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Se sou “franqueado” de uma marca, posso ser considerado um “empreendedor”?

Se sou “franqueado” de uma marca, posso ser considerado um “empreendedor”?
Essa pergunta já me fizeram algumas vezes.
No franchising usamos comumente o termo “FRANQUEADO”, algumas vezes “PARCEIRO”, até mesmo “OPERADOR”, mas de fato não é tão comum usar o termo “EMPREENDEDOR” quando queremos citar um franqueado ou fazer alusão ao mesmo.
Por que será que isso acontece?
Geralmente, o empreendedor é visto como aquele que desbravou algo, que começou algo do “zero”, que inventou, que criou uma marca, abriu uma nova empresa, e assim por diante. É bem comum que, quando vamos nos dirigir ao fundador de uma rede de franquias ou de uma marca, que é chamado de FRANQUEADOR, usarmos o termo “EMPREENDEDOR” daquela rede ou marca, mas não vejo ser tão comum usar esse mesmo termo ao falar de um “FRANQUEADO”.
E então, o “FRANQUEADO” pode ou deve ser considerado um “EMPREENDEDOR” na essência?
Antes de responder, vamos descrever um pouco o conceito individual de cada uma dessas nomenclaturas, para gerar uma reflexão e conclusão:
EMPREENDEDOR
A palavra empreendedor vem do francês entrepreneur e significa alguém que identifica oportunidades, assume riscos e mobiliza recursos para criar e desenvolver um negócio, projeto ou inovação. O empreendedor não apenas inicia algo novo, mas também busca soluções para desafios, gerando impacto econômico e social. Essencialmente, é alguém proativo, criativo e determinado a transformar ideias em realidade.
Os principais desafios de um empreendedor no Brasil incluem:
- Burocracia excessiva – Abrir e manter um negócio exige lidar com inúmeros documentos, licenças e regulamentações.
- Alta carga tributária – Os impostos elevados e complexos dificultam o crescimento e a lucratividade.
- Dificuldade de acesso a crédito – Muitos empreendedores enfrentam juros altos e exigências rigorosas para conseguir financiamento.
- Instabilidade econômica e política – A inflação, variação cambial e mudanças nas leis afetam diretamente os negócios.
- Concorrência acirrada – Destacar-se no mercado exige inovação e estratégias eficientes.
- Dificuldade na gestão financeira – Muitos negócios fecham por falta de controle sobre fluxo de caixa e planejamento.
- Falta de mão de obra qualificada – Encontrar e reter talentos pode ser um desafio, especialmente em setores especializados.
- Adaptação à tecnologia – Digitalização e inovação são essenciais, mas nem todos os empreendedores têm conhecimento ou recursos para investir nisso.
- Insegurança jurídica – Mudanças frequentes na legislação podem impactar contratos, tributos e direitos trabalhistas.
- Manter-se resiliente – A incerteza e os desafios constantes exigem muita persistência, criatividade e capacidade de adaptação.
FRANQUEADO
A palavra “franqueado” possui alguns significados, mas no contexto de negócios e franquias, refere-se a:
- Aquele que recebe uma franquia: É a pessoa física ou jurídica que adquire o direito de usar a marca, o sistema operacional e o know-how de uma empresa franqueadora para operar um negócio. O franqueado paga taxas à franqueadora em troca desse direito e do suporte oferecido.
- Que recebeu permissão ou licença: Em um sentido mais amplo, “franqueado” pode se referir a alguém que obteve permissão para realizar alguma atividade ou explorar algo.
Em resumo, no mundo das franquias, o franqueado é o empresário que investe em uma marca já estabelecida, seguindo um modelo de negócios predefinido e recebendo suporte da empresa franqueadora para operar sua unidade.
Abrir uma franquia no Brasil pode ser uma ótima oportunidade de negócio, mas também apresenta desafios que precisam ser bem gerenciados para garantir o sucesso. Aqui estão alguns dos principais desafios para um franqueado no Brasil:
- Capital Inicial e Custos Operacionais
- O investimento inicial pode ser alto, dependendo da marca.
- Taxas de franquia, royalties e fundo de propaganda podem impactar o fluxo de caixa.
- Custos operacionais como aluguel, folha de pagamento e insumos devem ser bem controlados.
- Escolha da Localização
- Um ponto comercial mal escolhido pode comprometer o faturamento.
- Concorrência local e fluxo de clientes devem ser analisados antes da decisão.
- Aluguel elevado pode prejudicar a rentabilidade do negócio.
- Gestão Financeira e Capital de Giro
- Muitos franqueados subestimam a necessidade de capital de giro.
- Controle financeiro rigoroso é essencial para evitar problemas de fluxo de caixa.
- Precificação e margens devem ser bem calculadas para garantir lucro.
- Cumprimento de Padrões da Franqueadora
- As regras e exigências da franqueadora podem ser rígidas.
- Nem sempre há flexibilidade para adaptações ao mercado local.
- Qualidade do produto/serviço deve ser mantida conforme os padrões da rede.
- Gestão de Pessoas
- Encontrar e reter funcionários qualificados pode ser desafiador.
- Treinamento e alinhamento com os valores da marca são fundamentais.
- Turnover alto pode comprometer a qualidade do atendimento.
