Colunistas
Impressões sobre o Pós-NRF
De volta ao Brasil, trago boas impressões sobre o que tive oportunidade de ouvir e conhecer na NRF, a maior feira do varejo, que acontece todos os anos em janeiro, na Cidade de Nova Iorque.
Foram muitas as informações lançadas ao mesmo tempo, em diversos ambientes, bombardeando o cérebro dos passantes e, muitas delas, como se fossem bexigas cheias d´água sendo atiradas em nossas cabeças. Um choque inicial e um banho de água fria.
Confesso que sofri do medo de perder as informações (FOMO – fear of missing out), mas segui as trilhas dos assuntos que mais me interessaram e deixei o resto para os mestres em varejo (obrigada, grupo Omnibiz). Claro que me dirigi às Keynotes sessions (que são aquelas que dão o “tom” do evento), sobre as quais tive minhas impressões pessoais, justamente as que quero aqui compartilhar.
Não falarei do varejo em si, porque, como disse, deixo aos mestres.
Mas falarei da minha impressão sobre uma mudança que julgo ser das mais relevantes para o cenário dos próximos anos: a sustentabilidade.
O tema sustentabilidade é, com muita frequência, mencionado nas palestras das NRF´s, mas sempre com um tom de aproximação da marca com o seu cliente, o que o deixava sob o pilar do branding.
Porém, embora não tenha sido dito às claras e em voz alta, o rumo da conversa se alterou significativamente e acredito que a “sustentabilidade” tenha atingido, finalmente, o lugar onde sempre deveria ter estado, sob o pilar de sobrevivência da empresa, de continuidade do negócio.
Essa mudança para mim não passou desapercebida, porque era possível entender que empresas como Walmart (61 anos de existência); Levi’s (170 anos de existência); Pepsico (65 anos de existência estavam – e estão – realmente preocupadas com os anos vindouros, receosos mesmos, sobre existirem daqui a alguns anos.
As mudanças propagadas por estas gigantes durante suas palestras, davam conta desse receio – ao menos assim senti e entendi – e as medidas adotadas estavam, em sua maioria, atreladas a como estarão atuando nos próximos anos.
Ao se alterar a forma como se trabalha o assunto Sustentabilidade, altera-se absolutamente o foco do trabalho. Se antes estava sob o pilar do branding, passando para o pilar de continuidade de negócios, as ações são diferentes e o vigor e profundidade das discussões se altera de maneira brutal.
Para ajudar a ilustrar essa noção, quando uma empresa de 170 anos põe o tema sustentabilidade sob o pilar do branding, é como uma pessoa idosa vestir-se com roupas de garoto(a) pretendendo com isso alterar sua imagem e, consequentemente ter acesso aos mais jovens, mesmo fazendo e vivendo tudo como antigamente. Pode dar certo por um tempo, mas não é e nunca será o suficiente.
Ao alocar o tema sob o pilar de continuidade de negócios, essa empresa passa a ter discussões muito mais profundas, porque não se trata sobre conversar com jovens, mas sim, de fazer parte de suas vidas, conquistando-os de forma definitiva.
E de onde vem esse receio? Certamente de uma forçada humildade trazida pela pandemia, o que as fez repensar sobre os riscos que não foram devidamente mapeados na época, e, além disso, o dado de que 75% da geração Z (aqueles nascidos entre 1997 e 2015) valoriza a sustentabilidade mais do que valoriza a marca em si.
A pandemia trouxe à tona diversas fragilidades, não importando o tamanho da empresa. Claro que quando esse abalo acontece, as estruturas internas das companhias se movem, detonando uma cadência sobre “como nunca mais queremos passar por isso”, forçando o assunto para a esfera preventiva e trazendo as áreas para essa conversa. Considerando que a Geração Z ou a GenZ é a futura consumidora, se ela deixar de consumir determinado produto de determinada empresa, essa corre o risco real de deixar de existir; eis a razão pela qual a sustentabilidade deixou de ser uma roupa jovem num corpo velho. Pelo menos essa foi o que extraí do que assisti e espero, sinceramente, que aos que estiverem lendo esse artigo, entendam a importância de colocar assuntos tão relevantes nas devidas “caixas”.
Thais Kurita é advogada especializada em franchising e varejo, sócia da Novoa Prado & Kurita Advogados. O escritório Novoa Prado & Kurita Advogados está no mercado há 35 anos, prestando serviços de Direito Empresarial, especificamente em Varejo e Franchising. Atua nas áreas de Franquia (com expertise em relacionamento de redes e contencioso); Direito Empresarial, Imobiliário e Societário; Tributário e Contencioso Cível; Contratos, Compliance e Varejo e Propriedade Intelectual. Tem como sócias Melitha Novoa Prado e Thaís Kurita. Juntas, elas coordenam uma equipe dinâmica, comprometida e capacitada para oferecer aos clientes as melhores soluções jurídicas para seus negócios.