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‘Informação sobre os consumidores permite lançamento mais assertivo’
Rodrigo Haddad, diretor de E-commerce da Ambev, detalha como o tema inovação vem sendo trabalhado dentro da empresa
Inovar é ao mesmo tempo uma necessidade e um grande desafio para as empresas. Porém, no caso de uma gigante do mercado, esse desafio é ainda maior. Em entrevista exclusiva à Central do Varejo, Rodrigo Haddad, diretor de E-commerce da Ambev, detalha sua visão sobre digitalização e fala sobre como esse processo está sendo trabalhado dentro da companhia, que recentemente ingressou no mercado de vinhos e vem desenvolvendo produtos ao redor do mundo com base no estudo de hábitos do consumidor. Veja a seguir.
Como você vê esse movimento do consumidor ser cada vez mais digital?
O consumidor brasileiro é muito presente na internet. Por mais que 50 milhões de pessoas ainda não usem, os que utilizam passam mais de 10h online, especialmente em redes sociais, enquanto a média global fica um pouco acima de 6h. Então essa é uma tendência irreversível, e as empresas precisam se posicionar. Existe uma curva de maturidade no e-commerce que começa pelo entretenimento, através do consumo de músicas e filmes. Depois, vem os serviços, como passagens aéreas e hospedagem. Na sequência, os bens duráveis, como linha branca e eletrônicos, que são aqueles que envolvem um planejamento antes da compra. O Brasil está chegando em um nível muito interessante que é o dos bens não duráveis e dos perecíveis, como frutas, legumes, verduras, que demandam uma grande confiança para comprar online, pois o item pode inclusive vir estragado.
De que maneira o e-commerce e o varejo fornecem informações importantes sobre os clientes e como isso pode ajudar no desenvolvimento de produtos?
A indústria sempre fez o papel de vender para o varejo, e o varejo repassar para o consumidor final. Tende a continuar assim, mas a indústria cada vez mais se interessa pelo cliente para fomentar seu processo de inovação. Quem entende seu público desenvolve produtos que conversam melhor com ele, e assim as vendas do varejo também melhoram. Na China, temos uma parceria tão forte com o Alibaba que passamos anos estudando o comportamento do consumidor, qual a composição da cesta quando ele compra cerveja, a sazonalidade, os dias da semana, horários, o que comenta nas reviews. A partir disso, resolvemos lançar cerveja com suco de frutas com exclusividade no Alibaba. Era algo que nunca havíamos pensado, mas em pouco se tornou o produto número um no principal varejista online do mundo. A informação nos permite fazer lançamentos mais assertivos.
E no Brasil, a Ambev tem algum exemplo similar a esse?
Estamos lançando agora a categoria de vinho no Brasil. Conversamos com grandes varejistas nacionais e vimos um grande potencial nesse mercado. O brasileiro consome 1,9 litro por ano, enquanto na Argentina se chega a tomar 20 litros. Imagina se a gente chegar perto disso. Ao mesmo tempo, é uma categoria muito fragmentada e que investe pouco no varejo, sem grandes anunciantes. Vendo essa necessidade de um player relevante, adquirimos uma vinícola em Mendoza, na Argentina, lançamos 17 rótulos há cerca de dois meses e estamos com resultados impressionantes. Queremos ajudar a desenvolver esse mercado e contribuir com a educação do brasileiro no consumo de vinhos.
Como foi o processo de transformação interna para que uma gigante como a Ambev pudesse entrar nesse novo mercado de vinhos?
Tivemos um processo de inovação muito interessante nos últimos anos. Começamos com um braço de inovação que funcionava como incubadora de novos negócios. Com isso, entramos no mercado das cervejas especiais e aprendemos muito sobre esse universo. Outra iniciativa foi a ZTech, nosso braço de M&A que visava startups voltadas para digitalizar pequenos e médios negócios. Fizemos uma série de investimentos com esse foco, incluindo CRMs, marketplaces, energia renovável e até fintechs. Se reinventar e colocar a inovação aberta no cerne do negócio fez parte do processo de transformação digital. E somos uma empresa acostumada a inovar, é algo que já faz parte do nosso DNA. A transformação digital é 60% pessoas, 30% processos e 10% tecnologia. É preciso ter um ambiente com pessoas treinadas e processos flexíveis para que eles estejam abertos e possam lidar com as novas tecnologias.
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