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Nearshore: o que é, como funciona e por que interessa ao varejo

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No universo do varejo, especialmente aquele que atua de forma global ou com fornecedores e serviços distribuídos, o conceito de “nearshore” tem ganhado cada vez mais relevância. A palavra-chave aqui é “proximidade” e, quando bem aplicada, esse modelo pode trazer vantagens concretas para empresas que buscam eficiência, flexibilidade e redução de custos.

A seguir você encontrará uma explicação detalhada sobre o que é nearshore, como funciona, quais são suas principais vantagens e desvantagens, além de considerações aplicadas ao varejo.

O que significa “nearshore”

O termo Nearshore (ou “nearshoring”, “near-shore”) refere-se à terceirização ou alocação de serviços, processos ou desenvolvimento para um país ou região próxima à empresa contratante, geralmente com fuso horário, cultura ou idioma semelhantes. No contexto de tecnologia da informação, por exemplo, uma empresa dos EUA pode contratar equipes no México ou América Central; empresas europeias podem contratar parceiros na Europa Oriental. Em resumo, é uma alternativa entre o on-shore (serviços no mesmo país) e o off-shore (serviços em regiões bem distantes).

Para o varejo, o conceito pode aplicar-se não apenas à TI, mas também a serviços de atendimento ao cliente, logística, manufatura ou back-office que estejam relativamente próximos geograficamente, de modo a facilitar comunicação, visitas e alinhamento. Em muitos casos, o nearshore pode significar trabalhar com países da América Latina ou de regiões que compartilham fuso horário, o que minimiza distâncias operacionais.

Como funciona o modelo nearshore

No modelo nearshore o varejista ou empresa contrata uma parceira externa ou estabelece um centro de serviços em um país próximo. Esse parceiro lida com processos definidos, por exemplo atendimento de call-center, desenvolvimento de software para e-commerce, manutenção de sistemas de logística ou outras atividades de apoio. O contrato normalmente define níveis de serviço, entregas periódicas, comunicação estruturada (via videoconferência, ferramentas de colaboração), e alinhamento de fuso horário para que a integração seja relativamente “como se estivesse no mesmo país”.

Por exemplo, segundo uma publicação especializada, o processo de nearshore inclui a avaliação do que será terceirizado, a escolha de fornecedor, definir o escopo e o modelo (dedicado ou compartilhado) e depois acompanhar a execução com forte governança.

Na prática, para o varejo isso pode significar que a equipe de TI ou de suporte do e-commerce está em um país vizinho, permitindo comunicação quase em tempo real, visitas periódicas, melhor alinhamento de cultura e fuso. Essa proximidade favorece adaptações ágeis à demanda (por exemplo em épocas de pico como Black Friday) e maior controle.

Vantagens do nearshore

Uma das grandes vantagens do nearshore é exatamente o equilíbrio entre custos, qualidade e proximidade. Entre os principais benefícios identificados estão economia de custos em relação ao on-shore; fuso horário e proximidade para comunicação mais eficiente; afinidade cultural; maior facilidade de deslocamento para reuniões presenciais; acesso a talentos especializados próximos; e menor risco de barreiras geográficas.

No setor varejista, isso se traduz em algumas implicações práticas: por exemplo, poder ativar com mais rapidez um time de suporte para o e-commerce; ter melhor alinhamento com estratégias promocionais; permitir que o fornecedor perto acompanhe o ciclo de vendas ou logística com mais sincronia. Dados recentes apontam que regiões como a América Latina têm se consolidado como destinos nearshore para empresas norte-americanas por conta da proximidade de fuso horário e do custo competitivo.

Outra vantagem é a flexibilidade e escalabilidade: em períodos de demanda elevada o parceiro nearshore pode aumentar a equipe com mais rapidez do que um time interno ou uma solução muito distante. Além disso, a afinidade cultural e de idioma reduz o risco de falhas de comunicação, algo crítico em varejo onde a experiência do cliente ou o atendimento logístico podem impactar diretamente nas vendas.

Também vale mencionar que para processos que exigem confidencialidade ou conformidade regulatória, trabalhar com países próximos ­(que possivelmente compartilham regimes regulatórios ou tratados de proteção de dados similares) pode ser menos arriscado do que deslocar operações para extremos geográficos.

