Comportamento
Maioria dos colaboradores recorre a medicamentos para saúde mental, diz pesquisa

A 7ª edição da Pesquisa Inteligência Emocional e Saúde Mental no Ambiente de Trabalho, realizada pela The School of Life, em parceria com a Robert Half, traz um alerta importante: a maioria dos colaboradores está recorrendo a medicamentos para lidar com estresse, ansiedade e burnout. Entre líderes, o número saltou de 18% (2024) para 52% (2025). Já entre liderados passou de 21% para 59%.
A pesquisa também revela que 27% dos líderes e 26% dos liderados receberam diagnóstico de estresse, ansiedade ou burnout no último ano. E isso traz impacto na realidade de trabalho: 86% dos executivos e 87% dos trabalhadores acreditam que o bem-estar mental influencia diretamente no desempenho profissional.
Entre os líderes entrevistados, que se deparam com a tarefa de zelar pela saúde mental de seus liderados, apontam como principais obstáculos identificar sinais de sofrimento (24%) e equilibrar demandas/carga de trabalho (22%).
“Os remédios podem ser aliados, mas não podem ser a única resposta. O crescimento tão rápido no uso dos medicamentos mostra que as empresas precisam rever sua cultura, seu modelo de gestão e suas relações humanas. Afinal, é o ambiente de trabalho que, muitas vezes, adoece ou fortalece seus profissionais”, diz Saulo Velasco, psicólogo e head de aprendizagem da The School of Life.
O tabu e a dificuldade de assumir vulnerabilidades
Mesmo diante desse cenário, falar sobre saúde mental ainda é um grande desafio no ambiente corporativo. Muitos profissionais preferem silenciar sobre o uso de medicação por medo do julgamento ou da falta de apoio: 73% dos gestores e 33% dos colaboradores nunca contaram às suas lideranças sobre o uso da medicação.
E isso tem um motivo: quando o assunto é trazido à tona, as reações nem sempre são acolhedoras: 5% dos líderes e 17% dos liderados relatam indiferença ou desconforto dos gestores. Ou pior: 1% e 6%, respectivamente, receberam respostas negativas ou punitivas.
“Quanto mais alto o cargo, menor o espaço para assumir vulnerabilidades. Culturalmente, espera-se que gestores não demonstrem fragilidade, o que agrava o isolamento emocional e impede conversas honestas sobre saúde mental. Esse silêncio expõe empresas a riscos éticos, legais e psicossociais — exatamente quando deveriam estar avançando em ações concretas para bem-estar, como exige a NR-1 atualizada”, destaca Diana Gabanyi, CEO e Head de Experiências Corporativas da The School of Life.

Empresas ainda estão atrasadas no cumprimento da nova norma
Apesar da urgência, a adequação à NR-1 segue em ritmo lento: apenas 33% dos profissionais em cargos de chefia e 22% dos trabalhadores em outras posições afirmam que suas empresas já têm estratégias práticas para prevenir riscos psicossociais. O restante se divide entre “ainda não vi aplicação”, “não temos” ou “não sei”.
“É preocupante ter certeza do despreparo de uma parcela significativa das empresas com relação à atualização da NR-1. Para além do risco diante das possibilidades de multas e sanções, é fundamental que as organizações busquem a adequação por uma questão de responsabilidade social, de gestão consciente de pessoas e de sustentabilidade do negócio”, ressalta Maria Sartori, diretora da Robert Half.
Os resultados da pesquisa reforçam que saúde mental deixou de ser tema periférico, pois impacta a performance, o clima organizacional e a sustentabilidade das empresas. Enquanto cresce o uso de medicamentos e diagnósticos, ainda falta preparo estrutural, acolhimento e ações consistentes para prevenção.
“Cultivar ambientes mais positivos, que escutem as demandas das pessoas e valorizem a força de trabalho, tornou-se algo inegociável. Para além dos ganhos óbvios em engajamento e produtividade, é preciso considerar a alta disputa por profissionais com qualificação. Se, por um lado, profissionais talentosos evitam ambientes tóxicos, por outro, culturas saudáveis são um fator decisivo no aceite de uma proposta ou na retenção de colaboradores estratégicos para o negócio”, completa Sartori.
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