% dos respondentes afirmaram que o sourcing continua em transformação, com destaque para países do Sudeste Asiático, como Vietnã, Malásia, Camboja e Tailândia, além da Índia e de países da América Latina, como México, Brasil e Colômbia.

Segundo Amanda Rasmussen, diretora comercial da DHL Global Forwarding, novas áreas ganham relevância. “Mercados como México e Turquia estão ganhando impulso com o nearshoring. Países do Sudeste Asiático se beneficiam da diversificação em relação à China, enquanto China, Índia e Arábia Saudita continuam atraindo investimentos domésticos e estrangeiros”, afirmou.

A pesquisa também indica continuidade do reshoring para os Estados Unidos, com 53% dos entrevistados esperando aumento dessas iniciativas como resultado das tarifas. Para Rasmussen, setores como logística para data centers, ciências da vida e saúde seguem como vetores de crescimento, especialmente no transporte aéreo, enquanto a demanda por frete marítimo deve se manter elevada no período que antecede o Ano Novo Chinês.

Imagem: Reprodução
Informações: Lori Ann LaRocco para CNBC
Tradução livre: Central do Varejo

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