Desvantagens e riscos do nearshore

Apesar das vantagens, o nearshore não é isento de desafios e esses merecem atenção no varejo. Uma das principais desvantagens é que, embora apresente economia de custos em relação ao on-shore, geralmente ela é menor do que em um modelo off-shore onde salários e encargos podem ser muito inferiores. Ou seja, se o foco for exclusivamente minimizar custos ao máximo o off-shore ainda pode parecer mais atraente.

Outra limitação é a disponibilidade de talentos muito especializados ou em nichos extremamente competitivos: em regiões próximas pode haver escassez ou maior concorrência por profissionais de alto nível, o que encarece ou compromete a qualidade da entrega.

Em termos de comunicação, embora seja melhor que no off-shore, ainda podem existir variações de idioma, dialeto ou estilo de trabalho, especialmente se o país parceiro tiver diferença cultural mais acentuada. Isso pode traduzir-se em mal-entendidos ou desalinhamento, especialmente em operações de varejo que exigem muito dinamismo.

Também há o risco de custos “ocultos” como visitas, deslocamentos, adaptação de processos, governança mais intensa ou problemas de compliance que não tinham sido considerados inicialmente, o que pode reduzir a vantagem econômica.

Por fim, se a empresa terceiriza processos centrais demais, cria-se uma dependência considerável do parceiro. Se houver instabilidade desse parceiro ou mudança de escopo, o varejista pode sofrer impacto severo. Esse risco vale especialmente para operações que entram no core business ou atendimento ao cliente de primeira linha.

Relevância para o varejo brasileiro

No contexto brasileiro, o varejo enfrenta desafios como sazonalidade forte (promoções, datas comemorativas, Black Friday, Natal), necessidade de agilidade (lojistas multicanal, marketplaces, logística integrada) e pressão por eficiência (custos de TI, atendimento, logística, omnichannel). O modelo nearshore pode ser um caminho interessante para varejistas que têm operações regionais ou que trabalham com fornecedores/serviços em outros países da América Latina, ou que consideram expandir para mercados latino-americanos.

Por exemplo, um varejista brasileiro que expande para países vizinhos pode usar um centro de serviços nearshore para atendimento ou TI, aproveitando fusos horários semelhantes e custos menores do que expandir para Europa ou para Ásia.

Além disso, no contexto pós-pandemia, muitos varejistas aceleraram sua transformação digital e buscaram parceiros mais próximos para reduzir riscos de cadeia de suprimentos e acelerar entregas ou atendimento. O nearshore se encaixa neste perfil de proximidade + agilidade.
Por outro lado, é preciso que o varejista avalie cuidadosamente se o parceiro escolhido tem maturidade, qualidade, boa compreensão de varejo e fluência em processos de e-commerce, logística ou atendimento. A seleção de país/região, profundidade de expertise têm de pesar tanto quanto o custo-horário.

Boas práticas para adotar o nearshore com sucesso

Para que o modelo funcione bem, o varejista precisa implementar algumas boas práticas. Deve definir claramente qual parte do processo será terceirizada e com quais níveis de serviço (SLA).

Deve também garantir que haja alinhamento de fuso horário, idioma, cultura e metodologia. A governança é fundamental: revisões periódicas, visitas presenciais, métricas claras. Outro ponto é escolher fornecedor que compre o varejo: temas como picos de demanda, logística reversa, atendimento multicanal têm especificidades.

Também é recomendável criar um plano de riscos e contingências (caso o parceiro falhe ou tenha problemas), além de calibrar internamente como será a interação entre o time interno e o parceiro nearshore. Isso melhora a integração e reduz ruídos.

Por fim, o varejista deve tratar esse parceiro quase como extensão do negócio, com comunicação frequente, envolvimento em planejamento (promoções, datas comemorativas) e não apenas como “fornecedor remoto”.

Considerações finais

O modelo nearshore representa uma alternativa estratégica para o varejo que busca reduzir custos, ganhar agilidade e operar com maior proximidade em termos de fuso horário, cultura e logística. Ele permite um equilíbrio interessante entre os extremos de operar tudo internamente ou terceirizar para regiões distantes. No entanto, exige seleção criteriosa de parceiro, governança forte e alinhamento com os objetivos do negócio. Se bem implantado, o nearshore pode tornar-se um diferencial competitivo para varejistas que enfrentam ambientes cada vez mais digitais, multicanal e globais.

Para que o nearshore seja efetivamente incorporado à estratégia de varejo, vale pensar além do custo imediato e enxergar como parte de uma cadeia operacional adaptada ao ritmo atual do consumo, da experiência do cliente e da transformação digital.

Imagem: Freepik

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