- Concorrência e Mudanças no Mercado
- O mercado pode mudar rapidamente, exigindo adaptação constante.
- Surgimento de novos concorrentes pode afetar a demanda.
- Mudanças na economia (inflação, juros, poder de compra) impactam o consumo.
- Burocracia e Carga Tributária
- O Brasil tem um sistema tributário complexo que exige conhecimento ou assessoria contábil.
- Licenças, alvarás e regulamentações podem gerar atrasos e custos extras.
- Obrigações trabalhistas e fiscais precisam ser rigorosamente cumpridas.
- Relacionamento com a Franqueadora
- Nem todas as franqueadoras oferecem suporte adequado.
- Falta de transparência e conflitos com a franqueadora podem dificultar a operação.
- Dependência de fornecedores homologados pode limitar margens de lucro.
- Marketing e Captação de Clientes
- Nem sempre a publicidade da rede atende às necessidades locais.
- O franqueado pode precisar investir em ações próprias para atrair clientes.
- Estratégias digitais e redes sociais são essenciais para fortalecer a presença da marca.
- Expectativas vs. Realidade
- Alguns franqueados entram no negócio esperando retorno rápido, mas muitas vezes o lucro vem a médio/longo prazo.
- A franquia exige dedicação e envolvimento direto na operação.
Agora que demos o significado de EMPREENDEDOR e FRANQUEADO, e listamos os desafios de cada um deles, observem que muitos pontos são comuns, tais como Concorrência, Carga tributária, Gestão Financeira e Capital de Giro, Dificuldade de Crédito, entre outros.
Exceção aos itens “Relacionamento com a Franqueadora” ou “Cumprimento de padrões da Franqueadora”, todos os demais tópicos são desafios comuns a ambos.
Sendo assim, aquela frase que diz que “EmpreendeDOR” tem DOR até no nome, é algo fácil de se traduzir e concordamos de imediato. E o franqueado, também tem quase que as mesma DORES, e poderia ter DOR no nome também, mas o “FranqueaDOR” já se apossou dessa nomenclatura, pelos desígnios da língua portuguesa, e está correto, o FRANQUEADOR também é um EMPREENDEDOR, na essência.
Com base em minha experiência, sem generalizar, mas em linhas gerais, vejo sim uma diferença constante no perfil do FRANQUEADO, com relação ao EMPREENDEDOR mais comum, e costumo chamar o FRANQUEADO de “EMPREENDEDOR MODERADO”. E porque?
Um EMPREENDEDOR comum, geralmente, tem uma ideia inovadora ou observa outros negócios prosperando, busca informações, desenvolve seu modelo e monta seu negócio. Avalia alguns riscos, mas geralmente se “joga” de cabeça e acredita que será sucesso com sua empreitada. O FRANQUEADO geralmente já observa franquias testadas, visita ou é cliente, busca informações com outros franqueados, e opta por uma franquia por ser um negócio já testado, que alguém já montou e majoritariamente teve sucesso, para daí sim investir naquela franquia. Ou seja, o FRANQUEADO geralmente procura “mitigar” riscos, diminuir as incertezas, e fazer algo com menor probabilidade de insucesso.
Os números do SEBRAE e do FRANCHISING no BRASIL mostram que, de fato, o numero de franquias que tem INSUCESSO é muito menor do que os micro e pequenos negócios independentes, ou seja, as franquias tem uma longevidade e assertividade maior, muito relacionado a já ter testado o modelo, o mercado, o público-alvo, feito diversos ajustes e daí sim expandindo com mais probabilidade de sucesso.
Porém, mesmo sendo considerado um “EMPREENDEDOR MODERADO”, muitos FRANQUEADOS aprendem como tocar um negócio, os principais desafios de empreender, e acabam expandindo negócios com sua franquia, com outras marcas, ou até mesmo criando negócios próprios. Ou seja, a franquia auxilia, inclusive, a explorar o espírito EMPREENDEDOR que o FRANQUEADO já tinha, mas precisava “testar”.
Ótimo, tenho visto FRANQUEADOS se tornando MULTIFRANQUEADOS de uma marca ou de várias marcas, e desenvolvendo novas ideias, novos negócios, startups e se tornando ainda mais EMPREENDEDOR do que nunca, e o FRANCHISING contribuindo para isso.
A conclusão então é de que “SIM”, o “FRANQUEADO” certamente deve ser considerado um EMPREENDEDOR, passa por quase todos os desafios e tem características semelhantes, além de desenvolver cada vez mais suas habilidades de empreendedorismo.
Alguns EMPRESÁRIOS preferem ser chamados de EMPREENDEDORES.
O FRANQUEADO, também pode se considerar um EMPREENDEDOR, com todos os méritos (e desafios) que essas palavras trazem embarcadas.
Imagens fornecidas por: Ivan Ferreira
*Ivan Ferreira é COO da Holding de franquias Japp, de João Appolinário, com as marcas de franquias Decor Colors, Polishop, Mega Studio, Wise Home e outras. É consultor de franquias e varejo com MBA de franquias da FIA/ABF, além de especialista em análise de franqueabilidade e canais, formatação e gestão. Master Franqueado de uma rede de açaí, também já contribuiu com os Comitês de BI, Moda, Food Service e Expansão da ABF.